Perspectivas lusófonas para 2022
O facto de o Brasil ter conseguido manter a sua unidade nestes dois séculos é motivo de celebração: não só pelos brasileiros, mas por toda a CPLP.
O ano de 2021 acaba novamente sob o espectro da pandemia, mas esperamos que o novo ano que aí vem seja realmente um ano de viragem – não apenas em relação à pandemia, mas também no que respeita à Lusofonia.
A esse respeito, o ano de 2021 trouxe alguns bons sinais, sobretudo com a nova Presidência da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), assumida por Angola, que reiterou o seu empenhamento na nossa comunidade, apostando numa maior cooperação económica.
Para o avanço real da CPLP, não bastam, contudo, Portugal e Angola – e todos os demais PALOP: Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa. Sem esquecer Timor-Leste, o Brasil é uma peça fundamental deste tripé, deste triângulo atlântico. Tal como a União Europeia só funciona verdadeiramente com o eixo franco-alemão, também a CPLP só avança quando este triângulo está activo.
Depois de um ano em que a pandemia foi particularmente danosa no Brasil, esperamos que este nosso país-irmão reencontre o seu rumo. O ano de 2022 será, a esse respeito, um ano assaz importante: não apenas pelas eleições presidenciais, mas também por ser o ano do bicentenário da sua independência.
Tal como Portugal, que parecia estar destinado à dissolução numa península ibérica sob a hegemonia de Castela mas que conseguiu afirmar a sua independência, também o Brasil conseguiu contrariar o destino de fragmentação que se estendeu a toda a restante América castelhanófona. Duzentos anos depois, só o facto de o Brasil ter conseguido manter a sua unidade é motivo de celebração: não só pelos brasileiros, mas por toda a CPLP (na medida em que esta não põe em causa, antes reforça, a independência de cada um dos seus países).
Duzentos anos após da sua independência, esperamos também que o Brasil ultrapasse de vez a sua tentação freudiana de “matar o pai” – ainda bem evidente, por exemplo, há cem anos, na célebre “Semana de Arte Moderna” (1922). Por mais “verdades alternativas” que nos queiram impingir, se o Brasil se mantém unido duzentos anos depois, é, desde logo, porque, no contexto da América Latina, tem uma língua própria: a nossa língua comum. Ou seja, no essencial, o Brasil é o Brasil porque é um país lusófono. Que aja, pois, em consequência.
Com os melhores votos um excelso ano novo a todos os cidadãos lusófonos!