A urina e as fezes dos cães que passeiam nas reservas naturais estão a perturbar os ecossistemas

Os excrementos de cães deixados em reservas naturais estão a ameaçar a biodiversidade e a vida selvagem, alerta um estudo belga. “Os donos devem recolher as fezes do seu cão e manter o animal preso para limitar a possível propagação de danos”, apelam os investigadores.

Foto
Cottonbro/Pexels

Passear por florestas ou prados de uma reserva natural poderá ser uma tarde ideal para os cães, mas a urina e as fezes que deixam para trás podem causar sérios danos a estes frágeis ecossistemas, mostra um novo estudo realizado por investigadores belgas.

As excreções de cães contêm elevados níveis de azoto e fósforo, uma combinação perigosa para ecossistemas de reservas naturais na Bélgica e em toda a Europa Ocidental e partes dos Estados Unidos que dependem de solos com baixo teor de nutrientes. A nutrição excessiva prejudica a vida selvagem e a biodiversidade, atraindo plantas que gostam do azoto, tais como urtigas, pastinaga de vaca (Heracleum) e cicuta, que são conhecidas por se propagarem rapidamente, de acordo com o estudo.

Um dos pontos principais a reter, diz Pieter De Frenne, autor principal do estudo, da Universidade de Gent, é que os donos devem recolher as fezes do seu cão e manter o animal preso pela trela, para limitar a possível propagação de danos.

“Apanhar as fezes é uma mensagem importante para os donos de cães, com base neste estudo”, afirma. Se os cães andarem presos pela trela e pelos trilhos, diz, “95% dos outros locais são poupados”.

Os cientistas documentaram os efeitos negativos que a poluição provocada por automóveis ou fertilizantes pode ter na biodiversidade de uma área, ao perturbar o equilíbrio de nutrientes do solo. Os elevados níveis de pH na urina de cães também foram considerados como sendo potencialmente nocivos para a erva, árvores e outras plantas.

Mas ainda era preciso analisar em que medida a excreção de cães afecta as reservas naturais, que ficam cada vez mais próximas de áreas urbanas ou povoadas.

No estudo, publicado a 6 de Fevereiro na revista britânica Ecological Solutions and Evidence, os investigadores descobriram que nas quatro reservas naturais belgas que observaram, os cães domesticados excretaram mais de dez quilos de azoto e mais de quatro quilos de fósforo anualmente, por hectare. Em comparação, declara De Frenne, o norte da Bélgica apresenta uma média anual de 21,9 quilos de poluentes de azoto não naturais — cerca do dobro da quantidade proveniente de cães. “Isto é realmente substancial”, diz.

Nos casos em que os cães andam com trela e por um trilho específico, os níveis de azoto e fósforo disparam ao longo do caminho para níveis “superiores aos limites legais permitidos em terras agrícolas”, refere De Frenne. Noutros locais da reserva, no entanto, os níveis de nutrientes são muito mais baixos.

Da mesma forma, quando as fezes de cão são removidas, os níveis de nitrogénio caem cerca de metade e menos de 97% de fósforo chega ao solo.

Ao contrário de um pequeno parque numa cidade, as reservas naturais na Bélgica e em toda a Europa Ocidental são geridas de forma a reduzir os níveis de nutrientes no solo para proteger a biodiversidade e a vida selvagem da área. Algumas destas técnicas incluem a ceifa, a remoção do feno e do solo superior, e a fitoextracção, ou a utilização de plantas para remover as impurezas no solo.

“Ao permitir também a presença de cães, especialmente se as fezes não forem recolhidas, estes esforços de gestão, para os quais muito trabalho e dinheiro são canalizados, são em certa medida contrariados”, sublinha De Frenne.

A equipa da Universidade de Gent passou 18 meses a contar o número de cães em quatro reservas naturais nos arredores da cidade belga. Classificaram cada cão de acordo com o uso de trela e monitorizaram a frequência com que as pessoas que acompanhavam os animais apanhavam as fezes.

No total, a equipa observou 1629 cães durante 487 visitas às reservas naturais. “É evidente que os níveis de fertilização por cães aqui estimados são susceptíveis de exercer efeitos negativos na biodiversidade e funcionamento dos ecossistemas de vegetação rica em espécies que são frequentemente procuradas na gestão das florestas e da natureza”, concluiu o estudo.

Os ecossistemas das reservas estudadas são semelhantes aos ambientes de toda a Europa, onde existem cerca de 87 milhões de cães.

Exclusivo PÚBLICO/The Washington Post

Sugerir correcção
Comentar