Doze chefes de equipa das urgências do hospital de Beja pedem demissão

Os 12 chefes de equipa de Medicina Interna consideram que “as condições actuais não permitem assegurar cuidados aos doentes com a qualidade e segurança devidas” no Serviço de Urgência.

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Doze chefes de equipa das urgências do Hospital José Joquim Fernandes, em Beja, apresentaram esta terça-feira o pedido de demissão dos seus cargos, alegando não terem condições para tratar dos doentes com qualidade e segurança, sobretudo devido à falta de médicos e sobrecarga de trabalho.

No pedido de demissão, os 12 chefes de equipa de Medicina Interna consideram que “as condições actuais não permitem assegurar cuidados aos doentes com a qualidade e segurança devidas” no Serviço de Urgência (SU) do hospital de Beja, gerido pela Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (ULSBA).

Por isso, os especialistas apresentaram a demissão dos cargos, “até que seja feita uma reavaliação da situação” do Serviço de Urgência, “com resolução da carência de recursos humanos médicos e reapreciação das competências dos chefes de equipa”.

Os médicos referem que a decisão de apresentarem a demissão foi tomada “em virtude de uma situação ‘arrastada’ de declínio das condições de trabalho e de organização” do Serviço de Urgência, “para a qual foi solicitada a atenção do conselho de administração” da ULSBA, “por inúmeras vezes, sem qualquer resposta efectiva”.

Os chefes de equipa demissionários consideram “aceitável um prazo de duas semanas para agendamento de uma reunião entre os elementos interessados” e avisam que, “na ausência de resposta, estão previstas medidas adicionais”.

Os 12 chefes de equipa também já pediram escusa de responsabilidade civil, juntamente com mais quatro médicos especialistas do Hospital José Joquim Fernandes.

Segundo os médicos demissionários, a pandemia de covid-19 “veio agravar as condições, já de si precárias, em que o trabalho é desenvolvido” nas urgências do hospital. A “sobrecarga de trabalho trazida pela pandemia atingiu maioritariamente o serviço de Medicina Interna”, cujos elementos viram a sua carga laboral diária e semanal aumentar por vários motivos.

“Grande desgaste físico e mental”

A criação do Serviço de Urgência de Covid-19, onde “a observação de doentes está praticamente à responsabilidade exclusiva da equipa de Medicina Interna”, do serviço Medicina de Covid-19, com “consequente expansão do número total de camas à responsabilidade” desta especialidade, da consulta de “follow-up-covid-19”, nos mesmos pressupostos, tal como “outras solicitações extras”, são alguns dos motivos invocados.

Os médicos destacam que, durante este período, o Serviço de Medicina Interna “sofreu” uma “redução” de elementos, “ao invés de um reforço”, apesar de ter “aumentado a abrangência da sua área de intervenção”.

Segundo os signatários, “só em 2021, os assistentes hospitalares do Serviço de Medicina Interna realizaram uma média de 600 horas extraordinárias” e, actualmente, apresentam “grande desgaste físico e mental”.

A par destas problemáticas, os 12 médicos também salientam a inexistência de um director do Serviço de Urgência, a indefinição do papel de chefe de equipa, “a ausência sistemática, e cada vez mais frequente, de elementos do atendimento geral, sobrecarregando a especialidade de Medicina Interna”, e a “referenciação sem critério” de utentes dos centros de saúde e dos serviços de urgência básica para o Serviço de Urgência do Hospital José Joaquim Fernandes.

Lamentam “a necessidade crescente de transportes pela Medicina Interna a partir do Serviço de Urgência” para outros hospitais, o “que deixa muitas vezes” a equipa daquela especialidade “desfalcada, com apenas dois elementos (e pontualmente com um)”. “Sendo que, se um deles estiver” no Serviço de Urgência de Covid-19, “resta apenas um elemento de Medicina Interna para dar resposta a toda a urgência para as restantes doenças (e durante o período nocturno a todo o hospital)”.

Os médicos também criticam “a inexistência de contratação de internistas externos para colmatar as falhas na escala ou por motivos de baixa médica, sendo estas exclusivamente asseguradas pelo staff interno ou não sendo asseguradas de todo”.

O documento com o pedido de demissão foi assinado pelos 12 chefes de equipa e enviado à presidente do conselho de administração, Conceição Margalha, ao director clínico de Cuidados Hospitalares, José Aníbal Soares, e ao director do Serviço de Medicina Interna, José Vaz.

Outros seis médicos do hospital de Beja subscreveram o documento em sinal de solidariedade para com os 12 chefes de equipa demissionários.