PCP acusa Estados Unidos de serem os “verdadeiros interessados numa nova guerra na Europa”
Uma vez mais, o PCP recusou condenar a invasão russa da Ucrânia com o líder parlamentar comunista, João Oliveira, a considerar que os EUA são os “verdadeiros interessados numa nova guerra na Europa”
Na comissão permanente da Assembleia da República, João Oliveira, líder da bancada do PCP, começou por expressar “profunda preocupação com os desenvolvimentos da escalada de confrontação política, económica e militar e com os sérios riscos que comporta essa confrontação”. A intervenção, que nunca condenou a operação militar em curso, acabou por suscitar um pingue-pongue parlamentar.
O líder da bancada comunista considerou que a situação exige do Governo português “uma intervenção que contrarie essa escalada de confrontação política, económica e militar, que contribua para o desanuviamento da situação e para uma solução negociada que garanta a paz”. Nessa linha, o deputado alegou que “o Governo dos Estados Unidos e o complexo industrial/militar americano são os verdadeiros interessados numa nova guerra na Europa e estarão certamente dispostos a sacrificar até ao último ucraniano ou europeu para promover”.
João Oliveira comparou a situação vivida na Ucrânia com o “mesmo problema” vivido na Jugoslávia, no Iraque, no Afeganistão, na Líbia ou na Síria, apontando o dedo à NATO. “É o problema da utilização da NATO como instrumento desses objectivos e o problema da subordinação da União Europeia à política belicista dos Estados Unidos e da NATO”, referiu.
Quanto ao recente discurso de Putin, o deputado comunista registou ter “afirmações que incorporam concepções próprias da Rússia czarista”.
Na resposta, o ministro Santos Silva disse concordar com “os princípios” da primeira parte da intervenção de João Oliveira, “com a denúncia dos que violam o direito internacional” e com a “denúncia da escalada da confrontação”. “Por isso, não percebo porque não aplica isso à actual situação”, disse, referindo que a Rússia tem colocado militares e material de combate junto à fronteira.
“Sim devemos ser contra a escalada militar, contra os que usam a guerra para impor relações políticas e económicas. É isso que Putin quer fazer. (...) em vez de usar a persuasão, usa a confrontação e, desde ontem à noite, usa a guerra”, disse. “É extraordinário que o senhor deputado tenha gasto mais de cinco minutos sem denunciar o acto de agressão. Ainda tem 13 segundos para o fazer”, desafiou.
João Oliveira concedeu. “Pede-nos que condenemos apenas uma circunstância, nós condenamos tudo o que foi feito até aqui”, argumentou. Santos Silva voltou a pedir a palavra para contestar a argumentação do PCP: “Sabe que essa técnica de querer condenar tudo ao mesmo tempo é o melhor disfarce para não condenar uma coisa em específico”.