Se a comunicação social “começa a morrer por falta de meios é dramático para a democracia”

O Presidente da República esteve no lançamento da terceira edição do PSuperior, uma iniciativa que faz chegar os jornais aos estudantes do ensino superior através da oferta de assinaturas digitais do PÚBLICO, financiadas por instituições e empresas. “A liberdade de imprensa tem que ser alimentada”, disse Marcelo.

marcelo-rebelo-sousa,media,educacao,sociedade,escolas,ensino-superior,
Fotogaleria
Marcelo Rebelo de Sousa falou do projecto como uma ponte necessária entre o ensino superior e uma comunicação social livre
marcelo-rebelo-sousa,media,educacao,sociedade,escolas,ensino-superior,
Fotogaleria
Para Bernardo Correia, o apoio da Google Portugal a esta iniciativa foi uma aposta numa área com retornos no futuro
marcelo-rebelo-sousa,media,educacao,sociedade,escolas,ensino-superior,
Fotogaleria
Miguel Vicente Pimentel e passou a ser leitor do PÚBLICO enquanto estudava Engenharia Espacial
marcelo-rebelo-sousa,media,educacao,sociedade,escolas,ensino-superior,
Fotogaleria
O director do PÚBLICO, Manuel Carvalho, agradeceu aos parceiros do projecto bem como o envolvimento do Presidente da República

Não houve lugar a temas da agenda política, social e sanitária, no contexto de incerteza reinante, mas o momento actual não deixou de estar presente na intervenção do Presidente da República, no lançamento da terceira edição do PSuperior, quando Marcelo Rebelo de Sousa disse que se as empresas de comunicação social “começam a morrer por falta de meios” será “verdadeiramente dramático para a liberdade de imprensa”.

A iniciativa lançada em Novembro de 2019, renovada em Novembro do ano passado, e lançada pela terceira vez esta quinta-feira, promove os hábitos de leitura de jornais entre os estudantes do ensino superior através da oferta de assinaturas digitais do PÚBLICO, financiadas por instituições e empresas.

O director do PÚBLICO, Manuel Carvalho, abriu a cerimónia que contou com a presença e os discursos de alguns dos representantes das entidades apoiantes e dos mecenas, bem como dos secretários de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, João Sobrinho Teixeira, e do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, antes da intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa.

O Presidente realçou como imprescindíveis para uma sociedade democrática, o ensino superior, por um lado, para a formação das novas gerações, e a comunicação social, por outro, para uma participação cívica sustentada numa informação de confiança.

Uma ponte e um caminho

Os desafios apresentam-se a ambos. A crise fragiliza a comunicação social e o ensino superior, mais do que o básico ou o secundário, sofre com os efeitos da pandemia. “Algumas das instituições que mais se desestruturam foram as instituições educativas do ensino superior”, porque, acrescentou Marcelo, “a falta do presencial tira a alma”.

Ao mesmo tempo que disse que a leitura de um jornal digital não substitui, no seu entender, a leitura da edição impressa, deixou um voto: “Num país centralizado, que o digital não sirva para centralizar mais.”

E colocando-se no lugar de um estudante universitário, considerou que ler jornais na universidade contribui “não apenas para a matéria do curso”. “Para a sua posição enquanto cidadão, é essencial que haja comunicação social”, esclareceu. “Este projecto é um meio de fazer a ponte entre a comunicação social e aqueles que podem mudar o futuro do país”, disse sobre o PSuperior.

Lembrou os tempos em que viveu sem liberdade de imprensa, e sugeriu que não a dá como garantida. “É preciso perceber a importância desta liberdade e cultivá-la”, disse, apelando aos poderes políticos, sociais, económicos e culturais – que “sofrem sempre” para haver escrutínio e democracia – para lhe darem valor. 

"Difícil, exigente e cara"

“Estar à altura deste desafio na comunicação social é muito caro. É de muito mérito quem investe na informação de qualidade, na aposta de médio longo prazo, e tem muito mérito quem a produz porque está numa corrida de longo prazo”, disse frente a um auditório onde se juntaram os representantes das empresas financiadoras do projecto, a administradora executiva do PÚBLICO, Cristina Soares, estudantes que beneficiaram da iniciativa e os dois governantes.

“A informação de qualidade é uma informação que é difícil, que é exigente e que é cara. Exige formação permanente e é muito exigente porque o processo acelerado exige uma grande capacidade de resposta”, disse.

“Se essas instituições começam a morrer por falta de meios com trabalhadores cada vez mais precários, que não sabem o dia de amanhã e que vivem condicionados por essa precariedade, se não há o reconhecimento e o apoio por parte daqueles que são beneficiários desse trabalho, é verdadeiramente dramático para a democracia.”

Desse modo, acrescentou, será “mais difícil a luta pela liberdade de imprensa, de comunicação, de informação”. “Esta riqueza, que é enorme, tem que ser alimentada.”

Desde 2019, as empresas parceiras pagam em média 7000 assinaturas por ano que se distribuem pelos cursos por elas seleccionados – design, direito, gestão, engenharias, medicina, entre outros. São destinadas aos estudantes finalistas de licenciatura e mestrados. Com esta terceira edição, o PÚBLICO chegará, desta forma, a cerca de 20 mil estudantes.

“Este projecto é uma prioridade para nós do ponto de vista do negócio”, disse Bernardo Correia, country manager Portugal Google, que realçou a importância do “acesso à informação de confiança”.

Hábitos de leitura

Já Miguel Vicente Pimentel, licenciado em Engenharia Aero-Espacial pelo Instituto Superior Técnico, contou como poder ler o jornal representou para ele “uma mais-valia” no momento “entre o curso e a vida profissional”.

Podia ter começado antes, não fossem “muitas vezes as mensagens de acesso restrito”. Ao não ter acesso, acabava por não ler. “Tinha pouco o hábito de ler notícias diariamente.”

A informação chegava por outras vias, como mensagens, notificações – no fundo,​ resume o licenciado de 24 anos, “em julgamentos que inundam a nossa bolha digital, distorcem a percepção da realidade e podem suscitar medo e desconfiança”. 

O jovem engenheiro deixou um apelo perante a gota num oceano que, embora meritório, este projecto representa. “Há cerca de 400 mil estudantes no ensino superior”, enquadrou, antes de dizer que também é urgente “apoiar indivíduos carenciados a ter acesso a uma informação de qualidade”.

Notícia corrigida às 19h30. Na citação de Bernardo Correia, onde estava “é uma oportunidade para nós do ponto de vista do negócio”, deve ler-se “é uma prioridade para nós do ponto de vista do negócio"

Sugerir correcção
Ler 7 comentários