Quando o amor à região do Porto dá lugar a uma obra de arte

O Parque Nascente desafiou a comunidade local a expressar o amor à região do Porto. De várias mãos, com diferentes formas e idades, nasceram representações artísticas que ganham agora uma nova escala numa obra de arte colaborativa, inaugurada a 25 de Junho.

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Envolver a comunidade, criar espírito de pertença e proporcionar experiências que, de outra forma, seriam inacessíveis a grande parte da comunidade: estas são as premissas essenciais e transversais à dinâmica dos centros Klépierre, do qual faz parte o Parque Nascente, localizado em Gondomar. O projecto solidário Mãos com Vida, dinamizado por este centro comercial há já quatro edições, materializa na perfeição esta filosofia, através da promoção do bem-estar da comunidade local.

Com uma vertente social muito forte, o projecto do Parque Nascente tem vindo a ganhar dimensão graças à vontade que o público tem manifestado em colaborar e fazê-lo crescer ao longo dos anos, contextualiza Stéphanie Lopes, Marketing Manager da Klépierre em Portugal. Prova disso foi, por exemplo, a edição de 2019, em que a própria comunidade local sugeriu o leilão das peças que estavam em exposição. Feitas por jovens de uma associação da região, os fundos obtidos no leilão reverteram a favor dessa mesma instituição.

Já no ano anterior, os 1.250 quadrados em crochê feitos pelas mãos de quatro senhoras entre os 80 e os 90 anos e que inicialmente deram origem a cubos gigantes expostos no Parque Nascente, foram posteriormente transformados em mantas para aquecer crianças acolhidas pela Santa Casa da Misericórdia do Porto. Nesse ano, os mais de 500 novelos de lã utilizados pelas artesãs foram gentilmente cedidos pelos clientes do centro comercial. A iniciativa foi de tal forma bem-sucedida e aplaudida que acabou distinguida em duas categorias na 15.ª edição dos Prémios Eficácia 2019.

Na quarta edição, que teve início no período pré-pandemia, o desafio foi alargado à comunidade em geral com a premissa de que cada um pode criar algo grande e de forma disjuntiva”, explica a responsável de marketing.

#ArteComTodos: Artistas inusitados, expressão espontânea

Sob o mote #ArteComTodos, a quarta edição ano dirigiu-se a “pessoas com um caso sério de relacionamento de amor com a região do Porto”. O resto, faz parte do propósito maior da iniciativa: além de envolver a comunidade, provar que, independentemente do perfil e experiência de cada um, a arte é acessível a todos e que juntos somos capazes de criar algo grande e com impacto. Para tal, foram dinamizados dois workshops onde os participantes foram convidados a manifestar o sentimento pela cidade através de desenhos e peças em plasticina. Sem regras, sem medos e sem limites – tal como a arte deve ser.

Leonor Padilha
Alzira Pinto Alexandre Murtinheira
Teresa Padilha Alexandre Murtinheira
Isilda Luís Alexandre Murtinheira
Susana Vinhas Alexandre Murtinheira
Luís Cardoso Alexandre Murtinheira
Raquel Rafael Alexandre Murtinheira
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Leonor Padilha

“O #ArteComTodos decorre há mais de um ano”, conta Stéphanie Lopes, e “é um projecto denso” a vários níveis. A este desafio juntaram-se participantes com perfis muito diferentes, sem qualquer background na área artística. Aliás, a ideia era exactamente essa, adianta, “proporcionar uma experiência única a estes artistas inusitados e levá-los a expressarem, através de formas e cores, o amor pela região do Porto”. Das várias peças que nasceram desses dois momentos práticos, foi criada uma obra de arte monumental, com 25 metros de altura, que poderá ser contemplada no Parque Nascente, no Porto.

Centro de criação e de partilha

Bruno Pereira, do Lab Design/Departamento, encarregou-se de dirigir os trabalhos ao longo desta edição. Sobre a experiência, descreve-a como interessante e desafiadora. “A proposta de trabalho era inovadora para muitos dos participantes, pois a maioria deles nunca tinha feito algo assim, tão fora da sua zona de conforto”. Além da dinamização dos workshops, teve a missão de juntar todas as peças e uniformizá-las de forma a expressarem as diferentes visões da cidade numa peça só. Bruno não esconde o orgulho no projecto, destacando a oportunidade de “fazer algo em co-criação” e “acima de tudo, com pessoas sem passado artístico”.

Leonor Padilha Melo tem 29 anos e desde a escola que sempre gostou de trabalhos manuais. É advogada e viu nesta acção “a oportunidade de regressar ao passado, agora com outro espírito e outro conhecimento do que a arte verdadeiramente representa.” Com ela levou a mãe, Teresa Padilha, que aos 59 anos diz ter alcançado uma conquista, ao participar na edição #ArteComTodos e “poder criar algo que me diz muito”, confessa. Leonor complementa a ideia da mãe, ao partilhar que representar o Porto através da sua visão e das próprias mãos “revelou um sentimento de pertença, ao relembrar o que de mais bonito a cidade tem.”

Aos 45 anos, Susana Vinhas, operadora de call-center, diz que explorar o seu lado artístico foi como que “a descoberta de um talento adormecido.” Isilda Luís, quase 10 anos mais velha e actualmente desempregada, descreve a experiência como “um instante de criatividade”, no qual pode expressar o amor que nutre pela cidade. Já Luís Cardoso, que participou por insistência da namorada, confessa que a experiência resultou num desafio e que o acto criativo sempre o fascinou e lhe transmite um sentimento de alegria.

O Porto é “Azul Cale”

É sentimento mútuo que a região do Porto é bela e azul, pelo que a peça final, de 25 metros, foi baptizada de Azul Cale, com um toque de inspiração grega. Sobre a paixão comum pela cidade, o testemunho da actriz e professora Raquel Rafael, de 22 anos, descreve os momentos de workshop como uma oportunidade para “apreciar a cidade em colectivo, partilhar visões e sublinhar as diferentes cores que unem vizinhos.” Bruno Pereira confessa que não sabia bem o que esperar, por ter sido um “desafio às cegas”, brinca, e por não saber com que pessoas é que iria trabalhar e que tipo de capacidades artísticas naturais ou intrínsecas teriam. “Foi intenso, mas muito valioso aquilo que conseguimos em conjunto”, e acredita que isso será evidente ao ver a peça final, composta a partir dos desenhos e peças de plasticina criadas nos dois workshops.

Bruno Pereira relembra que “a criatividade faz parte do ADN humano”, mas é preciso estimulá-la. E deixa no ar uma provocação: “a arte é imprevisível, inquieta e faz reflectir”.

O Parque Nascente acredita que a arte está ao alcance de todos. Para o provar, dia 25 de Junho de 2022, a partir das 19h00, convida a comunidade local para a inauguração desta peça de arte colaborativa, cujo momento será acompanhado do talento de Júlio Resende, no piano.

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