Taxa de juro da dívida alemã a dez anos regressa a valores positivos
Alemanha era o único país da zona euro ainda com taxas de juro abaixo de zero na dívida a dez anos. Tendência de subida deverá ser para manter.
Pela primeira vez desde 2019, a taxa de juro da dívida pública alemã a dez anos, uma das principais referências no mercado obrigacionista em todo o mundo, registou nesta quarta-feira um valor positivo, numa confirmação da tendência de subida dos custos de financiamento dos Estados na zona euro.
De acordo com a agência Reuters, a taxa de juro do Bund a dez anos registada nas transacções realizadas no mercado secundário atingiu, durante esta manhã, os 0,025%. Desde 2019, antes do início da pandemia, que este indicador se encontrava em valores negativos, o que na prática significava que os investidores estavam dispostos a pagar juros para deterem os títulos de dívida a dez anos emitidos pela Alemanha.
A Alemanha era o último país que, nas dívidas com dez anos de maturidade, ainda registava taxas de juro negativas.
No caso de Portugal, onde as taxas de juro também têm vindo a subir, a taxa de juro da dívida a dez anos encontra-se neste momento na casa dos 0,6%, tendo também chegado a atingir valores negativos no final de 2020.
Confirma-se assim que o período de taxas de juro extremamente baixas que se tem vivido na zona euro durante os últimos anos pode estar a chegar ao fim. Com a taxa de inflação aos níveis mais altos desde a criação do euro, o Banco Central Europeu (BCE) prepara-se para, no decorrer deste ano, retirar progressivamente as medidas de estímulo à economia que lançou durante a pandemia. Em Março próximo, colocará um ponto final no programa de compras líquidas de títulos de dívida pública lançado para reagir à pandemia — o PEPP — e irá começar a reduzir progressivamente a dimensão do programa de compras de dívida que já estava em vigor antes da crise.
Estas compras de dívida do BCE têm sido decisivas para manter as taxas de juro a níveis muito baixos ao longo dos últimos anos.
Em relação às taxas de juro de referência do BCE (usadas nos empréstimos de curto prazo concedidos aos bancos), e que estão há vários anos a zero, os responsáveis do banco central têm dado a entender que uma subida não ocorrerá durante este ano, uma vez que acreditam que a recente subida da inflação será um fenómeno passageiro.
No entanto, nos mercados, como revela a subida das taxas de juro de longo prazo da dívida pública dos países da zona euro, já se está a antecipar este movimento, principalmente na expectativa de que as subidas de taxas que a Reserva Federal deverá brevemente realizar nos EUA possam vir a colocar o BCE ainda sob maior pressão para agir.