Líderes europeus preparados para aprovar pacote “muito completo” de sanções contra a Rússia
Os 27 vão responder a uma agressão à Ucrânia com medidas punitivas em três níveis: económicas, financeiras e sobre o sector da energia. Em paralelo, vão desenhar um “plano de contingência” para apoiar os Estados-membros mais expostos à retaliação de Moscovo.
A União Europeia já fechou um pacote de sanções contra a Rússia “muito completo e muito duro”, que será aprovado “tão depressa quanto possível” em caso de agressão ou ofensiva militar em território da Ucrânia, confirmou esta quinta-feira o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança, Josep Borrell, minutos depois de obter o apoio unânime dos 27 chefes de Estado e governo, numa reunião informal antes do arranque da 6.ª Cimeira entre a UE e a União Africana.
“Se houver uma agressão [da Rússia à Ucrânia], teremos imediatamente uma reunião extraordinária para a aprovação deste pacote”, que contempla medidas punitivas em três níveis distintos: económicas, financeiras e sobre o sector da energia, anunciou Josep Borrell. “Quando chegar o momento, agiremos com determinação”, prometeu, sem querer contudo especular sobre qual será esse momento.
A questão foi abordada pelos líderes europeus, na reunião informal convocada pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que como sempre acontece quando são discutidas matérias sensíveis de política externa, decorreu sem equipamentos electrónicos na sala, e sem tomada de notas.
Segundo o PÚBLICO apurou, depois de uma apresentação sucinta do conteúdo do pacote de sanções — que vão incidir sobre as trocas comerciais, o acesso ao financiamento e o abastecimento de energia —, houve uma breve discussão sobre o seu possível impacto no lado europeu, com os 27 a concordarem que será preciso desenhar, em paralelo, um “plano de contingência” para apoiar os Estados-membros mais expostos a uma retaliação da Rússia.
O plano europeu foi concertado com os Estados Unidos, Canadá, Reino Unido e também com a Suíça, de forma a garantir que o regime russo ficará efectivamente privado de aceder ao sistema bancário internacional.
Os líderes também terão trocado pontos de vista sobre o possível “gatilho” do pacote de sanções, sem necessariamente terem chegado a uma conclusão. Essa será sempre uma decisão política ao mais alto nível, disse ao PÚBLICO uma fonte europeia, pelo que ficou em aberto a convocação de um Conselho Europeu extraordinário, se vier a ser necessário.
No final do encontro, o presidente do Conselho Europeu fez um resumo em quatro pontos da conversa a 27, destacando a “unidade sem falha entre os Estados-membros da UE e com os parceiros da NATO”; o seu “apoio e total solidariedade com a Ucrânia”, e a “firmeza na defesa dos nossos valores” — que se manifesta na “preparação para defender a paz e a estabilidade na região”. Num último ponto, Michel apontou para os esforços diplomáticos que prosseguem em vários níveis, e que, acredita, “ainda podem dar resultados tangíveis de uma solução pacífica” para a crise.
Essa já tinha sido a mensagem da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, antes de chegar ao edifício do Conselho Europeu. “A diplomacia ainda não falou a sua última palavra, e por isso temos esperança que dos esforços em curso saia uma solução para a crise, e a paz prevaleça”, afirmou.
Von der Leyen não se referiu aos relatos de “tiroteios intensos” e combates em curso no território ocupado pelos separatistas russos na região do Donbass, mas sublinhou, tal como o secretário-geral da NATO e o Governo ucraniano, que os últimos desenvolvimentos no terreno não vão no bom sentido. “Ouvimos a Rússia dizer que retirou as suas tropas, mas não vimos nenhum sinal de desescalada no terreno. Pelo contrário, o que vemos é que a mobilização continua”, criticou, garantindo que a UE “não baixará a guarda”. “Estamos preparados para o pior”, disse.
Josep Borrell, como vários outros líderes, manifestaram a sua “extrema preocupação” com a evolução da situação nas últimas horas, em que foram reportados disparos de artilharia, bombardeamentos e confrontos entre rebeldes separatistas e forças governamentais em várias localidades das regiões de Lugansk e Donetsk.
“Temos tiros, bombas e uma forte campanha de desinformação do lado russo para criar uma atmosfera de alegados ataques nesta parte da Ucrânia”, observou o chefe da diplomacia europeia, que lembrou ainda o recente “voto da Duma para reconhecer a independência destas duas supostas repúblicas separatistas” como um factor adicional de preocupação.