Will Smith banido dos Óscares por dez anos
Academia anuncia castigo pela agressão de Smith a Chris Rock na última cerimónia. Organismo tem “profunda gratidão” a Rock por “ter mantido a compostura em circunstâncias extraordinárias”. Medida abrange quaisquer outros eventos ou programas da Academia, mas não impede actor de ser nomeado para Óscares.
O actor norte-americano Will Smith está impedido de estar presente nas cerimónias dos Óscares da próxima década. É a sanção aplicada pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, anunciada esta sexta-feira, pelo estalo dado ao comediante Chris Rock na 94.ª edição dos prémios e que a entidade descreve como “comportamento danoso”. Smith já reagiu, através dos seus representantes: “Aceito e respeito a decisão da Academia”.
A decisão foi conhecida ao final da tarde desta sexta-feira na sequência da reunião extraordinária dos Governadores da Academia, órgão a que coube deliberar sobre o acontecimento que marcou os últimos Óscares. Tendo já aceitado há uma semana a sua saída voluntária da Academia, a entidade vai ainda assim bani-lo por dez anos, a contar a partir de amanhã, 8 de Abril de 2022, de quaisquer eventos ou programas dos Óscares, em pessoa ou virtualmente — medida que inclui os Óscares, onde em 2023 não poderá cumprir a tradição de entregar o próximo Óscar de Melhor Actriz, mas não só.
Confirmou-se assim que não lhe será retirado o Óscar de Melhor Actor recebido por King Richard: Para Além do Jogo. Era uma medida extrema e que nem está formalmente prevista nos estatutos da Academia, mas era uma possibilidade aventada pelos mais críticos do comportamento do actor, que só pediria desculpas públicas a Rock um dia depois do sucedido e cuja imagem foi ficando mais danificada à medida que as horas passavam sobre uma das mais agitadas cerimónias dos Óscares de sempre.
As críticas à Academia também choveram nos últimos 12 dias devido à forma como geriu, no momento e nas primeiras 24 horas, o acontecimento que o mundo viu em directo e debateu fervorosamente nos dias seguintes. Há relatos contraditórios vindos tanto da Academia, quanto do produtor do espectáculo, Will Packer, bem como de fontes ligadas ao evento televisivo que foram ouvidas pela imprensa de Los Angeles sobre se foi ou não solicitado a Will Smith que abandonasse a sala, se lhe foi pedido que ficasse e qual a posição oficial dos responsáveis. A Academia, no comunicado enviado esta sexta-feira às redacções, entre as quais a do PÚBLICO, não esquece essa sombra que paira sobre a sua gestão.
“Durante a nossa transmissão televisiva, não encarámos a situação que decorria na sala de forma adequada”, admitem os presidentes da Academia, David Rubin e Dawn Hudson, numa carta que foi também enviada aos mais de dez mil membros da Academia após a reunião dos 54 governadores, que decorreu via Zoom. “Por isso pedimos desculpa.” A situação foi “o comportamento inaceitável e danoso” de Will Smith, um dos mais admirados actores da sua geração nos EUA, estrela de cinema de acção e comédia, figura agora incontornavelmente polarizadora.
“Teria sido uma oportunidade para darmos o exemplo perante os nossos convidados, os espectadores e à família da Academia em todo o mundo, e ficámos aquém — [estávamos] impreparados para [um acontecimento] sem precedentes.” No mesmo comunicado, a Academia expressa a sua “profunda gratidão” a Chris Rock por “ter mantido a compostura em circunstâncias extraordinárias”. A carta é rematada com uma esperança de que comece “um tempo para sarar” as feridas e “recuperação” para todos os envolvidos e para quem se tenha sentido afectado pelo acontecimento — duas das anfitriãs dos Óscares, as comediantes Wanda Sykes e Amy Schumer, manifestaram publicamente o seu desconforto pelo sucedido.
Na semana passada, Will Smith tinha-se já demitido da Academia, antecipando e esvaziando assim uma sanção de pendor mais grave e, ao mesmo tempo, mantendo em aberto uma relação com os mais prestigiosos e mediáticos prémios do cinema norte-americano — nomeadamente podendo estar presente em cerimónias futuras e ser nomeado para outros Óscares (para além daquele que recebeu pela primeira vez na noite de Março em que tinha acabado de esbofetear o comediante Chris Rock por este ter feito uma piada sobre a cabeça rapada de Jada Pinkett Smith, que sofre de alopécia). É o cenário que agora se confirma, mas que não alivia a tensão em torno da carreira e do futuro imediato do actor.
Smith tem um filme a que se chamaria “de prestígio” em fase de pós-produção na Apple TV+, Emancipation, um drama sobre a escravatura realizado por Antoine Fuqua. Este seria uma sequência perfeita para o estúdio que este ano deu ao streaming o seu primeiro Óscar de Melhor Filme, com CODA: um título com o vencedor do Óscar de Melhor Actor do ano anterior, um realizador conceituado, um tipo de história que a Academia adora nomear. Agora, é um título tóxico e não se sabe quando é que a plataforma o pretende estrear. Outros projectos de Smith, com a Sony ou a Netflix, estão em banho-maria até, provavelmente, serem eternamente adiados ou avançarem após o dissipar da nuvem mediática que ensombra a carreira do actor.