Realizador lituano Mantas Kvedaravicius morto “de câmara na mão” em Mariupol

Autor do documentário Mariupolis estava a tentar sair da cidade quando o seu carro foi atingido por um míssil.

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Uma moradora de Mariupol atravessa a cidade devastada ALEXANDER ERMOCHENKO/Reuters

O realizador lituano Mantas Kvedaravicius foi morto sábado em Mariopol durante a guerra na Ucrânia, noticia este domingo a agência de notícias AFP, citando várias fontes. Mantas Kvedaravicius é autor do documentário Mariupolis (2016) e estava a tentar sair da cidade, ocupada pelo Exército russo.

“A ocupação russa matou o realizador lituano Mantas Kvedaravicius, autor do documentário Mariupolis, quando ele tentava sair de Mariupol”, anunciou o Ministério da Defesa ucraniano na sua conta oficial na rede social Twitter. Também o realizador russo Vitali Manski, que fundou o festival de cinema documental Artdocfest em Moscovo, confirmou o óbito, dizendo no Facebook que o documentarista foi morto sábado, “de câmara na mão, nesta guerra nauseabunda do mal contra o mundo inteiro”.

De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros lituano, também comunicando através do Twitter, Kvedaravicius foi morto quando “documentava as atrocidades de guerra da Rússia. O seu filme anterior, Mariupolis, contava a história de uma cidade sitiada com uma forte vontade de viver”, recorda ainda o órgão governamental do país europeu.

O jornal italiano Corriere della Sera detalha que um míssil de cruzeiro atingiu o automóvel em que seguia e que, apesar de ter sido levado de urgência para o hospital, morreu pouco depois.

Há pouco mais de uma década, na edição de 2011 do festival DocLisboa, Mantas Kvedaravicius trouxe a Portugal o seu filme Barzakh, sobre os desaparecidos durante a guerra civil na Tchetchénia. Esse filme recebeu na altura o Prémio de Cinema da Amnistia Internacional no Festival de Berlim.

Nascido em 1976, tem um trabalho fortemente marcado pela humanização dos conflitos bélicos na Europa e o seu nome junta-se agora ao de pelo menos 1276 civis, incluindo 115 crianças, já mortos após a invasão russa da Ucrânia desde 24 de Fevereiro. Os números da ONU vêm com um asterisco: provavelmente, admitem as Nações Unidas, o número real de vítimas civis deverá ser muito maior.

Mariupol, uma cidade que o realizador de 45 anos conhecia bem, situa-se na região de Donetsk, onde há combates entre forças pró-russas e ucranianas desde 2014. Em 2016, o cineasta lituano estreou Mariupolis no Festival de Berlim, sendo o seu título mais conhecido. O seu curto currículo conta ainda com uma longa de ficção, Partenon, de 2019.

“Perdemos um criador bem conhecido na Lituânia e no mundo, que até ao último momento, apesar do perigo, trabalhou na Ucrânia ocupada pela Rússia, descreveu o Presidente lituano, Gitanas Nauseda, citado pela agência de notícias Reuters. O gabinete da Presidência lituana forneceu ainda breves dados biográficos do realizador, como que estudou na Universidade de Vilnius e se licenciou em Antropologia Social na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. Era professor na Universidade de Vilnius.

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