Investigadores Champalimaud ilustram como cérebro aprende movimentos

Trabalho publicado na revista Science Advances.

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Neurónio do estriado e pipeta usada para o registo de actividade neuronal Nicolas Morgenstern

Investigadores da Fundação Champalimaud afirmam ter descoberto um novo circuito de comunicação entre células cerebrais que poderá explicar a capacidade de aprender novos movimentos, desde tocar piano a andar de bicicleta.

Num estudo publicado esta quarta-feira na revista Science Advances, descrevem como células da camada externa do cérebro - o córtex - enviam sinais para uma área profunda - o estriado - através de um circuito até agora desconhecido e especulam que distúrbios neste circuito poderão estar ligados a doenças neurológicas como a Parkinson.

“Estamos interessados em entender se este circuito é afectado em distúrbios como Parkinson ou a doença de Huntington”, afirmou o autor e líder do estudo Rui Costa, da Universidade de Columbia e da Fundação Champalimaud, considerando que “ainda há muito para explorar”, mas que o estudo permite perceber melhor como se aprende o movimento.

Usando um processo chamado optogenética​, os cientistas conseguem perceber as relações entre as células do cérebro de ratinhos de laboratório, modificando-as geneticamente e usando luz para estimular umas e estudar a resposta das outras.

À partida, os investigadores sabiam que dois tipos de células do córtex, os neurónios IT (intra-telencefálico) e TP (trato piramidal), enviam sinais para a zona mais profunda do cérebro, “muito importantes para a aprendizagem motora”, que estão relacionadas com doenças como a Parkinson, que afectam o movimento.

Estas contactam com os neurónios SPN (neurónios espinhosos médios), que compõem 95% do corpo estriado, mas através da optogenética, descobriram que há um outro tipo de células envolvidas na comunicação entre o córtex e o corpo estriado.

Os neurónios TP ligam-se a estes “intermediários” chamados CHI (interneurónios colinérgicos estriatais), estes libertam um neurotransmissor chamado acetilcolina que estimula os SPN do corpo estriado.

Essa ligação secundária coexiste com a ligação directa entre os neurónios do córtex e os do corpo estriado e os cientistas admitem que a ligação directa seja responsável por preparar acções específicas e a secundária desencadeie os movimentos propriamente ditos.

“Isso pode ser importante para o comportamento, já que a aprendizagem acontece quando há uma mudança nas conexões entre as células cerebrais”, refere o investigador Nicolas Morgenstern, primeiro autor do estudo.