Contra o encerramento da Estação Central de Coimbra
O Movimento Cívico Pela Estação Nova propõe que o encerramento da Estação Central de Coimbra seja reequacionado e que seja adoptado um novo traçado para o Metro Mondego, de modo a preservar a estação e a linha ferroviária, e a garantir um melhor serviço do sistema Metrobus à zona.
A Estação Central de Coimbra - também conhecida como Coimbra A, Estação Nova ou Coimbra-Cidade - é o epicentro da rede ferroviária suburbana de Coimbra, assegurando ligações diretas do centro da cidade a toda a Região Centro. Serve, anualmente, pelo menos 1,3 milhões de passageiros, fazendo dela uma das estações ferroviárias com maior afluência em Portugal. A Estação Central, graças à sua localização, é um importante e insubstituível interface regional de transportes públicos, dispondo de comboios, da maioria das linhas de autocarros urbanos que servem a cidade de Coimbra, de carreiras regionais e interurbanas de autocarros de vários operadores privados e, futuramente, do Metrobus. A capacidade está instalada e tem sido objeto de investimento ao longo das últimas décadas, nomeadamente a eletrificação da via, em benefício dos passageiros, da região e do ambiente.
No entanto, a informação mais recente dá conta de que a Estação Central será encerrada no início de 2024, no âmbito do processo de implementação do Sistema de Mobilidade do Mondego. Desde 2002 que é a Metro Mondego que tem a concessão da criação de um “sistema de metropolitano ligeiro”, originalmente em “tram-train” mas agora assente num “bus rapid transit” (BRT), também conhecido como Metrobus. Não obstante os reveses e as múltiplas alterações desde o seu início, o encerramento da Estação Central inicialmente previsto não foi reequacionado. Sucede-se que, entretanto, os planos mudaram de tal forma que a manutenção da Estação Central é, não só possível, mas mesmo fundamental.
A implementação do Metrobus não é, a nenhum título, impeditiva da manutenção da Estação Central. É possível adoptar um traçado alternativo para o Metrobus aproveitando uma das suas poucas vantagens face ao tram-train: a flexibilidade nos trajectos. Mantendo, assim, em funcionamento a estação e permitindo que o Metrobus sirva de uma forma mais adequada eixos como o da Avenida Fernão de Magalhães, um dos principais polos geradores de procura na cidade. Os serviços ferroviários da Estação Central e o futuro serviço do Metrobus não são concorrentes, mas complementares. A estação serve melhor todos os passageiros dos comboios suburbanos que querem chegar de forma rápida e fiável ao centro da cidade, podendo a partir daí ser conduzidos para outros pontos da cidade através da rede de autocarros (SMTUC), chegando assim a várias zonas que não serão servidas pelo Metrobus.
Por outro lado, o encerramento da Estação Central em nome do Metrobus corresponde à destruição de infraestruturas existentes e à sua substituição por um modelo que presta serviços de qualidade inferior: dada a tipologia dos veículos utilizados pelo Metrobus e a frequência e a capacidade previstas, o sistema do Metrobus não conseguirá dar resposta às necessidades dos passageiros que desembarcarão numa Coimbra-B sobrecarregada pelo encerramento da Estação Central. Nas horas de ponta, será inevitável a ruptura de carga em Coimbra-B, com todos os efeitos associados, em termos de perda de qualidade e de eficiência do serviço. O passo seguinte será a perda de passageiros, que preferirão recorrer ao automóvel nas suas deslocações diárias para a cidade.
A ferrovia é um instrumento incontornável para o combate à poluição ambiental e às alterações climáticas e para a promoção da qualidade de vida nos centros urbanos e nas suas áreas metropolitanas. Com o encerramento da Estação Central, o serviço ferroviário suburbano deixa de poder levar as pessoas diretamente ao centro da cidade. É amplamente reconhecido que os serviços de comboio, sobretudo do tipo suburbano e regional, devem alcançar os centros das cidades para serem atrativos. Também por esta razão, aumentará a perda de atratividade da ferrovia, levando inevitavelmente a uma fuga para o automóvel, pois muitos, compreensivelmente, não estarão dispostos a apanhar o comboio até à periferia da cidade para depois apanhar o Metrobus que os leve ao centro, sofrendo um ou mais transbordos.
O comboio é, na região de Coimbra, essencial à mobilidade dos estratos populacionais mais desfavorecidos, mais idosos e mais jovens. O encerramento da Estação Central, com a perda de facilidade, de qualidade e de comodidade do serviço que lhe estará associada, diminuirá, para estas pessoas, a acessibilidade ao centro de Coimbra e a vários outros locais da cidade. Por isso, o encerramento da Estação Central é também um ato que atenta contra a mais elementar justiça social e intergeracional.
Ao contrário do que sustentam alguns decisores políticos, a ferrovia não é um entrave à reabilitação da Baixa de Coimbra. Pelo contrário, os terrenos expectantes e os armazéns abandonados são o verdadeiro fator de degradação daquela zona. São estes espaços que precisam de ser intervencionados, aproveitando o próprio atrativo da proximidade à Estação Central. O efeito de barreira causado pela linha é mitigável e perfeitamente contornável, através da adoção de soluções urbanísticas e pedonais, hoje comummente adotadas em inúmeras cidades europeias. A linha não impede a ligação da cidade ao rio e a vivência e fruição das margens pelos seus habitantes.
O encerramento da Estação Central não é um problema local, de Coimbra, mas é antes um problema de toda a Região Centro. Todos os que se dirigem a Coimbra vindos de locais como Figueira da Foz, Aveiro, Guarda e Entroncamento, mas também de pontos intermédios importantes, como Alfarelos, Montemor-o-Velho, Soure, Pombal, Taveiro, Souselas, Pampilhosa, Mealhada, Luso, Mortágua ou Santa Comba Dão, serão prejudicados com o encerramento.
Como cidadãos atentos à necessidade de coesão nacional, sustentabilidade ambiental, coesão social e racionalidade na gestão de recursos financeiros escassos, não aceitamos o encerramento de uma das poucas estações verdadeiramente centrais que temos em Portugal. Em suma, o encerramento da Estação Central de Coimbra i) é totalmente injustificado, já que a estação pode coexistir com o Metrobus; ii) é um desperdício de investimentos já realizados; iii) tem impacto negativo sobre as camadas economicamente mais vulneráveis; iv) diminui a qualidade do serviço prestado ao nível da mobilidade na zona Centro; e v) é altamente nocivo do ponto de vista ambiental, pois tira atratividade à ferrovia e leva ao aumento da utilização do automóvel.
Duarte Miranda
Luís Neto
Mário Pereira
Pedro Costa
pelo Movimento Cívico pela Estação Nova