Russos pró-Kremlin que acolhem ucranianos em Portugal: Governo remete esclarecimentos para o Alto Comissariado para as Migrações
Embaixadora da Ucrânia tinha alertado para o facto de associações russas em Portugal poderem estar a acolher refugiados ucranianos em Portugal e a receber informações “com interesse para a espionagem russa”.
A secretária de Estado da Igualdade e Migrações solicitou ao fim da manhã “com carácter de urgência” ao Alto Comissariado para as Migrações (ACM) “todas as informações e esclarecimentos sobre a notícia de hoje [sexta-feira] do Expresso”.
Num curto comunicado, o gabinete de imprensa de Sara Guerreiro acrescenta que foram solicitados “esclarecimentos aos parceiros locais do ACM, como a rede de Centros Locais de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM) e associações locais”.
O ACM está sob tutela da secretaria de Estado da Igualdade e Migrações, junto da ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes. O comunicado da secretária de Estado foi enviado ao PÚBLICO (entre outros órgãos de informação) na sequência de perguntas enviadas à tutela.
De acordo com a edição desta sexta-feira do Expresso, no gabinete de apoio aos refugiados na Câmara de Setúbal estará a trabalhar, e a receber informações sobre os refugiados que aí chegam, Igor Kashin, um dos visados recentes pela denúncia da embaixadora da Ucrânia em Lisboa, Inna Ohnivets de que haveria ucranianos a serem recebidos em Portugal por russos com ligações estreitas ao Kremlin.
Nessa entrevista à CNN no início de Abril, Inna Ohnivets alertou para o facto de essas informações serem “interessantes para a espionagem russa” uma vez que estas associações pró-russas têm “uma ligação muito estreita à embaixada russa e podem receber informações sobre os dados pessoais destes refugiados e também sobre os familiares que participam no Exército ucraniano”.
"Gestor de projectos"
Segundo o Expresso, Kashin apresenta-se como “gestor de projectos” e foi presidente da Casa da Rússia e do Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos. Este dirigente associativo com dupla nacionalidade, foi sempre próximo da Embaixada da Rússia; além disso, os eventos organizados por si e pelas suas associações contavam de sites de instituições criadas pelo Kremlin, mas foram entretanto apagadas, segundo fonte anónima ouvida pelo Expresso.
De acordo com a edição desta sexta-feira do semanário, e segundo o relato de uma cidadã ucraniana que chegou a Portugal com as duas filhas em Março, foi Igor Kashin quem que a recebeu no gabinete de apoio aos refugiados na Câmara de Setúbal. No processo de identificação, perguntaram-lhe onde estava o marido e tiraram fotocópias dos seus documentos.
Também contactado pelo PÚBLICO, o ACM não respondeu até à hora de publicação desta notícia.