As águas frias da Nazaré “que tanto me enchem o coração”
“Na rua vemos os artesãos a vender miniaturas de barcos de pesca em madeira e as nazarenas com as suas sete saias”. Um destino de eleição da leitora Margarida Ribeiro.
Acordo e sinto o cheiro a maresia. Os barcos atracam no porto e, de lá, os peixes vão directos para o mercado local para servirem de refeição a muitos dos residentes e turistas da região. Entre as estreitas ruas, pela hora do almoço, já cheira a peixe grelhado nos vários restaurantes locais.
Com o sol e temperaturas amenas, a praia enche-se. Durante a tarde, os doces da antiga Pastelaria Batel são vendidos na praia, a famosa caixa verde, que as nazarenas carregam em cima da cabeça, adoça a tarde dos que pretendem apanhar sol e ondas.
A Nazaré é o local de eleição de todos os surfistas, conhecida pelas suas grandes ondas que rebentam junto ao areal. Do paredão observamos a formação das ondas e, seguidamente, a voz de quem tenta molhar os pés e sente a água fria a chegar.
Na rua vemos os artesãos a vender miniaturas de barcos de pesca em madeira e as nazarenas com as suas sete saias a vender o peixe e os petiscos nas pequenas bancas junto à areia. Compro um saco de frutos secos e continuo o meu caminho com destino ao Sítio da Nazaré. Para lá chegarmos, podemos ir de ascensor; no entanto, quem quiser praticar exercício físico pode optar por uma caminhada na falésia e ver a lindíssima vista desta cidade, o que optei por fazer. No cimo do Sítio somos atropelados por dezenas de turistas que desejam tirar fotos no Miradouro do Suberco, lugar associado ao Milagre da Nazaré. Segundo a lenda, um cavaleiro antigo, no século XII, ao aperceber-se de que iria cair, invocou a Nossa Senhora da Nazaré, que o salvou. Como forma de agradecimento, construiu ali uma pequena capela, a Ermida da Memória, a qual fui visitar.
Prolongo a minha visita e quase que avisto o Canhão da Nazaré, o maior da Europa e um dos maiores do mundo. Daqui vemos a praia do Norte e os seus surfistas. O Canhão é o principal motivo da formação das ondas gigantes, fenómeno por que a cidade é conhecida. Encostada às paredes do Forte de São Miguel Arcanjo, consigo ver os surfistas, os vendedores ambulantes, as capelas e os corajosos que se banham nestas águas frias.
Desço do Sítio e, ao dirigir-me à praia, fico mergulhada em aromas dos crepes, feitos há muitos anos pelo mesmo senhor, o “Senhor dos Crepes”, que desde pequena me delicia com os seus maravilhosos crepes quentinhos e feitos na hora. Ainda com um bocadinho de chocolate ao canto da boca, vou para a praia e, pelo caminho, ouço as nazarenas a dizer que esta “paleca” já cá pertence, e mergulho nestas águas que tanto me enchem o coração.
Margarida Ribeiro