Sporting trocou os milhões da Champions pelo futuro
A equipa “leonina” nada leva de Amesterdão - pelo menos, desportivamente. No plano estratégico do clube, sai dos Países Baixos com as estreias de Nazinho, Gonçalo Esteves e Dário Essugo (o português mais jovem de sempre a jogar na Champions).
Quatro golos para o Ajax, dois para o Sporting. 2,8 milhões de euros para o Ajax, zero para o Sporting. Esta é a visão limitada, a curto prazo, daquilo que se passou nesta terça-feira, em Amesterdão, na última jornada da fase de grupos da Liga dos Campeões.
Quem for mais optimista e queira ver o copo meio-cheio poderá seguir a lógica veiculada por Rúben Amorim, que tinha dito que este jogo, sem relevância competitiva, seria útil para ver, avaliar e fazer crescer jogadores menos utilizados – muitos deles ainda bastante jovens.
Foi exactamente isto que se passou em Amesterdão. O Ajax surgiu com um “onze” próximo do mais forte, como prometido pelo treinador Erik ten Hag, que queria o recorde de invencibilidade e o dinheiro. Levou tudo isso.
Já o Sporting apareceu com muita juventude, também como prometido por Rúben Amorim, e pagou caro não só essa falta da tarimba, mas também – e sobretudo – a falta de rotinas num “onze” que nunca tinha jogado junto. E não levou nada – pelo menos, desportivamente. No plano estratégico do clube, sai dos Países Baixos com as estreias de Nazinho, Gonçalo Esteves e Dário Essugo (o português mais jovem de sempre a jogar na Champions).
Além dessas estreias, uma das maiores novidades, e que não foi necessariamente má, foi o Sporting não levar um claro ponta-de-lança. Apesar de ter Tiago Tomás na equipa, Amorim colocou o jogador na meia direita, tendo Tabata como “falso nove”.
E a mobilidade do brasileiro pareceu, a espaços, ter sido um factor de desnorte para a defesa do Ajax, possivelmente a contar com uma referência de apoio frontal como é Paulinho. E esteve muitas vezes desprotegida, com muito espaço entre linhas, algo que Tabata conseguiu explorar um par de vezes, apesar de desapoiado.
Golo cedo
A partida começou nos mesmos moldes do jogo da primeira volta, em Alvalade, com um golo sofrido muito cedo. Aos 7’, Daniel Bragança pisou Haller dentro da área “leonina”. Apesar de o ter feito aparentemente sem intenção, a infracção teve de ser assinalada pelo árbitro, com ajuda do VAR. Houve pontapé e golo de Haller, que marcou pela décima vez na Champions.
Na primeira parte, o Ajax foi exactamente o que costuma ser e montou um bloco muito alto de pressão. O Sporting teve dificuldades para lidar com isso e cometeu vários erros na primeira fase de construção. Foi também assim que o Ajax fez o segundo golo, aos 42’, num erro de Gonçalo Inácio, que ofereceu o golo a Antony.
Pelo meio, o Sporting empatou. E fê-lo pela única via possível: a transição. Os “leões”, muitas vezes incapazes de resistir à pressão alta dos neerlandeses, perceberam que tinham de aproveitar as vezes em que o bloco do Ajax não pressionava de forma compacta – e isso acontece muitas vezes nesta equipa.
Houve, portanto, algumas ocasiões em que o Sporting pôde atacar de frente e em velocidade a linha defensiva do Ajax, muitas vezes reduzida a três jogadores. Numa delas, chegou o golo de Nuno Santos, após cruzamento de Tabata, aos 22’. Na altura, era o 1-1.
Apesar do colorido dos golos, a primeira parte foi, globalmente, algo “morna”. As equipas, conscientes de que o jogo não tem relevância competitiva, tiveram pouca intensidade e dinâmica.
Zonas de pressão mal definidas
Colectivamente, o Sporting pareceu sofrer da falta de rotinas, algo bem visível na forma como as zonas e os momentos de pressão estavam mal definidos – havia jogadores a saírem isoladamente ao portador da bola, desequilibrando a equipa.
Mas, apesar de inferior, até foi o Sporting quem “ofereceu” os dois primeiros golos ao Ajax. E na segunda parte o terceiro. Nuno Santos escorregou e desequilibrou a equipa, que sofreu na transição. Foi David Neres quem finalizou.
É certo que a equipa nunca foi capaz de suster o Ajax, mas, em bom rigor, foram erros individuais a espoletar os primeiros golos neerlandeses. Até aos 62’. Aí, foi a qualidade do Ajax que definiu o 4-1. A jogada começou à direita, num lance em que Bragança saiu na pressão ao portador da bola, mas sem a agressividade de Matheus ou Palhinha.
Passada a pressão do médio, a equipa voltou a ficar desequilibrada e o Ajax pôde rodar de um lado ao outro, sempre com os jogadores “leoninos” atrasados – é este o problema de arriscar o desarme quando se defende à zona. A finalização foi de Berghuis.
Com 4-1, o jogo, que já estava algo “morno”, esfriou ainda mais. O Ajax já pouco queria da partida e o Sporting pouco conseguia fazer dela. Ainda houve tempo para um grande golo de Tabata, aos 78’, já com Paulinho, Pedro Gonçalves e Sarabia em campo, mas o segundo golo não mudou nada no desfecho.
O essencial foi cumprido: dar minutos aos menos utilizados, estrear alguns jovens e não sair humilhado frente a uma equipa claramente mais dotada.