Kissinger, o traidor
O homem que agora se condena por propor que se regresse ao statu quo anterior à guerra passou a ser descrito nos mesmos termos boçais com que na maioria dos media portugueses se descreve alguém que escreva no Avante!
É muito curiosa a fúria que por aí vai contra o velho Kissinger. Sobretudo considerando que ela se manifesta entre os mais fervorosos atlantistas que defendem a necessidade da supremacia ocidental por cima de qualquer princípio de gestão minimamente democrática e multilateral do sistema internacional - que é o mesmo que dizer por cima da Carta das Nações Unidas todas as vezes que os EUA e os seus aliados “tiverem” que a desrespeitar. Ela surge no momento em que parece começar a esgotar-se a fase inicial de cruzada antirrussa, na qual se vai tornando crescentemente indigesta a propaganda com que se manipulou História, ideologia e geopolítica de vulgata para dizer que Putin é simultaneamente soviético e czarista, Holodomor e Auschwitz, financiador de Le Pen e do PCP, ao mesmo tempo que se descreve o governo nacionalista ucraniano como modelo de democracia e o Batalhão Azov como um grupo de simples patriotas que teriam abandonado oito anos de retórica e parafernália neonazi e de perseguição contra minorias étnicas na Ucrânia.
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