“Bibliotecária, Feliz Páscoa”: cadernos perdidos de Darwin reapareceram

Saco com dois cadernos originais do famoso naturalista foi deixado num piso da Biblioteca da Universidade de Cambridge por um anónimo. Manuscritos vão estar expostos ao público neste Verão.

O caderno de Charles Darwin com a árvore da vida desenhada
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O caderno de Charles Darwin com a árvore da vida desenhada Stuart Roberts/Biblioteca da Universidade de Cambridge/Reuters
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A bibliotecária Jessica Gardner folheia um dos cadernos de Darwin Stuart Roberts/Biblioteca da Universidade de Cambridge/Reuters

Dois cadernos de notas pertencentes a Charles Darwin, desaparecidos há mais de 20 anos da Biblioteca da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, voltaram agora ao seu lar, anunciou a instituição. Um dos cadernos, datado de 1837, continha o famoso desenho da árvore da vida, que esquematizava a ideia da evolução desenvolvida pelo naturalista britânico do século XIX.

Desde Janeiro de 2001 que não se sabia do paradeiro dos dois cadernos, pertencentes ao Arquivo de Darwin daquela biblioteca. Mas só em 2020 é que se confirmou que os dois manuscritos tinham desaparecido. A instituição fez um apelo público mundial, juntamente com a Interpol e a Polícia de Cambridgeshire, para quem tivesse alguma informação sobre os cadernos entrar em contacto.

A 9 de Março último, passados 15 meses do apelo público, um saco cor-de-rosa choque apareceu num dos pisos do edifício da biblioteca, num local sem câmaras de vigilância. O saco continha uma caixa do arquivo e, dentro, os dois cadernos embrulhados em película. Além dos cadernos, havia ainda um envelope com a seguinte mensagem impressa: “Bibliotecária, Feliz Páscoa”. A assinatura resumia-se a um “X”.

“A minha sensação de alívio com o regresso em segurança dos cadernos é profunda e quase impossível de ser expressa adequadamente”, admite Jessica Gardner, bibliotecária responsável pelas Bibliotecas da Universidade de Cambridge, que lançou o apelo público, citada no site da instituição.

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Um dos cadernos perdidos de Charles Darwin Stuart Roberts/Biblioteca da Universidade de Cambridge/Reuters

Durante cinco dias, os responsáveis pela biblioteca tiveram de esperar pelo aval da polícia para poderem desembrulhar o pacote, adianta uma notícia da BBC News. Mas o nervosismo desvaneceu-se. Os cadernos foram bem tratados durante os anos que estiveram ausentes e estão em bom estado. Apesar dos manuscritos estarem agora a salvo, a investigação sobre o desaparecimento irá continuar.

“Tal como muitas outras pessoas por todo o mundo, fiquei devastada quando soube que os cadernos foram perdidos e a alegria do seu retorno é imensa”, diz a bibliotecária. “O único propósito do pedido que fizemos ao público era o de ter os manuscritos de volta à nossa guarda e em segurança, e estou encantada de termos sido tão bem-sucedidos num período de tempo relativamente curto.”

Um desaparecimento de décadas

Em Setembro de 2000, os cadernos foram requisitados para serem fotografados, um trabalho concluído dois meses depois. Em Janeiro de 2001, a biblioteca percebeu que a caixa que continha os cadernos não tinha sido devolvida. Durante as duas décadas seguintes pensou-se que os cadernos poderiam estar perdidos no meio dos cerca de dez milhões de documentos da instituição (entre livros, mapas, manuscritos e outros objectos).

Em 2020, Jessica Gardner organizou uma investigação de fundo aos arquivos à procura dos dois cadernos. Só então se compreendeu que eles tinham sido roubados. O passo seguinte foi a divulgação do apelo público, que teve uma grande repercussão a nível nacional e internacional, segundo a instituição.

“Acreditamos que a decisão [de fazer o apelo] teve uma relação directa com a devolução dos cadernos e gostaríamos de aproveitar esta oportunidade para apresentarmos o nosso agradecimento sentido ao público”, diz Jessica Gardner. “Os cadernos podem agora retomar o lugar que têm por direito ao lado do resto do Arquivo Darwin em Cambridge, no coração do património científico e cultural do país, lado a lado com os arquivos de Sir Isaac Newton e do professor Stephen Hawking.”

Numa espécie de agradecimento à resposta do público, a biblioteca irá expor os cadernos a partir de 9 de Julho, integrados na exposição Darwin em Conversa das Bibliotecas da Universidade de Cambridge.

“Estamos muito entusiasmados por expor os cadernos neste Verão, para dar a oportunidade a toda a gente de ver ao vivo estes cadernos notáveis”, adianta Jessica Gardner. “Eles podem ser pequeninos, terem apenas o tamanho de um postal, mas é inegável o impacto dos cadernos na história da ciência e a sua importância para a nossa colecção de nível mundial.”

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A árvore da vida desenhada por Charles Darwin, de 1837 Stuart Roberts/Biblioteca da Universidade de Cambridge/Reuters

A exposição pretende reconfigurar a vida e o trabalho de Charles Darwin, que marcou a ciência com a teoria da evolução das espécies, divulgada no seu livro de 1859 A Origem das Espécies. A elaboração da mostra conta com a ajuda das 15.000 cartas que o naturalista trocou com a sua vasta rede de correspondentes ao longo da sua vida.

“A exposição vai dissipar o mito de que Charles Darwin era um teórico solitário”, lê-se no comunicado da instituição. “As experiências e as suas interacções com uma grande variedade de pessoas foram uma chave para as suas descobertas e teorias que mudaram o mundo.”

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