A “catedral” e o catedrático

A dita meritocracia traduz-se, na prática, no poder despótico de catedráticos que rapidamente atingiram o topo, isto é, sem qualquer concorrência para, depois, aceitarem sem pestanejar o bloqueio das carreiras de quem estava na fila.

Pelo seu historial, pelo aparato e ritualismo que a caracteriza, a Universidade pode considerar-se uma autêntica “catedral”. Já publiquei no passado alguns artigos de opinião em que questionei a erosão da democracia, quer enquanto sistema político quer no interior das instituições, nomeadamente no seio do ensino universitário. Mas só posso escrever este texto porque ainda vivemos em democracia. E digo ainda, não porque imagine fantasmas de regresso à ditadura no curto prazo, mas porque o atual sistema de ensino superior – e isto não é novidade, eu próprio já o escrevi – tornou-se mais um domínio onde prevalece o protocolo, a hierarquia, o cerimonial e o poder tutelar dos “padrinhos” (a começar no caloiro e a terminar no catedrático ou no próprio reitor), do que um clima caracterizado pela democracia interna, pela transparência, pelo espírito crítico e pelo ambiente fraterno. A universidade foi sacralizada desde a sua origem, enquanto a “cátedra” foi erigida em mito supremo no seio das catedrais académicas. Um mito que por vezes tem pés de barro, mas ainda assim excessivamente venerado.

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