Rússia exige retirada da NATO do Leste europeu

Lista de exigências de Moscovo para o fim do clima de tensão na fronteira com a Ucrânia inclui condições vistas como “inaceitáveis” pelos Estados Unidos.

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Soldados ucranianos na província de Donetsk, no Leste da Ucrânia Reuters/OLEKSANDR KLYMENKO

O Governo russo exigiu, esta sexta-feira, a saída das tropas da NATO dos países do Leste da Europa e a promessa de que a Ucrânia não irá nunca integrar a Aliança Atlântica, numa lista de condições para o fim da escalada militar na região.

Numa primeira reacção, um porta-voz da Administração Biden, citado pela agência Reuters sob anonimato, disse que os Estados Unidos vão responder “na próxima semana” à proposta de acordo da Rússia. Mas deixou claro que as condições mais sonantes — incluindo o fim da presença da NATO em países como a Polónia, a Estónia, a Lituânia e a Letónia, e na região dos Balcãs — são “inaceitáveis”.

Ainda assim, o mesmo responsável da Administração Biden disse que os EUA “estão preparados para discutir assuntos de segurança e assuntos estratégicos com a Rússia” depois de consultarem os seus parceiros europeus.

“Não haverá nenhuma conversação sobre a segurança na Europa sem a participação dos nossos aliados e parceiros”, garantiu a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, na conferência diária desta sexta-feira.

"Sem demoras"

Do lado russo, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Riabkov, disse o Kremlin está preparado para iniciar negociações com a Casa Branca “sem demoras”.

“Podemos deslocar-nos a qualquer lugar, a qualquer hora, a partir de amanhã”, disse Riabkov, citado pelo correspondente do jornal britânico Guardian em Moscovo.

Os EUA e a NATO dizem que a Rússia está a preparar-se para lançar uma ofensiva em larga escala contra a Ucrânia, tendo actualmente cerca de 100 mil soldados na fronteira com o país vizinho. Em Kiev, o Presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, pediu à Aliança Atlântica ajuda para enfrentar um eventual ataque russo a partir de Janeiro.

Para além da saída da NATO dos países que aderiram à Aliança Atlântica a partir de 1997 (à partida, uma proposta inaceitável para a Polónia e para os países bálticos), e da concessão à Rússia do direito a vetar um futuro pedido de adesão da Ucrânia (algo que a liderança da NATO já recusou noutras ocasiões, remetendo a decisão para os membros da aliança), o Kremlin exige também o fim de exercícios militares perto das suas fronteiras — incluindo a Ucrânia, todo o Leste da Europa, o Cáucaso e a Ásia Central.

No esboço de acordo com os EUA estão também referências concretas ao armamento nuclear dos dois lados, com a Rússia a propor que nenhum míssil de curto ou longo alcance seja posicionado num local onde possa atingir o território norte-americano ou russo.

A lista, publicada no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia, é exaustiva e propõe que os dois países se abstenham de posicionar armas nucleares fora dos seus territórios. E está escrita de forma a impedir, na prática, qualquer tipo de presença ou intervenção norte-americana na Ucrânia, ao propor que os dois lados “se abstenham de enviar forças armadas e armamento para zonas onde isso poderá ser interpretado pelo outro lado como uma ameaça à sua segurança nacional”.

Na semana passada, depois de uma conversa com o Presidente russo, Vladimir Putin, o Presidente norte-americano, Joe Biden, prometeu “aplicar sanções como nunca se viram” contra a Rússia no caso de o país atacar a Ucrânia. E, na quinta-feira, os líderes da União Europeia reafirmaram que “qualquer acção militar contra a Ucrânia terá consequências maciças e acarretará um custo severo”.

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