Um país chamado Nina Simone
A partir da biografia da pianista e cantora, David Geselson apresenta O Silêncio e o Medo no D. Maria II até 8 de Janeiro. Um espectáculo que sobrepõe a história de Simone com a dos EUA e questiona a legitimidade de um europeu poder falar disto em palco.
Quando o compositor alemão Johann Sebastian Bach nasceu em 1685, do outro lado do Atlântico os colonos europeus exploravam aproximadamente 700 mil escravos africanos na América do Norte. Passados dois séculos, seriam quatro milhões. Em 1951, aos 18 anos, quando Eunice Kathleen Waymon, acalentando o sonho de se tornar a primeira concertista clássica negra, foi rejeitada no seu exame de admissão ao Curtis Institute, desfazia-se um sonho e ruía todo um percurso que pegara numa rapariga de talento prodigioso e a encaminhara para dominar o reportório clássico e barroco. No primeiro trabalho de Eunice enquanto pianista, após a enorme desilusão sobre si despejada por uma instituição que lhe mostrara o quanto a sua porta de entrada era intransponível para quem tivesse o azar de não nascer branca, havia de tocar num bar de Atlantic City uma mistura de gospel, jazz, êxitos pop e Bach.
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