Irão apresenta propostas de acordo para desbloquear negociações sobre programa nuclear
Conversações recomeçaram esta semana em Viena. Israel pede aos EUA que travem as tentativas de relançar o pacto internacional, tendo em conta os progressos iranianos nas suas actividades de enriquecimento de urânio.
O Irão entregou aos países europeus envolvidos nas negociações para reavivar o pacto internacional sobre o seu programa nuclear dois rascunhos de acordo onde se detalham os passos para levantar as sanções dos Estados Unidos contra Teerão e o regresso dos iranianos aos seus compromissos. Ao quarto dia da nova ronda de discussões indirectas entre Washington e Teerão, Israel apelou às potências para travarem de imediato estas negociações, tendo em conta o anúncio de que o Irão começou a enriquecer urânio com centrifugadoras mais avançadas.
As conversações que recomeçaram na segunda-feira em Viena foram apresentadas como a última hipótese de impedir que o acordo assinado em 2015, mas rejeitado pelos EUA três anos depois, seja enterrado de vez. As primeiras seis rondas negociais decorreram entre Abril e Junho, mas foram suspensas por causa da eleição do novo Presidente iraniano, o ultraconservador Ebrahim Raisi.
“Apresentámos-lhes duas propostas de rascunho… Claro que eles precisam de verificar os textos que submetemos. Se estiverem prontos para continuar as conversações, nós estamos em Viena para isso”, disse aos jornalistas na capital austríaca o principal negociador iraniano, Ali Bagheri Kani. Um diplomata europeu ouvido pela agência Reuters confirmou que os iranianos distribuíram as duas versões de acordo.
O grande obstáculo a um entendimento nas negociações para relançar o pacto tem passado por definir o que é que deve acontecer primeiro, o levantamento das sanções ou o recuo nas suas actividades nucleares. Assinado em 2015 entre o Irão e o grupo dos 5+1 (os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU – EUA, China, Rússia, Reino Unido e França – mais a Alemanha), o acordo histórico permitiu pôr fim a 12 anos de crise permanente entre o regime iraniano e os países ocidentais, introduzindo limites ao programa iraniano e um sistema de monitorização das suas actividades. Nas actuais negociações, a União Europeia tem mediado os contactos entre Washington e Teerão.
Desde o abandono unilateral norte-americano, em 2018, o Irão confirmou a sua retirada de alguns dos pontos do acordo e está desde Abril a enriquecer urânio com uma pureza de 60%, a maior de sempre, quando o pacto internacional lhe impõe o limite de 3,67%. Teerão quase duplicou, entretanto, a quantidade de urânio enriquecido armazenada. Segundo anunciou na quarta-feira a Agência Internacional de Energia Atómica, o Irão começou a enriquecer urânio com uma pureza de até 20% com uma cascata de 166 centrifugadoras IR-6 na central de Fordow, um complexo subterrâneo.
“O Irão está a fazer chantagem nuclear como táctica de negociação, e isso deveria provocar a paragem imediata nas negociações e a adopção de medidas duras por parte das potências mundiais”, afirmou esta quinta-feira o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, num telefonema com o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken.
De acordo com o Governo de Israel, Bennett disse ainda a Blinken que se opõe ao levantamento de quaisquer sanções ao Irão, particularmente no âmbito de um acordo interino, avisando que isso significaria “um enorme fluxo de fundos para o regime iraniano”.
Segundo o acordo de 2015, nenhum enriquecimento de urânio deveria acontecer em Fordow. Até agora, Teerão estava a enriquecer urânio nesta central com centrifugadoras IR-1, tendo enriquecido algum com centrifugadoras IR-6 mas sem nunca o armazenar.