Astrónomos detectam buraco negro fora da Via Láctea a partir de movimento de estrela

Forma como foi detectado o buraco negro “pode ser crucial” para identificar outros buracos negros que estejam “escondidos” na Via Láctea e em galáxias próximas.

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Imagem artística do buraco negro no NGC 1850 a distorcer a sua estrela companheira ESO

Uma equipa internacional de astrónomos descobriu um pequeno buraco negro fora da Via Láctea ao detectar pela primeira vez como este corpo celeste influencia o movimento de uma estrela na sua vizinhança, divulgou esta quinta-feira o Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês). O buraco negro, que por definição é um corpo denso e escuro de onde nada escapa, nem mesmo a luz, situa-se no enxame de estrelas NGC 1850, localizado a cerca de 160 mil anos-luz da Grande Nuvem de Magalhães, uma galáxia vizinha da Via Láctea.

Para a equipa que fez a descoberta, a forma como foi detectado o buraco negro “pode ser crucial” para identificar outros buracos negros que estejam “escondidos” na Via Láctea e em galáxias próximas, bem como para dar pistas sobre como se formam e evoluem, refere em comunicado o ESO, cujo espectroscópio MUSE do telescópio VLT (Very Large Telescope), no Chile, permitiu fazer as observações.

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O NGC 1850 observado com o Very Large Telescope e o Hubble ESO

“Cada detecção que fizermos será importante para compreendermos melhor os enxames estelares e os buracos negros que aí se encontram”, afirma, no comunicado, um dos co-autores do estudo, Mark Gieles, da Universidade de Barcelona, em Espanha. O buraco negro em causa tem cerca de 11 vezes a massa do Sol, tendo os astrónomos chegado até ele através da influência gravitacional que exerce numa estrela com cinco massas solares que o orbita. O enxame estelar onde foi detectado é jovem, tem cerca de 100 milhões de anos.

Ao comparar este buraco negro com buracos negros maiores e mais velhos, situados em enxames estelares mais velhos, os astrónomos poderão entender como é que estes corpos crescem, “alimentando-se” de estrelas ou fundindo-se com outros buracos negros, realça o ESO, organização astronómica da qual Portugal faz parte, acrescentando que “mapear a demografia de buracos negros em enxames estelares melhorará a compreensão da origem de fontes de ondas gravitacionais”.

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A Grande Nuvem de Magalhães observada pelo VISTA ESO

Os astrónomos esperam descobrir mais buracos negros “escondidos” com o futuro telescópio ELT (Extremely Large Telescope), em construção no Chile com o envolvimento de ciência e tecnologia portuguesas, e que será o maior telescópio ótico do mundo. “O ELT irá revolucionar definitivamente esta área de estudo, já que conseguiremos observar estrelas consideravelmente mais ténues no mesmo campo de visão, assim como procurar buracos negros em enxames globulares [aglomerados de milhares de estrelas] muito mais distantes”, sustenta a líder do estudo, Sara Saracino, do Instituto de Investigação Astrofísica da Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido.

O estudo, que recorreu ainda a dados do projecto Experiência de Lentes Gravitacionais Ópticas da Universidade de Varsóvia, na Polónia, e do telescópio espacial Hubble para medir a massa do buraco negro no enxame estelar NGC 1850, foi publicado na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.