A guerra regressou à Europa e as bolsas tiveram um primeiro abanão
Bolsas europeias caíram entre 3% e 4%. Lisboa teve uma descida mais contida e só as acções das renováveis conseguiram fechar em alta. Em Moscovo a bolsa afundou 33%.
O regresso da guerra à Europa levou a uma queda acentuada das principais bolsas europeias e norte-americanas, deixando os investidores de sobreaviso à procura de activos de refúgio.
Os mercados de capitais mergulharam num ambiente de grande incerteza. O preço do petróleo escalou acima dos 100 dólares, a cotação do ouro ultrapassou os 1900 dólares por onça e, nas bolsas, as acções tiveram quebras significativas. Esse sentimento fez-se sentir logo nas primeiras horas da manhã, quando já estava consumado o ataque da Ucrânia pela Rússia, mas nas horas que se seguiram houve um abrandamento das desvalorizações.
As bolsas de Frankfurt e Paris fecharam a sessão com uma queda próxima de 4%. O índice alemão Dax encerrou a recuar 3,9% depois de ter estado a cair mais de 5% ao início da tarde e o parisiense CAC 40 terminou a baixar 3,8%.
Em sentido idêntico fechou a bolsa de Londres, com o FTSE 100 a recuar 3,8%, um valor ligeiramente abaixo do comportamento do mercado em Milão, onde o FSTE MIB caiu 4%.
O Bel 20, de Bruxelas, caiu menos de 2%, mas o AEX, de Amesterdão, já registou uma depreciação de 2,6%.
Em Portugal, a bolsa de Lisboa também chegou a cair mais de 4%, mas acabou o dia com um recuo menos intenso, ao descer 1,52% em relação ao fecho de quarta-feira. A cotação do BCP registou uma quebra superior a 8%, os títulos da Pharol tombaram perto de 6% e outras quatro empresas registaram igualmente quebras acentuadas, acima de 5%: a Mota-Engil, a Altri, a Sonae (grupo que detém o PÚBLICO) e a Navigator.
Apenas três cotadas registaram ganhos. Uma excepção pertenceu ao sector energético, com o mercado a sinalizar a aposta nas renováveis. A valorização traduziu-se em ganhos para a Greenvolt, a EDP e a EDP Renováveis, esta última com uma subida superior a 10%.
O índice de referência Stoxx 600, que agrega as maiores cotadas europeias, caiu 3,3% e o Euro Stoxx 50 desvalorizou-se 3,6%.
Foi na Bolsa de Moscovo que se verificou a maior queda. O MOEX enfrentou uma queda vertiginosa, de 33,28%. Durante a manhã chegou mesmo a recuar 45%, o que levou à suspensão temporária das negociações ao mesmo tempo em que o rublo registava uma forte descida em relação ao dólar norte-americano.
“As acções russas são as mais afectadas, uma vez que se espera que o Ocidente imponha sanções mais severas e sem precedentes à Rússia. No entanto, algumas acções europeias estão também a sofrer um forte golpe durante a sessão” desta quinta-feira, refere uma análise da XTB.
A Reuters refere que os bancos europeus mais expostos à Rússia, como o austríaco Raiffeisen Bank, o italiano UniCredit e o francês Société Générale, enfrentaram quedas abruptas. A imprevisibilidade do conflito tem sido sublinhada por analistas de mercado.
Reflexo da imprevisibilidade
Ipek Ozkardeskaya, analista do Swissquote Bank, disse à agência Reuters que, neste momento, é impossível apostar em qualquer cenário, “restando acompanhar de perto os últimos desenvolvimentos e estar pronto para mais volatilidade”.
Johanna Kyrklund, da área de investimento da Schroders, sublinhou que “a pior fase para o mercado é quando a incerteza está no seu auge” e, agora que a Rússia invadiu a Ucrânia, os mercados ficaram mais perto desse cenário. Mas, diz, “ainda não atingimos o ‘pico da incerteza’”.
Face ao agravamento que o conflito já conhecia nos últimos dias, um sinal negativo nos mercados surgiu nas praças asiáticas, à semelhança do que já acontecera no fecho da sessão de quarta-feira nos índices em Wall Street.
Entretanto, em Nova Iorque, o índice industrial Dow Jones recuava 1,8% por volta das 18h de Lisboa e o índice tecnológico Nasdaq estava próximo da “linha de água”, com uma ligeira descida de 0,043%.
Na Ásia e Pacífico, o Nikkei, da bolsa de Tóquio, fechou a cair 1,81%. Na China, o índice de Xangai recuou 1,7% e o índice de Shenzhen baixou 2,2%. Em Hong Kong, o principal índice recuou 3,6%. Na Austrália, o S&P/ASX 200 caiu 2,9%. O Kospi, sul-coreano, caiu 2,6%.
Notícia corrigida às 10h22 de 25 de Fevereiro de 2022
Rectificado o valor da cotação do ouro.