Russos querem recrutar gente mais velha para a guerra
O Parlamento russo está a considerar um projecto de lei para excluir o limite de idade no recrutamento, para poder contratar russos acima dos 40 anos e estrangeiros com mais de 30 anos. A Rússia precisa de mais homens porque “está convencida que ainda pode ganhar esta guerra”.
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A Rússia pretende alterar os limites de idade que actualmente vigoram no seu recrutamento para as forças militares, de modo a poder aumentar as suas forças sem a necessidade de esperar demasiado tempo para a sua formação. Esta sexta-feira, a Duma, câmara baixa do Parlamento russo, anunciou que estaria a considerar um projecto de lei nesse sentido, porque as forças militares do país “precisam de especialistas altamente profissionais”.
“Para a utilização de armas de alta precisão, a operação de armas e equipamentos militares, são precisos especialistas altamente profissionais. A experiência mostra que se consegue isso na faixa etária dos 40 aos 45 anos”, informava o site da Duma, citado pela Reuters.
As regras em vigor até agora davam como idades de recrutamento, as dos 18 aos 40 anos para russos e dos 18 aos 30 anos para cidadãos de outra nacionalidade.
“A Rússia continua convencida de que pode ganhar esta guerra”, afirma o historiador romeno Armand Gosu, especialista em políticas russas e história russa e da União Soviética da Universidade de Bucareste. “E está a fazer todos os possíveis para ganhar”, mas para isso precisa de homens para substituir as suas baixas e para fazer a necessária rotação dos seus homens da frente.
Segundo Gosu, Vladimir Putin estará a pensar agora num cessar-fogo que lhe “permitiria manter os territórios ocupados e lhe daria o tempo suficiente para renovar as suas capacidades militares e reatar a ofensiva contra a Ucrânia”.
Enquanto isso, na via político-diplomática, Moscovo passou esta sexta-feira na ofensiva, com o anúncio do corte de fornecimento de gás à Finlândia a partir deste sábado. A empresa finlandesa Gasum anunciou que foi notificada sobre a interrupção de fornecimento pela empresa russa Gazprom por se ter negado a pagar em rublos.
A Gasum explicou que a partir das 07h00 de sábado se compromete a manter o serviço com o gás que chega através do gasoduto Balticonnector, que liga à Estónia.
Ainda como medida de reacção ao pedido de adesão de Finlândia e Suécia à NATO, o Governo russo anunciou que irá abrir doze novas bases militares no Oeste do país por causa do “aumento da tensão” provocado pelo fim da neutralidade dos dois países nórdicos.
“Os nossos vizinhos mais próximos, Finlândia e Suécia, pediram para entrar na NATO. A tensão continua a aumentar na zona de responsabilidade do Distrito Militar Oeste”, afirmou o ministro da Defesa, Serguei Shoigu.
Até ao final deste ano serão criadas estas doze “unidades” e “subunidades”, com mais de 2 mil armas modernas e equipamento militar, segundo a agência de notícias russa Interfax.
“A situação na direcção estratégica Oeste caracteriza-se por um aumento das ameaças militares perto das fronteiras russas”, explicou o ministro, antes de considerar que “a Rússia está a responder com as contramedidas adequadas”.
As bases militares são também uma resposta mais ampla às actividades norte-americanas na região, nomeadamente o aumento dos sobrevoos de bombardeiros dos EUA na Europa – 15 vezes mais nos últimos oito anos, de acordo com Shoigu.
“As visitas ao mar Báltico de barcos norte-americanos com mísseis teleguiados passaram a ser sistemáticas”, disse o ministro, que acrescentou que os EUA e a NATO têm vindo a aumentar os exercícios operacionais e de combate junto às fronteiras da Rússia.
O Governo russo também anunciou esta sexta-feira que vai criar um “gabinete especial” para a reconstrução das “zonas libertadas” nas autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, que só Moscovo reconhece, e em outras zonas da Ucrânia.
Como a Rússia continua a chamar à invasão da Ucrânia “operação especial”, não admira que o novo departamento também seja “especial” e que tenha sido criado a longo prazo: “Temos tarefas para um dia, uma semana, um mês, antes do Ano Novo”, disse o vice-primeiro-ministro russo, Marat Jusnullin.
O novo organismo tem a incumbência de reconstruir e restaurar edifícios destruídos ou danificados pela guerra, mas também restaurar a economia, refere a agência de notícias TASS, citada pela Europa Press.
“Estão preparadas uma série de medidas para relançar o sistema financeiro o mais rapidamente possível”, garantiu Jusnullin.
O anúncio vem na sequência das declarações de Shoigu de que “a libertação da República Popular de Lugansk está quase terminada”