Havia quatro candidatos 100% eléctricos ao prémio nacional que distingue a melhor solução automóvel do ano. Mas, num ano em que as soluções eléctricas se multiplicam (e em que o Kia EV6 foi Carro do Ano europeu) ainda não foi desta que um eléctrico vingou. Ainda assim, a energia mais limpa não foi desconsiderada, já que o Peugeot 308 é proposto com duas mecânicas híbridas de ligar à corrente, tendo convencido o júri com a mais potente, de 225cv, que conquistou a classe dos Híbridos Plug-In. Além disso, na forja há uma versão 100% eléctrica, que deverá chegar ao mercado em 2023.
Mas o modelo terá convencido os jurados também pelo design marcante, pelas tecnologias propostas, nomeadamente ao nível da segurança, e pelas capacidades dinâmicas, o que contribuiu para que arrecadasse o Seguro Directo Carro do Ano/Troféu Volante de Cristal 2022, um prémio que, organizado pelo Expresso e SIC/SIC Notícias, é atribuído por 20 jornalistas do sector, em representação dos respectivos órgãos de comunicação social, PÚBLICO incluído.
Na classe dos Híbridos Plug-In, o cinco portas apresentou a versão mais apimentada (e cara) da gama, que combina o 1.6 PureTech de 180cv a um engenho eléctrico de 81 kW, alimentado por uma bateria de iões de lítio de 12,4 kWh, que admite uma autonomia de até 59 quilómetros, o suficiente para se tornar elegível a beneficiar da Fiscalidade Verde, nomeadamente nas reduções do Imposto Sobre Veículos, na dedução do IVA e na redução de taxas da Tributação Autónoma. Importante notar que, mesmo após esgotada a bateria, os consumos se mantêm em valores de 6,0 litros. Outro ponto relevante é o trabalho ao nível das suspensões, que admitem um bom nível de conforto a todos os ocupantes, independentemente do tipo de piso. Em suma: o 308 é um carro muito fácil de se conduzir, que oferece um bom equilíbrio entre aderência e suavidade.
Já a outra categoria em que estava inscrito, a de Familiar do Ano, foi conquistada pelo Skoda Enyaq iV 80, automóvel 100% eléctrico que se distingue pela racionalidade, pelo imenso espaço, com bagageira XXL, boa versatilidade, uma segurança premiada (melhor na classe dos SUV grandes lançados em 2021, segundo o Euro NCAP) e, claro, preço competitivo: apresenta-se a partir de 38.776€ (o 50, de 150cv, com bateria para rolar 362 quilómetros), ainda que a versão submetida a concurso, de 204cv e autonomia para mais de 500 quilómetros, escale para valores menos aliciantes: a partir de 49.683€. Em termos dinâmicos, é um carro que potencia uma condução tranquila e despreocupada, ao mesmo tempo que traz uma série de soluções simples que facilitam a vida dos utilizadores dos seus veículos, desde um compartimento na porta para arrumar o guarda-chuva até um pequeno caixote de lixo. No caso do Enyaq, destaque para se poder equipar o carro com encostos para a cabeça tipo almofada, tornando-o muito amigo para quem se senta atrás. E, entre os extras, há opção de bancos com função de massagem.
Nas restantes classes, o Hyundai Bayon, um crossover do segmento B, com dimensões exteriores que o aproximam das soluções urbanas e espaço interior mais perto dos familiares compactos, conquistou a dos Citadinos, onde concorria com o Dacia Spring, solução 100% eléctrica pensada exclusivamente para os perímetros urbanos. Nas motorizações, a escolha não dá margem a grandes indecisões: o Bayon é proposto com uma única mecânica — o tricilíndrico a gasolina sobrealimentado 1.0 T-GDi, a debitar 100cv, que pode ser acoplado a uma caixa manual de seis velocidades (desde 20.200€) ou automática de dupla embraiagem e sete relações (a partir de 21.800€).
Já como Eléctrico do Ano foi distinguido o finalista Kia EV6, irmão do Hyundai Ioniq 5 (que se pontuou muito perto do vencedor), um 100% eléctrico que brinca entre as linhas de um SUV e de um coupé convencional, oferecendo cotas de habitabilidade muito generosas e um bom espaço para bagagem (entre 500 e 542 litros). Com bateria de 77,4 kWh e um motor de 168 kW (229cv), mostra-se capaz de, em circuito misto, circular cerca de 500 quilómetros com uma única carga, mas, na cidade, com pé leve, pode facilmente registar em torno de 700 quilómetros. O carro tem um preço de venda ao público de 50.250€, mas uma campanha de lançamento permite adquirir a versão mais básica a partir de 43.950€ (a GT Line, de 58.050€, está a ser proposta por 51.550€).
