Os vinhos que marcaram a minha vida: Vítor Sobral

O chef e homem do leme do grupo Esquina elege os vinhos da sua vida. Sempre com a respectiva companhia como denominador comum.

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Vítor Sobral fotografado no Seixal, onde nasceu Marisa Cardoso

Nasceu em casa, no Seixal, e foi lá que descobriu os princípios da cozinha. Na outra margem, em Lisboa, aprendeu a aplicá-los. Hoje, mais de três décadas passadas desde as primeiras experiências com tachos, está à frente do grupo Esquina, que abriu o quinto restaurante, nos Açores, confirmando um legado de sucesso. Nos últimos anos Vítor Sobral tem conjugado a gestão da própria marca com a organização de experiências gastronómicas para clientes externos e é no meio dessas andanças que volta e meia é chamado para conduzir jantares vínicos para e com produtores.

Fiel à sua terra de mar e guardador de um carinho especial pela margem sul do Tejo, não esquece o primeiro evento de vinhos que fez com Ermelinda Freitas, que lhe abriu a ideia e o paladar para os pairings de comida de panela com moscatel – sugestão que repetiria, anos mais tarde, na Herdade da Barrosinha, com o fortificado da casa.

Os vinhos que guarda na memória trazem o aroma de momentos felizes partilhados com amigos e família, provando que nem sempre é o que se bebe, mas com quem se escolhe beber.

Leo D'Honor Tinto, Casa Ermelinda Freitas

Quando se bebe um vinho que parece tão bruto no primeiro embate, não há como esquecê-lo, para o bem e para o mal. No caso, correu muitíssimo bem e ainda hoje, se me pedirem para sugerir um tinto, é neste vinhas velhas que penso. Há muitos anos, Leonor Freitas ofereceu-me umas garrafas e aconselhou-me a deixá-lo repousar pelo menos cinco anos. Quando as abri, o vinho estava soberbo. Imagino como teria ficado se lhes tivesse dado mais tempo.

Moscatel de Setúbal 30 anos, José Maria da Fonseca

Perdi a conta à variedade de moscatéis que provei na vida. Fazem-se coisas extraordinárias na Península de Setúbal. Este é um daqueles casos em que o vinho aparece para nos fazer felizes, sobretudo em momentos de partilha. Imagine-se um serão com amigos, um copo de moscatel refrescado – seria incapaz de estragá-lo com casca de limão e gelo – e um bom queijo. Fica logo tudo melhor. Este, gosto de casá-lo com queijo de Azeitão, sugestão que me fez há muitos anos o [enólogo Domingos] Soares Franco e que ainda hoje repito.

Catarina Branco, Quinta da Bacalhôa

Haverá, com certeza, gamas altas mais interessantes para quem aprecia vinhos mais trabalhados, mas este, para mim, é um branco seguro, infalível naquilo que se propõe e por isso sempre apropriado, seja à mesa ou só como aperitivo para acompanhar canapés. Simples e descomplexado, sem grande acidez e com fim de boca agradável, é exactamente o que procuro num vinho branco para todas as ocasiões.

AAA Premium Branco, Herdade da Comporta

Só de pronunciar a palavra “Comporta”, a minha memória vai imediatamente para as bancas de peixe e marisco do mercado de Setúbal, e vem-me à memória toda a azáfama que antecede a chegada do produto à cozinha. Se alguma vez bebi este vinho enquanto andava às compras? Não, mas a sensação de conforto e satisfação que retiro de ambos os momentos é muito semelhante.


Depoimento recolhido por Nelma Viana

Este artigo foi publicado no n.º 3 da revista Solo.

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