“Estamos com medo!” Centenas de estudantes manifestaram-se contra assédio sexual na Universidade do Minho
Os estudantes da Universidade do Minho saíram à rua, em Braga, em protesto contra os alegados casos de assédio sexual que têm ocorrido na academia, tanto fora como dentro da instituição.
“Estamos com medo!”, “O corpo é meu, a rua é nossa” ou “Contra o assédio na academia” foram alguns dos cartazes erguidos esta quinta-feira numa manifestação, em Braga, que juntou centenas de estudantes da Universidade do Minho. Em causa estão casos de alegado assédio sexual tornados públicos nos últimos dias e que terão ocorrido nos campi e nas residências universitárias da academia minhota.
“Fui vítima de importunação sexual aqui no campus de Gualtar”, diz Cátia Almeida, uma das porta-vozes do protesto e vítima de assédio por parte de um homem que terá também importunado “várias estudantes nos últimos dez anos” junto ao complexo pedagógico 1, uma zona que tem muita vegetação.
A Universidade do Minho confirmou o caso através de um comunicado emitido esta terça-feira, no qual informa que “chegou ao seu conhecimento que terão ocorrido no campus de Gualtar actos exibicionistas e de assédio a estudantes da instituição, praticados por indivíduo(s) não identificado(s)”, adiantando que já “comunicou estes incidentes às autoridades”.
Entretanto, como medida preventiva, a academia minhota revelou que procedeu ao “reforço da segurança” através do “corte de vegetação nos espaços de Gualtar” e da “melhoria da iluminação nas áreas exteriores do campus”.
A denúncia de Cátia juntou-se a uma outra, referente a um porteiro da residência universitária Prof. Carlos Lloyd, acusado por uma aluna de comportamentos e comentários impróprios.
A aluna remeteu a queixa para os Serviços de Acção Social da Universidade do Minho mas só obteve resposta cinco meses depois. Na terça-feira, o reitor da academia minhota, Rui Vieira de Castro, reconheceu que “não deveria ter acontecido [o atraso]” e que o caso “devia ter sido objecto de correcção imediata”.
Mais tarde, a própria universidade emitiu um comunicado no qual informou que foi “determinada a mudança do trabalhador em causa para funções sem contacto directo com estudantes ou com o público” enquanto decorre um “processo de averiguação”.
Os casos no campus de Gualtar e na residência Lloyd começaram a circular nas redes sociais e espoletaram a criação de uma página de Instagram, na qual foram já publicadas centenas de denúncias sobre casos de assédio.
“A partir da segunda denúncia, percebemos que não eram casos isolados. Tínhamos de fazer alguma coisa”, refere Cátia. “Aconteceu-me a certa altura estar numa aula de Sistemas de Computação e o professor olha por baixo das mesas com o propósito de nos ver de saia. Por vezes, até piropos mandava”, é uma das várias publicações da página, a qual apresenta casos, alguns com mais de dez anos, de vítimas de assédio por parte de funcionários e anónimos mas também de estudantes e professores.
A exposição pública permitiu perceber que “isto abrange uma coisa muito maior do que alguma vez pensávamos”, diz Raquel Brandão, outro dos rostos da manifestação, que lembra que as vítimas não são apenas raparigas mas também rapazes. “Há relatos de assédio a rapazes por parte de professoras”, revela.
Junto à estátua do Prometeu do campus de Gualtar, foi Cátia quem leu o manifesto elaborado pelos estudantes e que mais tarde foi entregue na reitoria, no largo do Paço.
O documento exige que “docentes e funcionários da Universidade tenham formações de prevenção e combate ao assédio”, a “criação de campanhas de sensibilização” e que “as denúncias de assédio possam ser dirigidas a um gabinete independente” que “deve ter a capacidade de dar opções de acompanhamento e apoio psicológico, gratuito, às vítimas”.
Depois de lido o manifesto, os estudantes iniciaram um percurso de mais de três de quilómetros, entre o campus de Gualtar e o largo do Paço. Enquanto caminhava, Carolina Bingre, de 20 anos, relatou o seu caso e disse que foi “perseguida, à noite, desde o campus de Gualtar até casa por quatro indivíduos”. Não apresentou queixa porque “não tinha como os identificar”, lamenta.
No final do protesto, e já na reitoria, os estudantes foram convidados a entregar o manifesto em mão ao vice-reitor Eugénio Campos Ferreira, mas rejeitaram o repto, esperando nova posição pública da Universidade do Minho.