Um novo projecto poderá mudar radicalmente a zona do Restelo junto ao topo norte do estádio do Clube de Futebol “Os Belenenses”. A British School of Lisbon (BSL) apresentou nesta sexta-feira o projecto que tem para o seu segundo campus, que diz ser de “última geração”, na sequência de um acordo inédito com o clube que neste momento disputa o Campeonato de Portugal. O investimento nos terrenos do clube está orçamentado em 30 milhões de euros e a agremiação receberá cerca de 200 mil euros por ano, segundo revelou ao PÚBLICO o presidente dos “azuis” do Restelo.

A construir num terreno do clube localizado um pouco acima do estádio principal, o novo campus terá 7000 metros quadrados e 30 salas de aula, laboratórios de ciências, estúdios de arte e design e de tecnologia, instalações de música e de teatro e está a ser projectado pelo arquitecto Nuno Mateus.

Nova piscina aberta aos sócios

Em termos desportivos está contemplada a construção de uma piscina semi-olímpica interior (25 metros) com oito pistas, capaz de receber competições e com acesso às instalações desportivas do Belenenses, um pavilhão e mais um campo de futebol.

Segundo revelaram os responsáveis pelo clube e pela escola, a piscina será partilhada com os sócios do Belenenses fora do horário escolar e aos fins-de-semana, com entrada directa e independente junto ao estádio para sócios do clube. O início das obras de todo o complexo está previsto para daqui a cerca de seis meses.

A parceria com o Belenenses permite que alunos e pais da BSL se tornem membros deste clube histórico, além de trabalhar em iniciativas conjuntas.

Durante a cerimónia de apresentação, Patrick Morais de Carvalho, presidente do Belenenses, destacou a importância do acordo com a BSL, salientando que as novas edificações nos terrenos do complexo desportivo representam para o clube “uma oportunidade de cumprir os seus desígnios, nomeadamente o serviço à população, o envolvimento da juventude e sua captação para a prática desportiva, bem como a internacionalização da marca Belenenses”.

“É com alegria que teremos os alunos da BSL a colorir o Restelo, junto dos milhares de jovens que diariamente ali praticam desporto”, acrescentou.

Morais de Carvalho disse ao PÚBLICO não ter dúvidas que “o acordo por 50 anos será um sucesso para ambas as partes”. Destacou ainda a importância da nova piscina, lembrando que antes de encerrar a antiga piscina do clube, em 2011, por estar muito degradada, “tinha dez mil utentes por ano”.

Patrick Morais de Carvalho considerou ainda que o acordo significa também “um passo importante na reconversão e modernização do estádio”. “São todos muito bem-vindos à família Belenense”, disse ainda.

Aumentar a oferta da escola

Já segundo os responsáveis da BSL, desde a sua abertura, em 2019 na Rua de São Paulo, a escola recebeu mais de 2700 candidaturas, “estando actualmente a manter listas de espera para a maioria das suas turmas”. Com o novo campus, o objectivo “é ter uma oferta educativa integral para até 700 alunos, dos 3 aos 18 anos”. Actualmente tem cerca de 200 alunos, do pré-escolar até ao equivalente ao 5º anos português.

“A ambição da BSL é criar uma escola internacional de referência a nível europeu, com os alunos a ingressarem nas universidades mais prestigiadas. O acordo com o Belenenses permite que a nossa escola cresça e tenha acesso a amplas instalações desportivas”, disse Zoe Hubbard, directora da British School of Lisbon, durante a apresentação do projecto.

Já Jessica Ordovas, administradora do The Schools Trust, grupo que fundou a BSL e mais de 20 campus nas principais cidades do mundo revelou que a escola de Lisboa tem alunos “de mais de 30 nacionalidades”, considerando-a “verdadeiramente internacional”. “Estamos muito entusiasmados por termos encontrado o terreno perfeito para desenvolver o nosso segundo campus. A localização, as vistas, e a relação especial com o Belenenses vão permitir-nos crescer com uma oferta internacional de ensino de excelência no centro de Lisboa”, acrescentou

E quando administradora fala das “vistas”, fala de uma das mais belas vistas na cidade de Lisboa para os jardins de Belém, para o enorme estuário do Tejo e para a Ponte 25 de Abril.

A apresentação do acordo e do novo projecto contou também com a presença do embaixador britânico em Portugal, Chris Sainty, alunos da escola e os seus familiares. As crianças, ao longo da manhã e parte da tarde, participaram nos campos de futebol do clube no “dia do desporto” da escola. No final, além dos troféus, os miúdos receberam duas prendas: ficaram a saber que passaram a ser sócios do Belenenses e tiveram cachecóis do clube, que Morais de Carvalho também fez questão de colocar nos ombros de muitos dos novos associados.

E o líder da agremiação não escondia o seu contentamento e até já sonhava com novos horizontes. “Muitas destas crianças podem vir ser atletas do Belenenses e isso também é muito importante”, afirmou ao PÚBLICO. Aliás, o protocolo estabelece que todos os alunos da escola sejam feitos sócio do clube do Restelo.

Belenenses apostado a voltar ao grupo dos grandes clubes

O histórico clube alfacinha, fundado em 1919, já conquistou ao longo dos anos dezenas de troféus em várias modalidades, nomeadamente um campeonato nacional da I Divisão de futebol. Porém em 2018 um forte desentendimento entre a Sociedade Anónima Desportiva (SAD) do clube, presidida por Rui Pedro Soares, e o clube levou à separação entre as duas partes.

A SAD, que, entretanto, se passou a chamar B-SAD, que representava o futebol, ficou na Primeira Liga, enquanto o Belenenses foi obrigado a começar do zero, inscrevendo a equipa no Campeonato Distrital de Lisboa. Actualmente está no Campeonato de Portugal, equivalente à antiga IV Divisão.

O presidente dos “azuis” sempre disse que o objectivo é o Belenenses é regressar ao convívio com os grandes clubes portugueses. A B-SAD desceu está temporada desportiva à II Liga de futebol.

Já a BSL é licenciada pela The Schools Trust, uma organização de governança escolar do Reino Unido que estabeleceu as principais escolas britânicas em todo o mundo. Todos os professores são qualificados no Reino Unido e têm experiência de ensino do Currículo Nacional Inglês.