“Isto foi manipulado”: o desabafo de Lewis Hamilton após perder o título de Fórmula 1
Mensagens de rádio mostram descontentamento do piloto britânico, que perdeu campeonato mundial para Max Verstappen na última volta do Grande Prémio de Abu Dhabi.
Max Verstappen tinha acabado de ultrapassar Lewis Hamilton na última volta do derradeiro Grande Prémio da temporada de Fórmula 1. Ainda antes de cruzar a linha da meta, o britânico desabafou com Peter Bonnington, engenheiro da Mercedes, sobre a sequência de acontecimentos que, em poucos minutos, o impediram de conseguir o recorde de títulos mundiais. Numa mensagem de rádio tornada pública, o homem da Mercedes soltou toda a frustração: “Isto foi manipulado, pá.”
O final do Grande Prémio de Abu Dhabi foi impróprio para cardíacos e motivou dois protestos da Mercedes à Federação Internacional do Automóvel (FIA), entidade que gere a prova. Ambas as acções foram rejeitadas, com Max Verstappen, piloto da Red Bull Racing Honda, a ser coroado oficialmente campeão do mundo na noite de domingo.
Totto Wolff, director-executivo da Mercedes, não escondeu a irritação com Michael Masi, o responsável máximo da direcção de corrida. “Michael, não! Isso foi tão errado”, suplicou Totto na última volta. O engenheiro Peter Bonnington não sabia como consolar Lewis Hamilton, já na tradicional volta de arrefecimento: “Estou sem palavras.”
Mas o que motivou toda esta discórdia e polémica? Para analisarmos a importância deste momento, é necessário contexto. Max Verstappen e Lewis Hamilton chegaram à última corrida do campeonato, o Grande Prémio de Abu Dhabi, com o mesmo número de pontos. Uma vitória colocaria um ponto final definitivo às contas do título: para Max, o primeiro, ou o oitavo para Lewis, que bateria o recorde que detém em conjunto com Michael Schumacher e se tornaria o piloto com mais campeonatos da história.
Esta luta renhida surgiu como uma agradável surpresa para muitos aficionados deste desporto, visto que o domínio de Hamilton e da Mercedes tem sido absoluto desde 2014. Nos últimos sete anos, o título de construtores tinha ido sempre para a gigante alemã, com Hamilton a vencer por seis vezes o mundial de pilotos. Este domínio do britânico foi apenas interrompido pelo germânico Nico Rosberg, colega de equipa de Hamilton na Mercedes, na época de 2016.
A poucos minutos do final da corrida, tudo indicaria que o destino sorriria a Hamilton, que ultrapassou o rival no arranque e liderou quase toda a corrida. A cinco voltas do final, Nicholas Latifi perdeu o controlo do Williams e bateu contra as barreiras, motivando a entrada do safety car. Nesta altura, cinco outros carros (que Max se preparava para dobrar na perseguição a Hamilton) estavam entre o homem da Red Bull e o da Mercedes, uma “almofada” que beneficiava Hamilton, visto que Verstappen perderia sempre alguns segundos preciosos a ultrapassar todos estes carros.
Michael Masi, responsável pela direcção da corrida, decidiu que os cinco carros deviam permanecer no mesmo sítio, algo que entregaria praticamente o título a Hamilton. Segundos depois, ordenou que estes ultrapassassem o safety car, retirando-os da equação. Juntaram-se, assim, os dois candidatos ao título, com uma volta para correr. Mas a balança estava largamente inclinada para o lado de Verstappen, que tinha pneus macios novos. Por sua vez, o piloto da Mercedes estava com pneus duros que se aproximavam das 40 voltas.
Verstappen conseguiu ultrapassar Hamilton nessa última volta, assegurando o primeiro título de campeão mundial. Nas redes sociais, foram muitas as críticas à contradição nas decisões tomadas por Michael Masi.
Do lado da Red Bull, a noite foi de festa. A equipa austríaca não vencia um campeonato de pilotos desde 2013. Sebastian Vettel, agora na Aston Martin, venceu quatro títulos consecutivos entre 2010 e 2014.
Após a corrida, o ambiente entre Max Verstappen e Lewis Hamilton foi cordial, com ambos os pilotos a cumprimentarem-se e a trocarem elogios. O novo campeão do mundo sublinhou a luta do britânico e da Mercedes, relembrando que muitas corridas foram definidas no limite. “Lutámos um contra o outro no limite todas as vezes. Houve algumas corridas muito duras fisicamente, porque estavas a ‘todo o gás’, sem tempo para descansar, e é importante durante todo o fim-de-semana – qualificação, corrida – tentar ser perfeito, algo que é muito difícil na Fórmula 1.”
A Fórmula 1 entra agora de férias até Março de 2022. O primeiro Grande Prémio será no Bahrein, com a temporada a terminar novamente em Abu Dhabi. Ao contrário do que aconteceu nos últimos dois anos, Portimão não volta a fazer parte do calendário da Fórmula 1.