Dirk Niepoort, um homem contra a corrente

Dirk Niepoort é um grande marketeer e um homem do mundo.

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Anna Costa

Como todas as pessoas especiais, ou mesmo geniais, Dirk Niepoort não é consensual. Mas, pelo menos nas últimas décadas, dificilmente alguém fez mais pela promoção e valorização do Douro e dos seus vinhos. Tanto no país como no mercado externo.

Dirk Niepoort é um grande marketeer e um homem do mundo. Provou tudo o que havia para provar e conheceu tudo o que havia para conhecer. Só que levar o mundo a olhar para o Douro nunca foi fácil, mesmo sendo o vinho do Porto um vinho do mundo. E fazê-lo através de um novo tipo de vinho, o vinho de mesa, ainda mais. O grande mérito de Dirk, além de ter inspirado inúmeros enólogos e produtores (alguns levaram a inspiração longe de mais e perderam o norte), foi ter conseguido convencer a crítica internacional a prestar atenção aos novos vinhos tranquilos durienses, produzidos com as mesmas uvas de que eram feitos os melhores vinhos do Porto — uma das suas paixões.

Quarenta anos não é nada na história de um vinho e de uma região. Olhando para trás, até custa a acreditar que o novo vinho do Douro, o que veio acabar com a hegemonia do vinho do Porto, só tenha nascido oficialmente em 1982. O mesmo ano que pôs Bordéus e o guru Robert Parker nos píncaros e que levou o mundo, num processo de mimetização, a apostar como nunca nos vinhos encorpados e com longo estágio em barricas novas. O Douro está, pois, ainda na infância.

E, no entanto, quando pensamos em vinhos como o Pintas, o Abandonado, o Quinta do Côtto Grande Escolha, O Duas Quintas, o Quinta do Vale Meão, o Quinta da Touriga Chã, o Poeira, o Quinta do Crasto, o Quinta Vale Dona Maria, o Quinta do Vallado, o Quinta da Leda ou os Batuta e Redoma da Niepoort, imaginamo-los com muita mais história. O próprio nome Douro Boys, grupo informal que juntou Dirk Niepoort às quintas do Vallado, Vale Meão, Crasto e Vale D. Maria, parece já bastante datado. No mundo do vinho, o tempo voa.

Se há alguém que tem noção disso, é Dirk Niepoort. No seu estilo muito soixante-huitard, tem revelado grande mestria e experiência na forma de antecipar tendências e de seguir por caminhos contrários à maioria. A deriva que fez nos últimos anos em busca de vinhos com menos álcool, mais frescos e mais digestivos não caiu bem nos adeptos dos seus primeiros vinhos. Alguma crítica também continua a franzir o sobrolho perante alguns dos seus novos vinhos.

Nem tudo o que Dirk faz é imaculado. Depois de ter comprado a Niepoort à irmã e à mãe, tem uma empresa para pagar. Também se pode questionar a crítica constante que faz aos vinhos encorpados que até alguns parceiros dos Douro Boys produzem. Mas, mais uma vez e de uma forma global, Dirk parece estar do lado certo da história. Já com alguns de garrafa, vinhos como o Charme ou o Turris, olhados inicialmente com perplexidade, mostram agora toda a sua riqueza e distinção, comprovando que há espaço, e crescente mercado, para um novo tipo de vinho do Douro.

Um vinho ainda mais distante do vinho do Porto e que Dirk diz ser herdeiro do vinho de mesa do Douro de outros tempos. “O que é moda é o vinho pesadelo que se faz hoje”, gosta de dizer.

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