Medina admite “acompanhar” propostas da oposição para o Orçamento
Ministro diz que as famílias e as empresas estão “muito melhor com este orçamento” do que com as políticas dos partidos da oposição, mas mostra abertura para analisar algumas iniciativas.
Depois de ter estado reunido esta semana com os grupos parlamentares da Iniciativa Liberal, do Livre, do PAN e com deputados do PSD da Madeira, o ministro das Finanças, Fernando Medina, admitiu esta sexta-feira “analisar” e “acompanhar” algumas propostas de alteração ao Orçamento do Estado (OE) para 2022 apresentadas pelos partidos da oposição. Há uma condição: que as iniciativas não desvirtuem os “princípios” do OE e a estratégia de correcção das contas públicas do Governo, que se comprometeu a reduzir o défice orçamental de 2,8% para 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB) e a dívida pública de 127,4% para 120,7%.
Num sinal político de abertura à negociação, mesmo tendo o PS maioria absoluta no Parlamento, Medina prometeu um “diálogo construtivo” agora que o debate do OE entra na fase da discussão e votação de cada uma das propostas de alteração na especialidade.
O ministro está a ser ouvido na comissão de orçamento e finanças esta tarde, a poucas horas de terminar o prazo para os partidos submeterem as propostas de alteração à iniciativa do Governo, que serão discutidas e votadas a partir de 23 de Maio.
Medina lembrou indirectamente o chumbo da anterior proposta — rejeitada pelo PCP, PEV e Bloco de Esquerda, antigos parceiros de negociação — ao afirmar que “as famílias e as empresas estariam em situação muito mais delicada sem este orçamento”. E seguiu em frente, concentrando-se no OE que agora está em discussão: “As famílias e as empresas estarão muito melhor com este orçamento do que com as políticas que têm sido defendidas pelas oposições”. No entanto, disse, isso não significa que o orçamento não possa ser melhorado com as propostas de alteração.
“Reitero a abertura do Governo para, em diálogo construtivo, analisar e acompanhar propostas que, demonstrando a sua pertinência, não coloquem em causa a orientação fundamental deste orçamento e os princípios de responsabilidade e prudência que nos guiam”, afirmou.
Em resposta à bancada do PCP, Medina prometeu que as iniciativas “serão vistas com toda a atenção e sem nenhum sentido de exclusão”.
Em relação à Iniciativa Liberal, Medina divergiu da vontade do partido em reduzir o número de escalões de IRS para cinco, subindo o limite do primeiro patamar (com a taxa de 14,5%) até aos 25076 euros de rendimento colectável (ou seja, aplicando uma só taxa até esse nível de rendimentos).
As críticas de Medina serviram ao PCP e ao Bloco de Esquerda para criticar o regime especial de IRS que existe em Portugal para os chamados residentes não habituais, em que os pensionistas são tributados através de uma taxa única de 10% sobre as reformas pagas no estrangeiro e os trabalhadores com rendimentos de actividades consideradas de elevado valor acrescentado (com carácter científico, artístico ou técnico) são tributados a uma taxa de 20%.
Pouco antes, o líder da bancada parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, já tinha mostrado abertura do Partido Socialista para aprovar algumas das propostas do Livre e do PAN, e admitira analisar as propostas pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda, os dois principais partidos da antiga negociação parlamentar para a aprovação dos orçamentos quando António Costa governava em minoria.
Brilhante Dias também salientou a “vontade” demonstrada pela Iniciativa Liberal e pelo PSD Madeira em interagir no processo orçamental.
Relativamente à Região Autónoma da Madeira, uma das iniciativas que o Partido Socialista anunciou nesta sexta-feira passa pela extensão por dois anos, até ao final de 2023, do prazo-limite para a entrada de novas empresas para a zona franca, para permitir a aplicação de benefícios fiscais às empresas licenciadas até 2027, com a aplicação de um IRC reduzido (para 5%) mediante o cumprimento de uma série de critérios onde se inclui a criação e a manutenção de postos de trabalho no arquipélago.
Noutra medida anunciada pelo grupo parlamentar do PS prevê-se que “as regiões autónomas passam a poder aplicar a taxa de IRC reduzida aplicável aos territórios de baixa densidade”, estendendo à Madeira e aos Açores “uma medida de promoção da coesão territorial, passando a Madeira e os Açores a poder diferenciar os respectivos territórios que tenham um perfil socioeconómico desfavorecido no contexto regional”.