Carrie Lam diz que não é recandidata à chefia do governo de Hong Kong

Os cinco anos do mandato de Lam ficaram marcados pela onda de contestação sem precedentes contra o governo local e a influência do Partido Comunista Chinês, e pela propagação da pandemia.

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Carrie Lam diz que não se vai recandidatar à chefia do Executivo de Hong Kong por razões familiares Vincent Yu / POOL / EPA

A chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou esta segunda-feira que não se vai recandidatar ao cargo nas eleições deste ano. Depois de um dos períodos mais turbulentos da história recente da metrópole administrada pela China, Lam justificou a saída com razões familiares.

Há vários meses que se especulava se Lam, de 64 anos, iria apresentar uma recandidatura para se manter mais cinco anos na chefia do governo local de Hong Kong, depois de um mandato marcado por uma onda de protestos sem precedentes e pelos efeitos da pandemia de SARS-CoV-2. A decisão foi finalmente conhecida esta segunda-feira durante a conferência de imprensa regular diária, disse o South China Morning Post.

“Irei concluir o meu mandato de cinco anos como chefe do Executivo a 30 de Junho e, oficialmente, terminar a minha carreira de 42 anos no governo”, afirmou Lam, sublinhando que se tratou de uma decisão pessoal tomada por razões familiares.

“Não é uma questão de avaliar a minha prestação ou a prestação do governo de Hong Kong ao longo deste mandato”, disse a dirigente. “Trata-se do meu desejo pessoal e das minhas aspirações. O meu desejo pessoal e as minhas aspirações são totalmente baseadas nas minhas considerações familiares”, acrescentou.

Em 2017, Lam, uma funcionária pública com uma longa carreira na máquina administrativa de Hong Kong, tornou-se na primeira mulher a chegar à chefia do Executivo da antiga colónia britânica. A escolha para este cargo é feita por um comité de mais de mil dirigentes que, na sua maioria, são seleccionados por estarem alinhados com o Partido Comunista Chinês, garantindo que o chefe do Executivo irá seguir as orientações de Pequim.

Foi o que aconteceu com Lam, que em 2019 enfrentou uma onda de protestos de enorme dimensão. Inicialmente, as manifestações foram motivadas pela oposição à entrada em vigor de uma lei de extradição que iria permitir o envio de suspeitos para a China continental, onde é aplicada a pena de morte e não existe independência judicial.

Porém, os protestos transformaram-se numa contestação generalizada, por vezes violenta, ao rumo político de Hong Kong, a sua aproximação a Pequim e à ausência de eleições livres e universais para cargos importantes, como o de chefe do Executivo. A lei de extradição acabaria por ser abandonada por Lam, mas em Junho de 2020, quando a pandemia da covid-19 estava no topo das preocupações, a China impôs a aplicação da lei da Segurança Nacional, que abriu caminho a uma criminalização de actos de crítica e oposição à China e às autoridades locais em Hong Kong.

Em pouco mais de um ano, foram detidas centenas de pessoas à luz desta legislação, quase todas por causa de actividades de cariz político. Os EUA impuseram sanções contra vários dirigentes de Hong Kong, incluindo Lam, por considerarem que a legislação põe em causa direitos e liberdades dos cidadãos que deveriam estar salvaguardadas pela Lei Básica, a mini-constituição do território em vigor desde a sua passagem para a soberania chinesa, em 1997.

Mais recentemente, a posição de Lam viu-se ameaçada pela eclosão de uma nova onda de casos de infecção pelo vírus SARS-CoV-2, que obrigou ao adiamento das eleições para a escolha do novo chefe do Executivo, que vão decorrer a 8 de Maio.

Com Lam fora da equação, o favorito passa a ser o secretário-chefe, John Lee, na prática o “número dois” do Executivo local. Antes de ser promovido, Lee teve uma carreira no aparelho de segurança de Hong Kong, tendo um papel importante na aplicação efectiva da legislação mais dura prevista pela lei de Segurança Nacional. Outros nomes que vão sendo avançados pela imprensa são os do actual secretário de Finanças, Paul Chan, e o antigo chefe do Executivo, Leung Chun-ying, mas ainda nenhum apresentou formalmente a candidatura.

Na declaração em que anunciou o fim da sua carreira, Carrie Lam deixou claro que a principal qualidade para quem quer que a venha suceder é a de perceber a dupla responsabilidade que irá passar a exercer: para com o povo de Hong Kong e o Governo central de Pequim.

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