A libertação do SARS-CoV-2: serão os novos antivirais orais uma solução?

Estamos a assistir a um adormecimento das autoridades sanitárias portuguesas e a uma indiferença perante a taxa de mortalidade?

O lançamento das vacinas covid-19 no início de 2021 marcou um importante ponto de viragem na luta global contra a pandemia. Contudo, o aparecimento de novas variantes foi enfraquecendo sucessivamente a nossa resposta imunitária e temos assistido a sucessivas ondas.

Em Portugal, o número de internamentos e a mortalidade teimam em não baixar. De acordo com os relatórios da DGS/INSA de 13/4/2022, a taxa de mortalidade era de 28,8 óbitos em 14 dias por milhão de habitantes, valor claramente superior ao limiar de 20 óbitos definido pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC).

No final do ano de 2021, outro grande marco aconteceu, com a aprovação de dois novos tratamentos antivirais orais – Molnupiravir e Paxlovid – que prometem reduzir o número de hospitalizações e mortes por covid-19. Para além destes, a Fluvoxamina, um antidepressivo seguro, tem demonstrado efeitos anti-inflamatórios e antivirais significativos. Se juntarmos a estes medicamentos por via oral os já aprovados para uso na UE, Evusheld (tixagevimab / cilgavimab), Kineret (anakinra), Regkirona (regdanvimab), RoActemra (tocilizumab), Ronapreve (casirivimab / imdevimab), Veklury (remdesivir), Xevudy (sotrovimab), temos um arsenal terapêutico muito amplo.

E se tivessemos acesso a todos estes fármacos inovadores em Portugal, teríamos a mesma mortalidade?

A Ómicron não será a última variante nem o SARS-CoV-2 será o último vírus pandémico. O debate não deve ser se a covid-19 é endémica ou não, mas sim sobre quais os investimentos que devemos mobilizar agora para construir sistemas de saúde pública fortes, para benefício imediato e de longo prazo.

Neste momento, é urgente identificar a população de maior risco para tornar acessíveis estes novos fármacos por via oral, que devem ser tomados nos cinco primeiros dias da infeção por SARS-CoV-2. É essencial construir uma estrutura para facilitar o acesso a estes antivirais.

Porque é que, até agora, em Portugal não utilizamos os medicamentos antivirais orais para reduzir definitivamente as hospitalizações e mortes por covid-19?

O Paxlovid está aprovado para utilização de emergência desde Dezembro de 2021, mas não há nenhum doente em Portugal a beneficiar dele até agora. A França começou a utilizá-lo em Fevereiro de 2022 e em todas as comunidades de Espanha (incluindo a Galiza) já é possível ter acesso ao Paxlovid.

No Reino Unido o acesso a estes fármacos orais processa-se através de um registo que qualquer médico pode fazer e que, se for aprovado, permite ao doente receber os comprimidos em casa; em Espanha os doentes têm de levantar os comprimidos na farmácia hospitalar. Nalguns países há uma “ambulância covid-19” onde se faz a testagem aos doentes sinalizados e se dispensa de imediato o medicamento.

A administração Biden nos EUA lançou uma nova iniciativa “test to treat” (testar para tratar) cujo objetivo é identificar rapidamente aqueles que são positivos para covid-19 e fornecer tratamentos antivirais orais nos primeiros dias da doença, através do acesso fácil a uma farmácia local.

Assim, atualmente, temos mais ferramentas do que nunca para limitar o impacto da covid-19 e das suas variantes. Para além de testes rápidos, medidas para melhorar a ventilação em espaços fechados, maior acesso a máscaras FFP2, doses de reforço das vacinas, anticorpos monuclonais, anti-inflamatórios, temos os mais recentes tratamentos antivirais orais.

Neste momento, estamos a assistir a um adormecimento das autoridades sanitárias portuguesas e a uma indiferença perante a taxa de mortalidade?

Está na hora de Portugal repetir o sucesso do programa de vacinação e implementar estes tratamentos e os usar de forma eficaz. Uma prescrição justa e equitativa, baseada em critérios claros e priorização, deverá ser uma aspiração nacional!

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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