Um roteiro para melhor conhecer os segredos da Misericórdia de Lisboa
A 14 de Maio, o PÚBLICO, através do projecto Artéria, promove mais uma visita guiada de participação gratuita para tomar o pulso a Lisboa. O património da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa é o tema desta visita que cruza edifícios, histórias e memórias da instituição.
Mais do que apenas um circuito pelos edifícios e pelo património histórico de uma das mais emblemáticas instituições portuguesas, será também uma digressão pelas histórias e memórias de quem a ela esteve ligado desde a sua criação, em 1498, pela mão da rainha consorte Dona Leonor de Avis. E uma forma de aprofundar conhecimentos sobre as histórias social, cultural e política da capital.
“Nos passos da Misericórdia” é o nome do roteiro que as dará a conhecer, durante a manhã (10h30) de 14 de Maio, um sábado, no quarto roteiro promovido pelo Artéria, o novo projecto de informação comunitária dedicado a Lisboa e nascido de uma parceria entre o PÚBLICO e, precisamente, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML). Oportunidade para contactar com alguns dos lugares e aspectos menos conhecidos da vida da centenária entidade. Incluindo aqueles que muitos pretenderam esconder.
“Haverá muitos e diversos pontos de interesse, mas um dos que despertará mais curiosidade será, certamente, toda a informação relacionada com as crianças da roda”, prevê Pedro Rocha, técnico do serviço de públicos e desenvolvimento cultural da Santa Casa, que conduzirá a visita, com uma duração de quase três horas, através de um percurso pedonal pelo centro de Lisboa, entre as zonas da Sé e do Largo Trindade Coelho. Na menção das “crianças da roda”, Pedro Rocha refere-se ao sistema através do qual, sob anonimato e durante três séculos, muitas mães entregavam os bebés enjeitados ao cuidado assistencial da instituição.
“Vamos mostrar alguma da documentação e dos sinais identificativos dessas crianças. Que se saiba, esta será a maior colecção do mundo deste género, com cerca de 86 mil sinais”, explica o responsável, dando conta dos elementos utilizados para atestar a veracidade da identidade dos menores entregues à guarda da Misericórdia e que, frequentemente, eram materializados em madeixas de cabelo.
Um acervo correspondente ao período entre os séculos XVI e XIX, mas com maior prevalência no final do século XVIII e no seguinte, pois muito se terá perdido devido ao terramoto de 1755. “Já tivemos pessoas a chorarem de emoção ao lerem as notas com a descrição das crianças que cá entravam, porque se identificam com aquelas vidas”, conta Pedro Rocha.
O circuito, de participação gratuita mediante marcação prévia (através de email para secretariado@publico.pt), terá início na Sé de Lisboa, onde a Misericórdia teve a sua fundação – concretamente na capela da Nossa Senhora da Terra Solta, que se encontra encerrada para obras –, seguindo depois para a antiga Igreja da Misericórdia Antiga, hoje Conceição Velha, situada na Rua da Alfândega. Dali, e depois de passarem pelo Terreiro do Paço e pelo Rossio, os passeantes serão guiados até ao Complexo de São Roque, no Largo da Trindade, onde a instituição está sediada desde 1768.
Neste local, poder-se-á visitar com tempo o arquivo histórico da Santa Casa, a provedoria e ainda a sala de extracções da lotaria. “Será uma boa ocasião para saberem um pouco mais sobre a história do jogo, cujas origens estão associadas a essa vertente de assistência às crianças da roda”, refere Pedro Rocha.