Marco criou uma banda desenhada apocalíptica que quer chegar a todo o lado (e até ser um filme)
É uma banda desenhada de ficção científica, com novas páginas online todas as semanas, mas não quer ficar por aqui. Com As Crónicas do Tempo e do Espaço - Uluru, Marco Fraga da Silva quer criar o primeiro franchise transmedia português.
Uluru quer emancipar-se dos cuidados dos seus pais artificiais, o robô Talus e a entidade cibernética UCIA. Para isso, embarca numa viagem de exploração e autodescoberta pelo interior da Austrália. É esta a premissa de As Crónicas do Tempo e do Espaço - Uluru, da autoria Marco Fraga da Silva, estudante de doutoramento de Arte dos Media na Universidade Lusófona, que com esta história quer criar o primeiro franchise transmedia português.
“O Uluru é um jovem que faz parte de um programa de reinserção da espécie humana, num futuro longínquo, em que a espécie humana desapareceu da face da Terra. Passaram-se 200 mil anos, o nível médio das águas do mar aumentou e o mapa mundi alterou-se”, explica o autor. A este “primeiro arco narrativo” da história do protagonista juntar-se-ão mais “duas partes”.
"A intenção”, explica Marco, “é desenvolver à escala portuguesa uma espécie de Marvel Cinematic Universe, mas sem os super-heróis": “A ideia é criar um franchise português, que começa pela banda desenhada, mas depois chega a outra fase, em que as histórias são adaptadas para cinema, videojogos, jogos de tabuleiro, etc.” Todas as quartas-feiras há páginas novas para ver online, com ilustrações de Matthieu Pereira e colorização de Sofia Pereira
A história de Uluru acompanha Marco há já algum tempo. “Comecei a trabalhar na história do Uluru em 2011, quando estava a tirar o mestrado (…). Houve um dia em que sonhei com a narrativa e, quando acordei, escrevi duas ou três páginas A5”, recorda. Acabou por ser a inspiração da dissertação de mestrado e do doutoramento.
Agora, para além do universo ficcional de Uluru, está também a desenvolver a narrativa de todos os outros personagens que vivem nesse mundo. “Neste momento, estou a publicar a história do Uluru online, mas tenho outras histórias que estão a ser produzidas em simultâneo, com outros ilustradores”, explica. Como Leviathan que, por sua vez, terá uma sequela, Coração de Dragão. “Leviathan é uma espécie de conto de piratas, com as personagens que integram o tal universo expandido que falei. Tem uma história muito interessante e vai ter um formato que acho que poucas histórias têm. É um projecto híbrido, que mistura literatura e banda desenhada.”
Marco está ainda em trabalhar em títulos mais curtos, uma forma de explicar as pontas soltas presentes no universo que está a criar. “Estou a desenvolver cerca de dez pequenas histórias que fazem parte deste universo e são importantes para (...) dar respostas a questões que são levantadas nas narrativas de maior fôlego.” E não é apenas por terras longínquas que passa a imaginação do criador faialense de 40 anos. “Tenho também outra história que se passa em Lisboa nos anos 2040, que se chama Limpatudo, Lda. Deverá ser ilustrada por Inês Fetchónaz, mas ainda estou na fase de acabar o guião.”
Não esconde que gostava de publicar todas as histórias em livro. Para isso, pondera recorrer a uma campanha de crowdfunding no Verão, “para tentar perceber quem está interessado em ter uma versão física, impressa, de capa dura e a cores, com papel de boa qualidade”. E já tem uma editora interessada, a brasileira Quadriculando, “que se mostrou disponível para produzir uma versão em português e outra em inglês”.
Para já, a banda desenhada está disponível em português, francês, inglês e mandarim, no site oficial d’As Crónicas do Tempo e do Espaço, mas também nas plataformas de webcomics Tapas, Webtoons e a francesa Flowfo. “Tinha a necessidade de chegar a um público o mais alargado possível. Julgo que a história do Uluru é bastante universal. Pareceu-me bem tentar atingir um público o mais abrangente possível e a forma mais simples de o fazer era mesmo publicar em várias línguas e chegar a vários mercados.”
Ainda há, contudo, obstáculos a ultrapassar: na sua opinião, o “boom de produção de banda desenhada por autores portugueses” dos últimos anos não tem sido acompanhado por um aumento das vendas. “O público leitor nacional não está a acompanhar o boom que está a haver a nível do storytelling, e da qualidade gráfica e visual, o que é uma pena. As pessoas neste momento têm muitas distracções, e a banda desenhada é simplesmente mais um meio de comunicação. Espero que as pessoas estejam atentas nos próximos anos, porque há coisas mesmo muito boas a serem feitas.”
Texto editado por Amanda Ribeiro