Como impor uma remodelação
Se o PS sair vitorioso, António Costa vai acabar por fazer a remodelação que a esquerda, a direita e Belém lhe vinham impondo.
Dois artigos publicados nesta segunda-feira confirmam o que já sabíamos: António Costa é avesso a fazer remodelações no Governo — na realidade talvez nenhum primeiro-ministro goste de as fazer — e, por isso, a taxa de renovação da sua equipa, em seis anos, não é muito elevada. Dá-se o caso de 22 das pessoas que o chefe do executivo escolheu para integrarem a sua equipa em 2015 ainda fazerem parte dela, seis anos depois. É preciso dizer que algumas chegaram até aqui apesar dos intensos pedidos da oposição no sentido da sua demissão ou remodelação. É o caso de Eduardo Cabrita ou Francisca Van Dunem, dois dos ministros mais atacados pelo PSD, CDS, IL e Chega. Mas há outros.
Embora desde o Verão se fale na mudança de algumas peças de um Governo que surgia fragilizado aos olhos da opinião pública e publicada, fruto de meses intensos de combate à pandemia, mas também por polémicas desnecessárias, e apesar de circularem alguns nomes, o primeiro-ministro conseguiu acabar o semestre de presidência portuguesa do Conselho da União Europeia sem fazer uma remodelação na equipa. Mas ela estava na sua mente. António Costa previa fazê-la depois de o Orçamento do Estado para 2022 ser aprovado no Parlamento, e acreditava que o actual Governo tinha ainda mais um fôlego para ultrapassar este obstáculo — o que não aconteceu.
Sabemos agora que António Costa, se ganhar as eleições e quiser dar sinais de renovação, será obrigado pelas circunstâncias a fazer as mudanças no Governo que rejeitava fazer quando a oposição o pressionava nesse sentido. A oposição e também o Presidente da República, que deixou várias vezes pistas sobre qual era a avaliação que fazia da actuação de pelo menos um membro do executivo. Se o PS sair vitorioso, António Costa vai acabar por fazer a remodelação que a esquerda, a direita e Belém lhe vinham impondo.
Pelas informações que temos, fará um executivo mais curto, sem gorduras, dispensando algumas pessoas e áreas em que já não é preciso apostar. Se vier a formar Governo — porque a ida a eleições, mesmo se desejada, é sempre um risco e as sondagens divulgadas têm ainda um elevado grau de prematuridade — a nova orgânica logo nos dará algumas pistas sobre as prioridades dos próximos tempos e as figuras que, depois desta fase, podem ou não ter ambição no PS. Porque a mudança que se prevê será sempre mais do que uma simples remodelação. Circunstância oblige.