Morreu o compositor britânico Harrison Birtwistle

Compositor residente da Casa da Música em 2017, era uma das figuras mais marcantes da criação contemporânea europeia.

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O compositor britânico Harrison Birtwistle, autor de obras como Punch and Judy, Panic, The Mask of Orpheus, Earth Dances e The Triumph Of Time, morreu esta segunda-feira aos 87 anos, em Mere, Inglaterra, revelou a editora Boosey & Hawkes.

O jornal The Guardian escreve que Harrison Birtwistle marcou a música britânica durante mais de cinco décadas, com composições de “um modernismo intransigente”, desde óperas de grande escala a peças para piano solo.

Harrison Birtwistle foi compositor em residência da Casa da Música, no Porto, em 2017, ano em que a instituição teve como país-tema o Reino Unido. No ano seguinte, participou no Fórum do Futuro, também no Porto, onde foi convidado a falar sobre a influência da Grécia antiga e dos clássicos no seu trabalho, recordando a criação de Oresteia (1981) e The Mark of Orpheus (1986).

Na altura, disse em entrevista à agência Lusa que a criatividade surgia como “uma trégua com as ideias” e que a sua música era “uma afirmação política de liberdade”, admitindo que a política e a actualidade só se intrometiam no seu processo criativo de forma inconsciente.

“Nunca pensei nisso, em estar num lado ou escrever música emblemática de uma dada situação. Nem saberia o que fazer. Já acho difícil que chegue fazer o que faço no campo técnico, quanto mais colocando outro factor que me torna menos livre... Quero fazer parte do mundo, e estar do lado da verdade, isso sim”, disse.

"O amigo incondicional"

O director artístico da Casa da Música, António Jorge Pacheco, lamentou a morte de Harrion Birtwistle, “um dos maiores compositores dos nossos tempos, um génio absoluto, um artista incorruptível e inquebrantável na força e no modo como escolheu exprimir-se”. Num “dia triste”, e acometido por “um sentimento de perda irreparável”, Pacheco lamentou também o desaparecimento do “amigo incondicional, o homem íntegro e livre que amava a vida e que a partilhava generosamente”.

Recordando que a Casa da Música recebeu — um “privilégio” — a “sua presença afável, exigente e iluminada logo desde o ano de abertura”, o programador agradeceu o tempo que Birstwistle tinha sempre para a instituição, apesar da sua agenda preenchidíssima.

Agora, declara António Jorge Pacheco “temos a sua música": “Tocá-la será sempre a melhor forma de honrar a sua memória. Quis o destino que, na semana em que ele nos deixa, estivesse programada na Casa da Música a estreia em Portugal de Nomos, uma das suas obras orquestrais mais emblemáticas”.

A peça será interpretada no sábado, às 18h, pela Orquestra Sinfónica da Casa da Música, dirigida por Stefan Blunier, em concerto integrado no ciclo Música & Revolução. “Sir Harrison Birtwistle já não estará sentado entre nós na plateia da Sala Suggia mas a sua música soará, cremos que para a eternidade.”

“Tréguas com as ideias”

Harrison Birtwistle nasceu a 15 de Julho de 1934, em Accrington, no Lancashire, e, depois de vários anos a aprender clarinete, ainda jovem, começou a compor.

Estudou no Royal Manchester College of Music, estabeleceu-se como compositor em Princeton, com uma bolsa, em 1965. Estreou a sua primeira ópera, Punch and Judy, dois anos depois, no Festival de Aldeburgh.

Em 1972, compôs para o filme O Delito, de Sidney Lumet, com Sean Connery no principal papel, naquela que seria a sua única banda sonora para cinema. Em 1975, assumiu o cargo de director musical do Royal National Theatre, em Londres.

A sua obra estende-se da ópera, com mais de uma dezena de dramas para palco, à música instrumental, coral e vocal. Escreveu para orquestra e conjuntos de câmara, criando um corpo de trabalho absolutamente referencial para a música contemporânea europeia.

Galardoado com a Ordem dos Cavaleiros de Honra pela coroa britânica, Birtwistle tinha fama de escrever composições difíceis, mas dizia não o fazer “de propósito”. “Não parto com a intenção de escrever uma peça difícil, apesar de já mo terem dito. São difíceis, como foram difíceis para mim também”, nesse processo de “tréguas com as ideias”, até atingir a sua forma final, contou na mesma entrevista à Lusa.

As suas composições foram dirigidas por maestros como Daniel Barenboim, Christoph von Dohnányi, Pierre Boulez, Oliver Knussen e Antonio Pappano e interpretadas nas principais salas de concerto e nos principais festivais do circuito mundial.

Também a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, o incluiu variadíssimas vezes nos seus programas, nomeadamente nos 50 anos da instituição. Em 1974, a edição em vinil de The Triumph of Time pela Orquestra Sinfónica da BBC, dirigida por Pierre Boulez para a Decca, foi gravada “sob os auspícios da Fundação Calouste Gulbenkian”.

Notícia actualizada com comunicado da Casa da Música e data e hora do concerto em que se fará a estreia nacional de Nomos