Canadá responde com sarcasmo a proposta de “resolução humanitária” da Rússia na ONU

Nas cerca de 30 edições e sugestões, as autoridades canadianas referem os bombardeamentos da Rússia a hospitais e maternidades ucranianas, os bloqueios a corredores humanitários, ataques a civis e referem-se ao projecto de resolução humanitária que a Rússia pretende apresentar como um documento “com zero lógica”.

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O embaixador da Rússia na ONU, Vasily Nebenzya, informou esta quinta-feira que não levará a votação na sexta-feira a sua proposta de "resolução humanitária” sobre a Ucrânia Reuters/DAVID DEE DELGADO

A missão do Canadá na ONU respondeu a uma carta da diplomacia russa sobre o projecto de resolução humanitária que a Rússia apresentou sobre a Ucrânia, publicando uma versão da missiva com cerca de 30 comentários, em tom sarcástico.

“Obrigado, Missão da Rússia da ONU, pela vossa carta datada de 16 de Março. Consulte as nossas edições sugeridas abaixo”, escreveu a delegação do Canadá no Twitter, partilhando a carta da diplomacia russa defendendo a resolução apresentada pela Rússia, em três páginas repletas de anotações, sugestões e pedidos de explicação, redigidos a vermelho.

A carta original da Rússia começa com a frase: “Estou a entrar em contacto em relação a um assunto urgente relacionado com a terrível situação humanitária dentro e ao redor da Ucrânia”. Na versão comentada da carta, a missão do Canadá incluiu no final da frase: “INSERIR: ‘que nós causámos como resultado da nossa guerra e agressão ilegais'”.

Nas cerca de 30 edições e sugestões, as autoridades canadianas referem os bombardeamentos da Rússia a hospitais e maternidades ucranianas, os bloqueios a corredores humanitários, ataques a civis e referem-se ao projecto de resolução “humanitária” que a Rússia pretende apresentar como um documento “com zero lógica”.

“Vocês acreditam que os membros da ONU realmente acreditam nisto?”, refere outra anotação do Canadá.

A carta da Rússia pede aos países da ONU que deixem de lado as posições políticas para “fazer todos os esforços possíveis para minimizar as consequências humanitárias para a população civil na Ucrânia”. Mas, segundo o Canadá, esse pedido russo não faz sentido, uma vez que é a própria Rússia a atacar os mais vulneráveis.

A resolução garantiria passagem segura para países fora da Ucrânia, principalmente para pessoal médico e populações vulneráveis. “Comentário: Como explicam as forças russas sitiando cidades, impedindo civis de fugir, recusando corredores humanitários e saqueando ajuda? Por favor, expliquem”, escreve o Canadá.

A delegação canadiana termina as suas anotações com um final alternativo e sarcástico à carta da Rússia: “Ao pedir que co-patrocine esta resolução ridícula que apresentamos no Conselho de Segurança, (...) queremos que saiba como pouco nos importamos com a vida humana que dizimamos na Ucrânia e quanto desdém temos por vocês, membros da ONU, e por toda esta instituição”.

O embaixador da Rússia nas Nações Unidas, Vasily Nebenzya, informou esta quinta-feira que não levará a votação na sexta-feira a sua proposta de resolução “humanitária” sobre a Ucrânia, um projecto que, segundo diplomatas, estava já “condenado”.

“Decidimos, nesta fase, não pedir uma votação sobre o nosso projecto, mas não estamos a retirar o projecto de resolução”, indicou o embaixador russo em declarações no Conselho de Segurança da ONU.

Na mesma ocasião, a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse ter “ficado momentaneamente satisfeita” ao saber que os russos retiravam de votação a “sua ridícula resolução humanitária, que estava condenada ao fracasso”.

A resolução sobre a Ucrânia elaborado pela Rússia foi vista por vários diplomatas como uma “hipocrisia”, tendo em conta que foi a própria Rússia a causar “esta guerra ilegal”.

O embaixador albanês, Ferit Hoxha, afirmou que a resolução russa é da “maior hipocrisia, do tamanho da Rússia”, e “deveria estar no livro de recordes do Guinness”.