Covid-19. Crianças abaixo dos nove anos são o grupo etário com maior incidência

A incidência da covid-19 aumentou e tem “tendência crescente”, encontrando-se concentrada na população mais jovem.

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MARTIN HENRIK

Portugal encontra-se na “quinta fase pandémica”, que está a ter um menor impacto na mortalidade e nas hospitalizações do que as anteriores, disse Pedro Pinto Leite, da Direcção-Geral da Saúde, esta sexta-feira, na reunião entre peritos e políticos no Infarmed para analisar a evolução da pandemia.

A incidência da covid-19 aumentou e tem “tendência crescente”, encontrando-se concentrada na população mais jovem: o grupo etário com maior incidência é o abaixo dos nove anos, que não foi vacinado. Segue-se a população dos 20 aos 39 anos. Todos os grupos etários têm uma tendência crescente, menos o acima dos 80 anos.

Após mostrar que a vacinação contribuiu para evitar 2300 mortes e 200 mil casos desde Maio, o epidemiologista Henrique Barros não tem dúvidas: “É lícito dizer que a vacinação é a nossa medida fundamental de protecção. É muito importante vacinar as crianças e quando as vacinas estiverem inequivocamente aprovadas, a vacinação das crianças seguramente é uma prioridade. Como é prioridade reforçar a vacinação das pessoas à medida que o tempo vai passando.”

Pedro Pinto Leite sugere que a estabilização do número de casos na população acima dos 80 anos pode ser já um reflexo da administração das doses de reforço da vacina

O especialista apresentou outras características da nova vaga da pandemia:

  • Não existe uma grande diferença de novos casos entre o sexo masculino e feminino, mas esta diferença tem vindo a aumentar ligeiramente ainda que muito particularmente em alguns grupos etários, como o dos 20 aos 29 anos;
  • É na região do Algarve onde a incidência é mais elevada, seguida da região Centro e da Madeira, todas acima de 240 casos por 100 mil habitantes;
  • Lisboa e Vale do Tejo, Algarve, Norte e Açores têm uma incidência menor do que a média nacional. Todas as regiões apresentam uma tendência crescente na incidência, com variações superiores a 10%.

“Tivemos quatro grandes fases pandémicas e Portugal encontra-se na quinta fase pandémica, até ao momento com impacto na gravidade e mortalidade inferior a fases anteriores, ainda que mereça alguma atenção especial. Encontramo-nos com 203 casos por 100 mil habitantes, com uma tendência crescente e com uma variação de mais de 47% relativamente ao período homólogo”, disse. 

O especialista avançou que foram feitos 267 mil testes à covid-19 na última semana, um número superior às últimas três semanas. Há um aumento da taxa de positividade (número de casos positivos dentro do total de testes feitos) que está acima do valor de referência do ECDC de 4%.

Quem está internado com covid-19? Continua a ser a população acima dos 60 anos

O especialista da DGS explicou que se tem observado um aumento do número total de doentes internados, com 523 casos internados nos hospitais à data de ontem, o que corresponde a mais 37% do que no mês passado. Existiam 72 casos em unidades de cuidados intensivos (variação de mais 12%).

Quem está internado com covid-19 neste momento? O especialista avança que continuam a ser sobretudo pessoas dos grupos etários entre os 60 e os 79 anos, seguidos do grupo acima dos 80 anos. “Temos observado uma ligeira subida do grupo etário entre os 40 e os 60 anos”, diz.

Nos cuidados intensivos tem sido observada uma estabilização em todos os grupos etários, à excepção do grupo dos 60 e 70 anos, em que se observa um ligeiro crescimento nas últimas semanas.

Como está cada região do país em termos de casos e internamentos?

O perito da DGS prosseguiu com uma caracterização dos casos e do estado das unidades de internamento em cada região. 

A região Norte tem uma incidência abaixo da nacional. Os casos detectados são sobretudo nos grupos etários abaixo dos 19 anos. “É encontrada uma ligação epidemiológica em 80% dos casos. Nos casos associados a surtos, cerca de 70% são associados a um contexto de escolas e universidades, seguido do contexto de empresa ou laboral. Esta região encontra-se a 29% do nível de alerta para cuidados intensivos. 

No Centro, é na faixa etária da maior parte dos casos é a dos 0 aos 9 anos, seguida dos 20 aos 29 e 30 aos 39 anos. Apesar de os grupos etários dos acima dos 60 anos serem os que têm menores incidências, estes valores encontram-se acima dos 120 casos por 100 mil habitantes e “terão o seu efeito nos internamentos”. Encontra-se uma ligação epidemiológica em 61% e os principais surtos estão nas escolas e universidade, mas também nas Estruturas Residenciais para Idosos (ERPI) e nas IPSS. Esta região encontra-se a 62% do nível de alerta para cuidados intensivos. É a região com o maior nível de alerta em relação às UCI.

Em Lisboa e Vale do Tejo, a incidência é elevada no grupo dos 0 aos 9 anos, dos 20 aos 29 e dos 30 aos 39. Encontra-se uma ligação epidemiológica em 63% dos casos e os principais surtos estão em contexto escolar e universitário, de ERPI e IPSS e de empresas. Esta região encontra-se a 20% do nível de alerta para cuidados intensivos.

No Alentejo, a incidência é muito superior às restantes no grupo etário dos 0 aos 9 anos, seguido dos grupos dos 20 aos 29 e dos 30 aos 39 anos. As incidências dos grupos etários mais velhos encontram-se abaixo do limiar dos 120 casos por 100 mil habitantes. Há uma ligação epidemiológica em 85% dos casos e os principais surtos estão em contexto de escolas, universidade e contexto laboral/empresa. Esta região encontra-se a 10% do nível de alerta para cuidados intensivos. 

No Algarve, o panorama é diferente das restantes regiões. O principal grupo etário com elevada incidência é o dos 30 aos 39 anos, segue-se o dos 50 aos 59 anos e 60 aos 69 anos. É a região com a incidência mais elevada do país. Encontra-se uma ligação epidemiológica em 65% dos casos e os principais contextos de surtos são as escolas, universidades, o contexto familiar e de festas. Esta região encontra-se a 26% do nível de alerta para cuidados intensivos. Nesta região, poderá haver transmissão comunitária da nova variante AY.4.2, uma sublinhagem da variante Delta. É uma região que foi pouco afectada no passado e essa pode ser uma explicação para encontrarmos agora um aumento da incidência nos grupos mais velhos”, disse o especialista. 

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