Inflação na zona euro não descola do patamar dos 7%
Há cinco países da moeda única onde a taxa está acima dos 10%. Na Estónia, o índice de preços aproxima-se dos 20%.
A taxa de inflação na zona euro manteve-se em Abril acima dos 7%, um valor historicamente elevado na moeda única, onde há cinco países com taxas acima dos 10% – a Estónia, a Letónia, a Lituânia, a Eslováquia e os Países Baixos. Portugal registou uma taxa idêntica à média da área do euro, nos 7,4%, indicam os dados mensais divulgados nesta quarta-feira pelo Eurostat. Na União Europeia, contudo, a inflação subiu dos 7,8% registados em Março para 8,1% em Abril.
O Banco Central Europeu (BCE) continua a monitorizar a evolução do índice dos preços e a trajectória de crescimento na região dos 19 países que partilham o euro para ponderar se sobe, ou não, as taxas de juro de referência já a partir de Julho. A presidente do BCE, Christine Lagarde, admitiu na semana passada que a instituição poderá agravar as taxas já em Julho, mas não deu esse cenário como fechado.
Depois de subidas progressivas ao longo dos últimos meses — de 4,9% em Novembro para 5% em Dezembro, de 5,1% em Janeiro para 5,9% em Fevereiro —, a inflação deu um salto de Fevereiro para Março, ao passar para os 7,4% em termos anuais e foi nesse valor que se manteve em Abril, não descolando do patamar que atingira no mês seguinte à invasão da Ucrânia pela Rússia.
O agravamento dos preços nos últimos meses deve-se sobretudo ao índice de preços da energia, onde a subida anual da taxa relativamente a um ano antes é de 37,5%. Há, ainda assim, um abrandamento quando se compara com o que se verificou em Março, em que a diferença homóloga chegou a superar os 44%.
Em Abril, o sector energético representou 3,7 pontos percentuais do valor da inflação, seguido dos serviços (com 1,38 pontos percentuais), do índice de produtos alimentares, álcool e tabaco (1,35 pontos percentuais) e dos produtos industriais não energéticos (1,02 pontos).
Excluindo a energia, a taxa da inflação fica-se pelos 4,1%.
A Estónia é o país da zona euro com o valor mais alto, uma taxa anual de 19,1%. Segue-se a Lituânia, com 16,6%; a Letónia, com 13,1%; os Países Baixos, com uma taxa de 11,2%; e a Eslováquia, com 10,9%.
Os Países Baixos são a quinta maior economia do núcleo de países que partilham a moeda única e o agravamento da inflação que ali se verifica compara com a das restantes grandes economias, ainda que os valores sejam também historicamente elevados. Na Alemanha, a taxa anual ficou nos 7,8%; em França, nos 5,4%; na Itália, na Espanha, 8,3%.
Na União Europeia, mas fora da zona euro, há quatro países onde as taxas também estão acima dos 10%: na Chéquia (13,2%), na Bulgária (12,1%), na Roménia (11,7%) e na Polónia (11,4%).
Em Portugal, os preços continuam numa trajectória ascendente, resume o Instituto Nacional de Estatística (INE) na síntese económica de conjuntura divulgada nesta quarta-feira.
“O índice de preços na produção da indústria transformadora apresentou em Abril uma taxa de variação homóloga de 22,7% (20,1% no mês anterior), registando o crescimento mais elevado da actual série” de dados do INE. Se se excluir a componente energética, “este índice aumentou 15,7% em termos homólogos, apresentando também o crescimento mais elevado da actual série”, depois de ter subido 13,6% em Março.
O índice de preços no consumidor foi 7,2% em Abril (este valor é diferente do que resulta do indicador usado para comparações com os parceiros europeus, que é harmonizado e que ficou nos 7,4% referidos pelo Eurostat com base em dados do INE).
Ao atingir este valor, a taxa ficou no valor mais alto em 29 anos — desde Março de 1993, refere o INE. “O indicador de inflação subjacente (IPC total excluindo bens energéticos e alimentares não transformados) registou uma variação homóloga de 5% (3,8% em Março), a mais elevada desde Setembro de 1995”.
Quanto à trajectória da economia, a síntese do INE confirma que, em termos reais, o Produto Interno Bruto (PIB) “registou uma variação homóloga de 11,9% no primeiro trimestre de 2022 (5,9% no trimestre anterior) e uma variação em cadeia de 2,6% (1,6% no 4º trimestre)”.
A aceleração em cadeia, diz, deveu-se ao “contributo mais positivo da procura interna, reflectindo a aceleração do consumo privado, devido sobretudo ao crescimento da despesa em diversas actividades de serviços, após o levantamento da generalidade das restrições à actividade económica impostas no contexto da pandemia”. O contributo da procura externa líquida “manteve-se ligeiramente positivo”, indica o INE.
Nos três primeiros meses do ano, a zona euro cresceu 5,1% em relação ao crescimento registado entre Janeiro e Março do ano passado, acelerando o ritmo face ao crescimento homólogo verificado no quarto trimestre do ano passado.