Norte-americano que diz ter sido torturado por forças russas na Ucrânia resgatado por ONG

O “Project Dynamo”, estabelecido por um grupo de veteranos militares dos EUA , que teve um papel fundamental nos resgates do Afeganistão em 2021, já resgatou mais de 600 pessoas capturadas por forças russas na Ucrânia.

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Bryan Stern (à esquerda), fundador e chefe de operações no terreno do Projeto Dynamo no exterior da Embaixada dos EUA, em Kiev Reuters/Project Dynamo

Um norte-americano mantido em cativeiro pelas forças militares russas na Ucrânia e que diz ter sido torturado por elas foi resgatado por um grupo privado de voluntários dos Estados Unidos. Esta quinta-feira relatou à Reuters o seu alívio ao chegar em segurança à Polónia, descrevendo e classificando a sua situação como “um dos muitos exemplos dos crimes de guerra cometidos pelas forças militares russas”.

Kirillo Alexandrov, cidadão dos Estados Unidos, de 27 anos, foi resgatado pela organização sem fins lucrativos Project Dynamo, com sede na Florida. Quem contactou a ONG foi a sua mãe, na esperança de poder reencontrar o seu filho, tendo conseguido atingir o seu objectivo um mês depois do início das negociações.

Alexandrov, junto com a sua mulher de nacionalidade ucraniana e com a sua sogra, estão entre as mais de 600 pessoas resgatadas em dezenas de missões que começaram desde o início de Fevereiro, de acordo com o Project Dynamo​, que foi formado pela primeira vez para resgatar americanos e outros do Afeganistão no ano passado.

De acordo com o projecto, as forças russas prenderam Alexandrov por cerca de uma dúzia de acusações criminais relacionadas com denúncias de que estaria envolvido em espionagem e cooperação para o Governo norte-americano. O Project Dynamo​ rejeita estas acusações e garante que foram fabricadas pelos russos.

Alexandrov foi interrogado e iria ser transferido para Moscovo, “onde presumivelmente seria aproveitado para propaganda e depois preso”, de acordo com o grupo.

Durante este processo, o Project Dynamo conseguiu levar avante o seu pedido para que os russos enviassem regularmente fotografias como “prova de vida” de Alexandrov durante as negociações. Por fim, conseguiram garantir a sua passagem segura para território polaco, juntamente com os membros ucranianos da sua família, depois de mais de um mês de negociações, disse o porta-voz do Dynamo, James Judge.

“Fui inicialmente preso em minha casa”, relatou Alexandrov. “Eles arrombaram a porta, entraram, algemaram-me de forma violenta, atiraram-me para o chão e levaram-me com eles. Terminei numa cela onde fui interrogado e violentamente espancado. Tudo foi feito num tom de troça e de raiva e ficaram com o meu telemóvel e com os meus documentos”. “As coisas pelas quais eu e a minha família passámos foram nada mais nada menos que crimes de guerra”, denunciou, numa entrevista com a agência Reuters.

Bryan Stern, fundador do Project Dynamo​, que liderou este resgate, informou que enquanto o seu grupo estava em negociações para garantir a libertação de Alexandrov, ia, simultaneamente, desenvolvendo “opções difíceis” como “planos B” para retirar o norte-americano, por terra, mar ou ar. Stern revelou ainda num comunicado que a opção terrestre chegou a ser escolhida como emergência, mas que acabou por não ser necessária. Não entrou, contudo, em quaisquer detalhes sobre como ocorreu, exactamente, o resgate, citando razões de segurança.

O Project Dynamo afirma que ainda está a trabalhar para resgatar outras pessoas em situações semelhantes à de Alexandrov. “Há muito trabalho a ser feito. Estamos a controlar vários outros casos americanos que estão presos atrás das linhas inimigas”, revelou Stern.

O grupo divulgou um vídeo que mostra a entrega de Alexandrov por parte das forças russas aos membros da equipa do Project Dynamo​, enquanto o norte-americano e sua família entram num carro estacionado numa área arborizada e camuflada. Uma fotografia publicada momentos depois mostra Stern e Alexandrov juntos a sorrir.

O Departamento de Estado norte-americano revelou, numa conferência de imprensa realizada este mês, que acredita que residiam na Ucrânia cerca de 6600 americanos em Outubro de 2021, mas que o número exacto no momento da invasão russa é desconhecido.

Os ministérios da Defesa e dos Negócios Estrangeiros da Rússia não responderam aos pedidos de comentários enviados pela Reuters. A Rússia sempre negou ter visado civis e rejeitou quaisquer alegações de crimes de guerra.

O Project Dynamo, estabelecido por um grupo de veteranos militares dos EUA, ganhou atenção mediática em Setembro de 2021, quando organizou a evacuação de mais de 100 americanos que voaram do Afeganistão para os Estados Unidos.