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Entrevista
Jerónimo atribui não de Costa a nova “geringonça” a “uma noite mal dormida”
O líder do PCP ficou “surpreendido” com a recente “crispação” de Costa no debate televisivo. Mas não leva a sério quando o socialista diz não a uma futura “geringonça”. “Esta coisa dos irrevogáveis vale tanto como coisa nenhuma.”
O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, não se arrepende de ter chumbado o último Orçamento do Estado e mantém a porta aberta ao diálogo com o PS após as legislativas de dia 30. Em entrevista, alerta ainda para os perigos de uma maioria absoluta, o risco de “impunidade”, e critica o “tacticismo” de Costa.
Esta semana, o secretário-geral do PS disse que a solução política de governo com o PCP e BE não lhe dá confiança, recusou mesmo a “geringonça”. Como responde a esta falta de confiança do PS? Num momento importante de diálogo entre nós, PS e PCP, no Orçamento do Estado verificou-se que alguma coisa tinha mudado para pior, ou seja, um fechar de portas relativamente a três questões centrais (valorização dos salários, reforço do Serviço Nacional de Saúde e revogação da caducidade colectiva) e direccionou o seu posicionamento para as eleições antecipadas.
Foi um duro golpe ouvir o que ouviu da parte de António Costa, que havia falta de confiança? Tenho a certeza que António Costa tem a consciência de que da parte do PCP sempre houve uma grande coerência, determinação e disponibilidade para contribuir para novos avanços.
Agora a proposta do PS é de 900 euros de salário mínimo nacional em 2026. Pois, veja lá! É uma forma um bocado abstrusa e torcida de empurrar com a barriga – fazer o anúncio e empurrar lá para daqui a não sei quantos anos. Não é muito credível. Naturalmente que daqui a três anos a situação será diferente.
Como vê a sugestão do programa eleitoral do PS de quatro dias semanais de trabalho? Pode ser uma armadilha: reduzir o tempo de trabalho reduzindo os salários. Inevitavelmente pode aumentar a precariedade neste quadro. O mesmo PS que propõe os quatro dias é o mesmo que votou contra a proposta do PCP de redução do horário de trabalho para as 35 horas. Em que é que ficamos?
Voltando à convergência ou à falta dela. Acha que as palavras de António Costa de que não pode haver “geringonça”, porque há falta de confiança podem ser irrevogáveis? Em relação a esse carácter de irrevogável, aquilo que gostaria de afirmar é que o PCP sempre decidiu de uma forma autónoma, independente. Criou-se uma falsa ideia de um governo de maioria, mas o que houve foram convergências num quadro bilateral.
Isso foi o passado. Para o futuro, o PCP já mostrou disponibilidade para dialogar e para conversar. Para convergir.
Não achou que Costa fechou completamente a porta? Já andamos aqui há muitos anos e sabemos que esta coisa dos irrevogáveis vale tanto como coisa nenhuma. Estamos empenhados em ser promotores dessa convergência num quadro de relações bilaterais.
Costa tem cada vez menos medo de usar a expressão “maioria absoluta”. Acha tal cenário possível ou acha um delírio? Tem havido uma evolução. Primeiro, era a ideia de que era preciso reforçar a maioria, depois era a maioria estável, duradoura, depois a maioria mais um, estou a citar António Costa e outros altos dirigentes do PS. Aquela tese de que o PCP era o culpado [pelas eleições antecipadas] durou umas horas de almoço. De facto, o PS estava determinado a eleições.
Mas é um delírio ou pode acontecer de facto? Não estou na cabeça dos eleitores, mas tendo em conta a experiência histórica, conheci várias maiorias absolutas e foram sempre um desastre para o país. Os portugueses ficaram muito escaldados com as maiorias absolutas. Deram sempre para o torto.