Ulisses, retrato do romance quando arte total
Ulisses, de James Joyce, foi publicado em 2 de fevereiro de 1922, há precisamente cem anos. Republicamos a crítica que o PÚBLICO fez da tradução de Jorge Vaz de Carvalho, saída em 2014 pela Relógio D’Água, e à qual o crítico literário atribuiu a pontuação máxima de cinco estrelas.
Stanislaus Joyce, generoso guardião do irmão, e notável ressentido, descreveu Ulisses como “o dia mais longo da literatura”, e uma das personagens do romance (Bloom) dirá mesmo, a dada altura: “Tem sido um dia invulgarmente fatigante” (p. 494). Como é sabido, a acção do grandioso romance de James Joyce concentra-se num único dia: 16 de Junho de 1904, em que se deu o primeiro passeio de James e Nora. Partindo dessa data de importância decisiva para o seu cosmos pessoal, Joyce efabulou um dia de Dublin fraccionado pelos corpos e pelas mentes de três personagens cuja centralidade vai sendo disputada, questionada, refeita: Leopold Bloom, Molly Bloom (a sua mulher, prestes a reincidir no adultério) e Stephen Dedalus. Nada, contudo, é assim tão simples, nesta enorme narrativa — Joyce chamou-lhe enciclopédia —, fulgurante desautorização de modelos que se estendem desde a Grécia arcaica até à contemporaneidade do autor.
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