Lisboa vai celebrar Abril com um programa que quer fazer da paz “palavra de ordem”
O programa “Abril em Lisboa” da EGEAC deste ano envolve conversas, teatro, música, arte urbana, colóquios, cinema ou exposições. A partir de 23 de Março e durante todo o mês de Abril, as comemorações do 25 de Abril vão espalhar-se pela cidade em locais como o Teatro São Luiz, o Cinema São Jorge, o Museu do Aljube ou as ruas de Lisboa.
Este ano, o programa “Abril em Lisboa” da EGEAC - Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural de Lisboa começa um mês antes do habitual já que a 24 de Março se celebra o momento em que os dias da democracia ultrapassam o tempo que Portugal passou em ditadura. Para comemorar os 48 anos do 25 de Abril de 1974, a empresa dirigida por Joana Gomes Cardoso apresentou esta terça-feira no Teatro São Luiz, o programa do município que arranca já esta semana com um concerto de Sérgio Godinho.
“Esta programação é diferente porque começa em Março, mas também porque é mais abrangente”, começou por explicar a presidente da EGEAC. Entre as diferentes actividades programadas, o vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Diogo Moura, destacou um colóquio internacional sobre democracia e ditadura na Biblioteca de Alcântara, a colocação de lápides evocativas do 25 de Abril em locais da cidade onde decorreram episódios revolucionários e intervenções de arte pública no Centro Cultural de Belém e nos pilares da Ponte 25 de Abril.
Por sua vez, o presidente da CML, Carlos Moedas, leu um poema sobre o 25 de Abril escrito pelo seu pai, José Moedas, conhecido jornalista e comunista no Alentejo. “O 25 de Abril para um jovem alentejano que nasceu em 1970 é tudo”, afirmou o autarca, recordando como esta data lhe permitiu seguir o percurso que o trouxe hoje à câmara de Lisboa, uma região que assegura não dar tanto valor ao mês de Abril como o Sul do país.
"Este momento exige reforçar a nossa identidade e recontar essa história [do Estado Novo e do 25 de Abril], de maneira a que não a esqueçamos. Para a minha geração, a liberdade é de tal forma adquirida que corremos esse risco”, defendeu, referindo que o momento de guerra que a Europa hoje atravessa, reforça a necessidade de não darmos a paz “por garantida”.
Uma programação que quer fazer da paz a"palavra de ordem” em Abril
Marcando o regresso do músico aos palcos, o concerto de Sérgio Godinho, já esgotado, que tem lugar esta quarta-feira no Campo Pequeno, pretende celebrar as quase cinco décadas de democracia. Ao músico, juntam-se Capicua, Filipe Raposo, Manuela Azevedo, Samuel Úria e Tó Trips como convidados, num palco que Sérgio Godinho já pisou ao lado de figuras como José Mário Branco e Fausto.
Do programa, consta também um projecto intitulado “48” que reúne “pensamentos, versos e aforismos” de 48 mulheres - escritoras, cantautoras ou poetas - que os lisboetas vão poder encontrar pintados no chão por diferentes zonas da cidade. Frases como “a liberdade é roubar a vida à morte” de Beatriz Hierro Lopes ou “enquanto houver gente a dormir no chão é dia de revolução” de Ana Deus vão marcar o espaço público de 2 a 25 de Abril.
Com base no espólio do Arquivo Ephemera, do historiador José Pacheco Pereira, Júlia Leitão de Barros e Carlos Nuno assinam a curadoria da exposição “Proibido por Inconveniente – Materiais das Censuras no Arquivo Ephemera, “a maior exposição sobre censura já feita em Portugal”, segundo Diogo Moura, que estará patente de 7 a 27 de Abril no Edifício do Diário de Notícias.
O Festival Política regressa a Lisboa, tendo por tema a desinformação “enquanto ameaça à democracia”, “factor de polarização, discriminação e marginalização de grupos populacionais” ou “elemento que mina a confiança nos meios de comunicação social e no jornalismo”, segundo o programa desta edição. Ao longo de quatro dias, o Cinema São Jorge será palco de filmes, performances, concertos, debates e espectáculos gratuitos de 21 a 24 de Abril.
No Museu do Aljube, entre 23 e 24 de Abril, o quarto andar desta antiga prisão política vai transformar-se numa pista de dança onde DJs como Luís Varatojo, Cândido aka DIDI, Surma e Tó Trips passarão música de intervenção, junto a um mural de “escrita, desenho e colagem” para o público “deixar o seu contributo em forma de arte” sobre os 48 anos de democracia.
No Teatro São Luiz juntam-se à programação habitual o espectáculo “Memórias de uma Falsificadora” de Joaquim Horta, um concerto de Luca Argel e uma série de conversas do Fumaça, por exemplo.
Entre as entidades que participam na lista de actividades da EGEAC, que quer que a paz seja “palavra de ordem” este ano, encontram-se ainda o Museu de Lisboa, o Museu da Marioneta, a Quinta Alegre, as bibliotecas municipais, o Gabinete de Estudos Olisiponenses, o Arquivo Municipal de Lisboa e a Fundação Mário Soares e Maria Barroso.