Um novo caminho para a diabetes
No próximo dia 2 de Junho, o Instituto de Saúde Baseada na Evidência organiza, com o apoio da Boehringer Ingelheim e em parceria com o Público, a Conferência “A Governação da Diabetes em Perspectiva: (Re) Definir o Futuro”. Integrada na iniciativa D-Way, o objectivo passa por proporcionar um encontro que venha a traduzir-se numa visão ampla dos recursos e instrumentos de governação na diabetes, no sentido do desenvolvimento de melhores cuidados para as pessoas que vivem com diabetes em Portugal. Entrevistámos o Prof. Doutor António Vaz Carneiro, investigador principal desta iniciativa.
A diabetes, enquanto doença crónica, “é relevante e paradigmática. A relevância está por demais estudada, pela sua incidência, prevalência, pelos riscos acrescidos que traz por si só e através das doenças cardiovasculares, ou pelos custos que importa”, explica António Vaz Carneiro, investigador principal e presidente do Instituto de Saúde Baseada na Evidência (ISBE). Como paradigma, o também professor catedrático jubilado assinala “alguns aspectos, como o envolvimento e empoderamento da pessoa com diabetes, a literacia e autogestão da doença, o envolvimento de múltiplas especialidades médicas e múltiplos profissionais de saúde”, tal como acontece noutras doenças crónicas.
A exigência que várias situações podem requerer no contexto de multimorbilidade [presença de dois ou mais problemas de saúde numa mesma pessoa], polimedicação e de articulação de cuidados fazem com que a diabetes coloque exigências aos profissionais e ao sistema de saúde.
Os números são preocupantes. Esta doença afecta milhões de pessoas na Europa e um milhão em Portugal e é responsável por 8% a 10% da despesa em saúde no nosso País. Uma pessoa de meia-idade com diabetes pode morrer 15 anos mais cedo do que uma pessoa saudável e metade das pessoas com diabetes morre devido a doença cardiovascular.
Vivemos actualmente uma fase de discussão sobre a organização dos serviços de saúde no pós-Covid. “O Plano Nacional de Saúde está em discussão pública e, naturalmente, espera-se que decorram as propostas dos planos prioritários, entre os quais, a diabetes. Por outro lado, temos um quadro estável de governação a iniciar o seu ciclo. É um contexto muito promissor e o momento certo para esta iniciativa” destaca António Vaz Carneiro.
Conferência promove visão e aprendizagem conjunta
Para discutir estes temas, realiza-se no próximo dia 2 de Junho, entre as 14h30 e as 18h30, a Conferência “A Governação da Diabetes em Perspectiva: (Re) Definir o Futuro” onde será apresentado o relatório “Governação em saúde e diabetes: perspectivas, ferramentas e recursos”. Este é um projecto aberto e participativo que propõe recolher os melhores contributos de todos. “É também uma oportunidade para todos aqueles que têm contribuído para os cuidados na diabetes, nos diferentes níveis e contextos, possam colaborar na construção uma visão de futuro”, defende António Vaz Carneiro.
Através do levantamento de áreas e instrumentos de governação associados à diabetes, usados em diferentes países, a iniciativa realizou 25 análises que serão disponibilizadas como pequenos capítulos e identificou estudos de caso, com evidência de impacto e inovação em cada uma das áreas. “Este trabalho está a ser revisto e estamos a obter o contributo de vários profissionais, académicos e investigadores, peritos de diversas áreas”, acrescenta. Da conclusão deste trabalho, resultará um “portfólio” de instrumentos e recursos de governação que devem ser considerados para uma visão futura no desenvolvimento dos cuidados na diabetes. Após esta ferramenta de trabalho, seguir-se-á a discussão sobre as melhores opções para a realidade portuguesa. “Ao trazer análises, perspectivas e peritos de áreas tão diferentes, mas com o propósito de melhorar os cuidados na diabetes, constituirá um espaço onde teremos todos a aprender uns com os outros”, afiança o presidente do ISBE.
Após esta conferência, estarão reunidas as condições para que este seja o ponto de partida para uma visão conjunta entre os stakeholders e parceiros. A melhoria de cuidados, num contexto complexo como a diabetes, não pode deixar de passar por um “forte e contínuo trabalho entre sectores, agentes e áreas sociais. Este trabalho, ao ser uma base para a reflexão e para a construção de visões conjuntas, pode constituir o contexto ideal para iniciativas e compromissos conjuntos”. António Vaz Carneiro e os restantes elementos da organização desta iniciativa estão certos de que esta conferência abrirá várias possibilidades para o diálogo entre os vários sectores e agentes “na resposta a situações exigentes e complexas como a diabetes”, remata.
Governação em saúde e diabetes
António Vaz Carneiro explica que a governação tem estado centrada na identificação de problemas e na procura de soluções, bem como na melhoria das capacidades de resposta. “A saúde em geral e o sistema de saúde em particular são complexos: neste projecto, o ISBE mapeou instrumentos e recursos, de forma alargada, para uma consideração mais abrangente e integrada sobre como melhorar os cuidados.” Na tentativa de aprofundar os conceitos e os recursos de governação, a iniciativa não pretende que se faça “mais do mesmo” embora se deva fazer “cada vez melhor”. Para tal, há que considerar os esforços de todos com os seus próprios instrumentos e recursos, alguns com provas dadas noutros países e que possam também ser novas iniciativas de colaboração entre os vários agentes.
“Se considerarmos que os cuidados aos doentes diabéticos resultam de um conjunto vasto e complexo de decisões e decisores - desde os profissionais de saúde, aos administradores das organizações prestadoras de cuidados, até aos decisores políticos, e incluindo os próprios doentes - não há forma de a melhoria dos cuidados na diabetes não passar por uma melhor governação”, defende António Vaz Carneiro. Mas, a mesma deve ir mais longe do que o planeamento, acrescenta. “Deve ir também à gestão, à capacitação, à implementação, à monitorização e à avaliação onde a acção decorre: na consulta, no internamento e no dia-a-dia”. Todos os “acontecimentos da vida real” são determinantes.