Dmitri Muratov: “Se a Rússia usar a arma nuclear, acaba com a Humanidade, não com a guerra”

Jornalista russo alertou que os propagandistas do Kremlin tentam tornar o uso de armas nucleares aceitável para a sociedade russa e que isso é notório na televisão.

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Dmitri Muratov recebeu o Nobel da Paz em 2021

O jornalista russo e Prémio Nobel da Paz 2021 Dmitri Muratov denunciou esta terça-feira a propaganda russa sobre o uso de armas nucleares na Ucrânia, o que iria conduzir ao “fim da Humanidade” em vez de acabar com a guerra. “Não excluo a possibilidade de utilização de armas nucleares”, declarou Muratov a jornalistas, em Genebra.

O Kremlin disse que colocou as suas forças nucleares em alerta máximo, pouco antes de ter invadido a Ucrânia, em 24 de Fevereiro.

Face ao apoio internacional à Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, referiu a possibilidade de a Federação Russa usar armas nucleares tácticas, as quais, segundo a doutrina militar russa, podem ser utilizadas para obrigar um adversário a recuar.

Ao intervir durante um evento por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, Muratov, cujo jornal Novaia Gazeta foi obrigado a suspender a publicação em plena invasão russa da Ucrânia, considerou que os propagandistas do Kremlin tentam tornar o uso de armas nucleares aceitável para a sociedade russa.

“Desde há duas semanas, vemos nas televisões que os silos nucleares deviam ser abertos”, acrescentou. “E também ouvimos que estas armas deveriam ser utilizadas se as entregas de armas à Ucrânia prosseguirem”.

Porém, ao contrário do que afirma a propaganda, realçou, o uso de tais armas “não significaria o fim da guerra”. Mas “isso seria o fim da humanidade”, contrapôs.

Para Muratov, o poder “absoluto, sem restrições” adquirido por Putin é a coisa mais assustadora hoje na Federação Russa.

Se o dono do Kremlin decidir que as armas nucleares devem ser utilizadas, “ninguém o pode impedir de tomar essa decisão, nem o parlamento, nem a sociedade civil, nem o público”, acrescentou.