A emergência climática pela voz dos jovens: o tempo é agora
Apesar de se falar das alterações climáticas há muitos anos, as emissões globais ainda batem recordes históricos. Presenciamos alterações nas “estações do ano” que já não são nada semelhantes ao que aprendemos na escola, com aquela pontualidade temporal. Além disso, a seca, como é o caso português, agrava-se em território nacional a alternar com momentos de precipitação desproporcional.
Perante isto, vemos que muitos são os encontros internacionais, propostas, projetos que debatem e analisam potenciais soluções para as consequências da crise climática que vivemos. Por outro, muitos são os sinais de cansaço, da fadiga constante de quem lida com o ativismo climático e que apela para mais ação. Pedimos mudança de paradigma, soluções “out of the box”, mas parece que precisamos de mais pessoas para trazer novas ideias para esta longa luta. Precisamos de uma interseccionalidade geracional e precisamos dos jovens para partilhar força e motivação para a causa em questão.
A última década foi a mais quente jamais registada, e milhares de jovens apelaram a uma ação climática urgente em várias partes do mundo. Este movimento global para o combate das alterações climáticas tem nome e responsável. Foi a partir do #FridaysForFuture que estudantes do mundo inteiro faltavam às aulas às sextas-feiras e as vozes dos jovens ganharam cada vez mais amplitude. Greta Thunberg, em 2018, motivou a juventude que até então parecia adormecida. Entre muitas exigências, os jovens manifestantes pedem aos líderes mundiais que respeitem o Acordo de Paris, o primeiro acordo mundial sobre o clima, universal e juridicamente vinculativo, assinado por 195 países em 2015. O seu principal objetivo é limitar o aumento da temperatura mundial a dois graus Celsius em relação à era pré-industrial, antes do final do século, e prosseguir os esforços para o limitar ainda mais a 1,5 graus Celsius.
Em Portugal, este movimento também ganhou espaço com a greve climática estudantil e foi um ponto de viragem na mobilização dos jovens, mas ainda estamos muito aquém do desejado. Apesar da grande preocupação dos jovens portugueses com as questões climáticas, com 63% dos jovens muito ou extremamente preocupados com o tema, a ação climática ainda é pouca. Mais de 80% estão dispostos a envolver-se mais na luta climática. No entanto, muitas razões foram apresentadas para a falta de ação, entre elas: a dispersão da informação sobre as alterações climáticas, a linguagem científica e académica que não é facilmente compreendida, a ausência de condução para a ação no tema e falta de ferramentas e/ou desconhecimento destes.
O combate às alterações climáticas é a nossa causa comum, é uma causa de cidadania, de preservação do que há de belo no nosso planeta. Talvez também nos falte um pouco de ligação com a natureza, entender o quanto ela é importante para a nossa sobrevivência. Esta falta de ligação pode ser fatal. Considerando esta perceção, uma mudança de abordagem sobre as alterações climáticas é necessária para atingirmos a todos e todas e não deixarmos ninguém para trás.
O Ativa ClimACT, um projeto que está a ser lançado pela ONG de ambiente Zero, revoluciona justamente neste ponto fundamental, levando a informação sobre as alterações climáticas traduzida para a linguagem dos receptores, neste caso, dos jovens. Sem nunca perder de vista o cariz científico, a tradução da linguagem e a seleção de narrativas para os/as jovens portugueses/as é algo importante para o seu envolvimento. O Ativa ClimACT propõe uma série de recursos e atividades que pretendem mobilizar os jovens para a luta climática, para além da construção de parcerias entre várias ONG nacionais para partilhar informações, atividades e trabalho conjunto, porque a luta climática é de todos nós e juntos conseguiremos avançar muito mais rápido.
Temos uma janela de oportunidade que devemos utilizá-la da melhor forma possível e todas as ideias são bem-vindas. Não há verdades únicas na luta climática e será através de uma compilação de soluções que salvaremos o nosso planeta, a sua biodiversidade e os recursos naturais. O tempo de agir é agora e a voz dos jovens é crucial neste momento!
A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico