Al Sud: uma estrela Michelin em seis meses é “talvez um recorde” e “um orgulho imenso”
Seis meses após a abertura, o novo restaurante liderado por Louis Anjos conquista a primeira estrela Michelin para Lagos. “É um orgulho imenso e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade”, diz o chef. O restaurante reabre em Fevereiro.
Quando visitámos o Al Sud em Julho, um mês depois da abertura, a ideia de conquistar já este ano uma estrela Michelin parecia “só uma utopia” para Louis Anjos. Talvez “se vier um inspector cá este ano, que sinta que há aqui matéria, algo único para que, no próximo ano ou no outro, a gente possa sonhar com isso”, apontava. Sabe-se agora que o inspector veio – e que não encontrou razões para esperar: na terça-feira, Louis Anjos foi um dos cinco chefs portugueses a subir a palco na gala ibérica do guia, em Valência, para receber a primeira estrela Michelin.
“É um orgulho imenso e, ao mesmo tempo, uma grande responsabilidade.” Ao telefone, já a partir de Portugal, Louis Anjos recorda que, “muitas vezes”, “o que é avaliado, para além da qualidade da comida, do serviço, do espaço e tudo mais, é a consistência”. Com um projecto tão recente, esse poderia ser um factor para adiar a entrega do galardão. Mas, quando Louis Anjos recebeu o convite para assistir à gala, em finais de Novembro, começou “a acreditar que ia ser mesmo possível”. “Acaba por ser talvez um recorde em Portugal.”
Localizado em Lagos, no Algarve, com vistas que se estendem da cidade algarvia à ria de Alvor e apenas 24 lugares, o Al Sud é o restaurante de fine dining do resort Palmares Ocean Living & Golf, inaugurado sete meses após o Clubhouse, no mesmo edifício, para refeições mais ligeiras e de conforto, também sob a batuta de Louis Anjos. Depois de três anos à frente do Bon Bon, que manteve a sua estrela Michelin, agora sob a liderança do chef José Lopes, Louis Anjos decidiu sair para abraçar “o desafio de fazer algo novo, de raiz” no resort Palmares. Um ano e pouco depois, seis meses de Al Sud, volta às estrelas.
“Em tão pouco tempo conseguir isso é porque realmente houve uma vontade muito grande da equipa de querer fazer mais e melhor”, destaca o chef. “É uma recompensa para toda a equipa que trabalhou de forma afincada para que isto fosse possível.” De “louvar muito”, acrescenta, relembrando que o ano arrancou com “dificuldades de preparação” das equipas e de “planear devidamente” todo o trabalho devido ao período de confinamento, restrições e incertezas provocadas pela pandemia.
Agora, estrela Michelin ao peito, nada muda. “Vai-nos é dar mais responsabilidade de fazermos mais e melhor, com a mesma filosofia e método de trabalho, porque os clientes sabem que estamos neste guia vermelho e vão ser mais exigentes, mais atentos.” O objectivo será “continuar a surpreender” e trabalhar naquilo a que chama “uma cozinha de evolução” e que parte da “mesma base” - assente “no produto local, naquilo que é o Algarve e as tradições” - para apresentar, ano após ano, “uma evolução a partir daquilo que já fazíamos”. “Um restaurante destes, estando no guia, todos os anos tem de evoluir. Isso é fundamental para o cliente e para o negócio.”
Encerrado desde finais de Novembro para férias, o Al Sud deverá reabrir no final de Fevereiro (haverá, entretanto, um jantar de fim de ano, há muito esgotado) com um novo menu, “com outras proteínas, outras surpresas, mas dentro da mesma mentalidade e filosofia”. Para já, ainda nada está delineado. “Há sempre ideias mas, neste momento, a preocupação foi ir à gala, desfrutar daquilo que é estar ali presente e agora é começar a pensar nos próximos dias o que vamos executar.”
O menu de degustação, no entanto, deverá continuar a ser composto por oito, dez ou doze momentos, com pratos que integram alguns dos melhores produtos da região, com destaque para o marisco e peixe. Daí que Louis Anjos anteveja uma subida nos preços. “É essencial continuarmos com esses produtos, porque estamos à beira-mar, mas o preço da matéria-prima, em relação a 2019, está 40% a 50% mais cara e é difícil acompanhar o preço.”