Ainda no campo da electrificação, a categoria de Híbrido do Ano foi reclamada pelo Toyota Yaris Cross, desenvolvido a partir de uma base de sucesso (o Yaris foi Citadino do Ano em Portugal no ano passado e Carro Internacional do Ano). Assente sobre a plataforma GA-B para modelos compactos (que faz parte da estratégia Toyota New Global Architecture), o Yaris Cross revela ser capaz de ter prestações rápidas, com respostas adequadas em situações urbanas, mas também fora do perímetro da cidade sem que o ponteiro do nível de combustível desça muito rapidamente, tirando proveito de um apurado sistema híbrido, capaz de absorver toda a energia proveniente da inércia para a colocar ao serviço da marcha. Os preços arrancam nos 24.390€.
Com o corpo da moda, o dos sport utility vehicles (SUV), a organização distinguiu entre os compactos e os grandes, tendo o Nissan Qashqai MHEV conquistado o primeiro galardão sem grandes surpresas, tendo em conta a história do veículo e as melhorias a que foi submetido nesta nova geração que, assente na plataforma CMF-C da Aliança, traz mais rigidez na torção e menos peso. A versão avaliada foi a de 158cv (desde 35.250€), gerido por uma caixa de variação contínua Xtronic com equipamento Tekna+ (a partir de 43.950€), em que o apoio eléctrico quase passa despercebido, ainda que faça a diferença quer nos consumos, quer nas emissões de gases poluentes. A segurança também lhe terá valido pontos extra: cinco estrelas nos testes Euro NCAP, tendo conseguido mesmo o título de melhor na classe dos SUV compactos.
Nos SUV grandes, voltou a ser um Kia a levar o troféu para casa, com o Sorento PHEV a convencer os jurados, pelo espaço a bordo, capaz de acomodar com conforto sete ocupantes, pelas tecnologias incluídas e até pela dinâmica apresentada que beneficia das quatro rodas motrizes de série. O plug-in, resultado da conjunção de um motor eléctrico de 66,9 kW (91cv) a um gasolina de 1.6 litros e 179cv, apresenta uma potência combinada de 265cv e um binário máximo de 350 Nm, o que garante prestações animadas sobretudo na aceleração: vai de 0 a 100 km/h em 8,7 segundos, o que é um feito para um carro deste porte. A aceleração máxima também não é envergonhada, atingindo os 193 km/h. E com bónus: graças ao sistema eléctrico, que se apoia num conjunto de baterias de iões de lítio com capacidade de 13,8 kWh, o Kia Sorento reclama 57 quilómetros em modo 100% eléctrico em circuito misto, sendo possível esticar esta autonomia livre de emissões se não se sair do perímetro urbano.
Por fim, a categoria dos Desportivos foi arrebatada pelo Peugeot 508 PSE, o mais potente automóvel de produção em série de sempre no cardápio da marca francesa, com dois motores eléctricos (um por eixo, de 81 kW à frente e de 83 kW atrás) a apoiarem um bloco a gasolina PureTech de 200cv. Resultado: nos modos Comfort (suspensões ainda mais suaves), Hybrid (para a optimização de consumos) e 4WD (que aumenta a aderência), há à disposição 330cv; no modo Electric, 140cv e a limitação de circular até 140 km/h. Já quando se acciona o modo Sport, liberta-se a potência máxima de 360cv, ao mesmo tempo que actua sobre a direcção, o amortecimento e o mapeamento do pedal do acelerador. Os preços também são de respeito, em torno dos 70 mil euros.
O júri — composto por representantes das revistas especializadas Auto Foco e Carros e Motores, os sites Motor 24, Razão Automóvel e Volante, o desportivo Record, os generalistas Correio da Manhã, Diário de Notícias e PÚBLICO, o económico Jornal de Negócios, o semanário Expresso, as revistas ACP, Exame Informática e Visão, os canais de televisão RTP, SIC/SIC Notícias, SIC Caras e TVI e as rádios Renascença/RFM e TSF — escolheu ainda, de um lote pré-seleccionado pela organização, a tecnologia que mais se destacou, tendo vencido o projecto V2X, da Bosch Car Multimédia, desenvolvido em Braga e que se foca nas várias vertentes autónomas, em que o veículo terá um cockpit inteligente de maneira a proporcionar uma viagem personalizada ao ocupante, tendo, ao mesmo tempo, noção do estado do próprio automóvel e do que o rodeia como o ambiente, outros veículos autónomos, veículos de duas rodas, peões, entre outros.
Já à organização coube escolher a figura que mais se destacou ao longo do último ano, tendo entregado o Prémio Personalidade do Ano a Miguel Sanches, vice-presidente de operações da Volkswagen do Brasil e América do Sul, que esteve seis anos à frente da Autoeuropa, incluindo parte do período da pandemia, ao longo da qual foram feitas adaptações profundas.