A doca de Pedrouços, em Lisboa, vai ter um centro empresarial ligado ao mar

Terá como vizinhas as fundações Champalimaud e Gulbenkian a produzir conhecimento ligado ao mar. A ideia é que se instalem empresas, grandes e pequenas, para formar o “hub dos futuros unicórnios do mar”. Está orçado em 31 milhões de euros, que deverão chegar via PRR.

Foto
A par das naves da DocaPesca que vão ser requalificadas para instalar a Gulbenkian e a Champalimaud, será construída uma para colher este "hub azul"" LUSA/JOSÉ SENA GOULÃO

Primeiro, a crise pandémica, depois a “deplorável guerra na Europa”. Dois eventos que têm “aberto os nossos olhos” para os “riscos e para as limitações de um modelo económico excessivamente global”. Por isso, “ter um país e uma União Europeia mais autónomas do ponto de vista industrial, energético e alimentar” deve ser uma prioridade, diz o ministro do Mar, Ricardo Serrão Santos. O mar, claro está, e o desenvolvimento da chamada economia azul podem ajudar. Para tal, vai nascer em Lisboa, junto ao Tejo, um “hub do mar”.

Será um “pólo científico empresarial”, instalado nas degradadas Docas de Pedrouços, que aproveitará a vantagem de ter como vizinhas as fundações Champalimaud e Gulbenkian. No final do ano passado, as duas fundações anunciaram que ali pretendem montar centros de investigação ligados à neurociência, inteligência artificial e aos impactos das alterações climáticas na saúde. A ideia é precisamente aproveitar a investigação e o conhecimento científico que será produzido e transportá-lo para o mundo empresarial, numa meta “ambiciosa” de criar ali um “hub dos futuros unicórnios do mar”.

Esse objectivo foi “assumido de peito aberto” pelo presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, esta sexta-feira, numa cerimónia em que se oficializou o consórcio que quer tornar este pólo de empresas numa realidade. O município liderará o projecto, mas terá como parceiros a Universidade de Lisboa, a DocaPesca, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e o Fórum Oceano.

Para o autarca, é preciso corrigir um problema persistente: “a falta de ligação entre grupos de investigação às startups e das startups às empresas já estabelecidas”. Será uma forma, acredita, de as grandes empresas serem mentoras das mais pequenas para que possam fazer crescer a inovação ligada ao mar.

“Até agora conseguimos ter muito na área da ciência, algo na área da inovação, mas não temos conseguido ligar a ciência pura com aquilo que é a ciência aplicada e a inovação para termos empresas e criar oportunidades”, sustentou Moedas, admitindo até que este pólo terá grande importância a nível europeu.

Se em 2022 este projecto parece ganhar pernas para arrancar, já havia quem há algumas décadas o defendesse. “Chegou a ser discutido pelo Mário Ruivo [cientista e político português, pioneiro na defesa do oceano] e pelo Carlos Pimenta [que foi secretário de Estado e eurodeputado nas décadas de 80 e 90]”, disse Miguel Miranda, presidente do IPMA. “Há coisas tão inevitáveis que conseguem sobreviver às atribulações da vida das comunidades”, notou, também com um discurso ambicioso: “É a melhor localização da Europa para desenvolver uma comunidade virada para o mar.”

Se a componente empresarial tem sido insuficiente, o país não pode continuar a desperdiçar o potencial da “grande baía de Lisboa”, disse, atirando que deve ser objectivo “atrair a centralidade das operações do Atlântico”. “Está ao nosso alcance. Temos de captar empresas. Não interessa que sejam grandes ou pequenas. Interessa que sejam globais.”

Uma rede de hubs azuis

Não foi ainda apresentado um projecto concreto, mas a construção deste centro está orçada em 31 milhões de euros, que serão objecto de uma candidatura aos fundos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Ali, será instalado um espaço dedicado a um bio-banco nacional de recursos marinhos, laboratórios para prototipagem, entre outras actividades, disse o governante.

Na verdade, este “hub azul” fará parte de uma “rede” de outros centros a desenvolver pelo país, num investimento previsto de 87 milhões em equipamentos e infra-estruturas, que fazem parte dos 250 milhões dedicados ao mar previstos no PRR, detalhou Ricardo Serrão Santos.

Há 31 milhões que ficarão em Lisboa, mas estão previstos mais pólos para Matosinhos, Peniche, Oeiras e Algarve. E ainda a criação de um nos Açores, num investimento de 32 milhões de euros (fora do bolo dos 250 milhões.) “Teremos de ser menos extractivos e mais produtivos. Trabalhar na biotecnologia azul com as farmacêuticas, trabalhar nas engenharias, bio-refinarias, É preciso passar para a economia produtiva”, notou ainda o governante.

Apesar da ambição em querer fazer um “verdadeiro centro mundial da economia do mar na doca de Pedrouços”, com investigadores, empresários e empreendedores, não há ainda prazos para o projecto. Ainda que Moedas revele urgência: “É para fazer o mais rápido possível.”

Sugerir correcção
Comentar