Esta quinta-feira é dia Marvel. Outra vez. Dr. Estranho e o Multiverso da Loucura em estreia

Sem spoilers: é a maior aproximação ao terror que esta máquina de entretenimento alguma vez produziu. Sam Raimi realiza, dentro dos portões do parque de diversões, e Benedict Cumberbatch, Elizabeth Olsen, Benedict Wong e Xochitl Gomez protagonizam.

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Benedict Cumberbatch como Stephen Strange Marvel Studios

Esta quinta-feira é dia Marvel. Outra vez. Ainda quarta-feira chegou ao fim a série Moon Knight, na plataforma de streaming Disney+ e agora Dr. Estranho e o Multiverso da Loucura estreia-se esta quinta-feira nos cinemas. O filme vem para ser muitas coisas: é o regresso de Sam Raimi aos super-heróis, 20 anos depois da sua estreia em Homem-Aranha, e é uma réstia de esperança de que os autores de filmes de autor façam diferença na maior máquina de fazer entretenimento da actualidade.

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Elizabeth Olsen como Wanda Maximoff Jay Maidment/Marvel Studios

O filme, por um lado, é “um grande teste para como os cinemas vão passar o Verão”, segundo a CNN, porque embora não seja o primeiro Marvel após as fases mais restritivas da pandemia, é aquele que chega com personagens mais fortes e na altura mais propícia desde que a covid-19 afastou muito público das salas.

Por outro lado, é um filme complexo no sentido em que é um capítulo do Universo Cinematográfico Marvel (MCU, na sigla em inglês), uma empreitada de décadas que há muito deixou de ser apenas cinematográfica e que se faz agora tanto das peças do puzzle que se coleccionam em cada filme, stinger (cenas finais “escondidas” após os créditos, e neste filme há duas) e agora também série de televisão, animada ou de acção real — Moon Knight atraiu actores de topo como Oscar Isaac ou Ethan Hawke para seis episódios de Disney+ que pilharam a mitologia egípcia e a amalgamaram à “mitologia” Marvel, por exemplo.

Tudo isto tem base num manancial de comics que coleccionaram fãs famosos como Chloé Zhao, segunda mulher vencedora de um Óscar de Realização por Nomadland cujo projecto seguinte foi Eternals (2021), um megalito Marvel de parco sucesso crítico. Até agora há 27 filmes e seis séries de TV da Disney+ a que estar atento quando se entra num filme categorizado como parte da “Fase 4” do MCU.

É por isso que Michael O’Sullivan assinala logo no início da sua crítica (sobretudo positiva, de duas estrelas e meia em quatro) que se há filmes que vêm com alguma história de fundo, Dr. Estranho e o Multiverso da Loucura vem “com um plano de estudos”, como escreveu no Washington Post. E é também por isso que o New York Times dedica um artigo utilitário para ajudar os leitores com “o que saber antes de Dr. Estranho e o Multiverso da Loucura”.

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Xochitl Gomez é America Chavez, Benedict Wong é Wong e Benedict Cumberbatch é Stephen Strange Marvel Studios

E é por isso, claro, que se houve um longo suspiro da crítica que gostava que “os filmes Marvel passassem mais tempo a explorar os seus próprios pontos fortes e menos tempo a tentar fazer-nos querer mais filmes Marvel”, como escreve John Defore na revista Hollywood Reporter. A.O. Scott, o incontornável crítico de cinema do New York Times, sublinha na sua reacção ao filme como a Marvel Studios pediu aos críticos para pouco revelar sobre as surpresas que o filme envolve quanto às personagens que contém, “um pedido que denuncia em si o objectivo do filme”.

Sobre Sam Raimi, o filme, mostrado à imprensa 48 horas antes da estreia, tem a sua marca. Através das suas escolhas sem spoilers — no elenco e na segunda metade ou “acto final” do filme, dos mais negros e explicitamente violentos da Marvel (cuja violência, como a de Star Wars, é tão sobredimensionada e feérica que se pode perder de vista a sua dimensão humana). A revista Forbes atenta mesmo que “provavelmente pode se pôr de parte [a ideia de haver] um carrossel ou montanha-russa Dr. Estranho e o Multiverso da Loucura [num parque] Disney”.

É uma imagem inevitável, esta, a das diversões para excitação momentânea, entretenimento de sobe e desce, nos filmes Marvel. A fórmula de sucesso encontrada pelo super-produtor Kevin Feige, que agora o actor e realizador Jon Favreau está a emular em termos de fechamento conceptual em torno do “universo Star Wars”, é tanto estanque quanto sinónimo do mais puro entretenimento ou, como se inventou há décadas, do cinema de massas.

A.O. Scott reconhece que “Sam Raimi consegue injectar algum sentido de horror” no filme mas avisa o que já se sabe quando se vai a um filme Marvel este é um terreno conhecido, seguro nas suas regras fechadas, um “cosmos tão vedado e defendido como qualquer parque temático”. Lá está ele outra vez. Mas numa coisa discorda de O’Sullivan: “O engenho do MCU é que se pode entrar a qualquer altura e saltitar à vontade”.

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Elizabeth Olsen Marvel Studios
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